VINTE E CINCO | O RETORNO DO ALGOZ

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        Não tens honra, a presença enunciou.

        Você não lutava ao meu lado?, Malya inquiriu mentalmente. Não me dominou nas derradeiras batalhas, para que eu vencesse?

       És minha hospedeira, luto pela minha própria sobrevivência, devolveu.

       Os heróis da jornada sentiam pena da vida de sua companheira, ela nunca falara de sua infância durante as conversas na fogueira. Parecia que sua vida começara após ser resgatada pelas Feiticeiras, sobre quem seus relatos também eram bem restritos.

      — Não me responsabilizo por tudo que você é hoje, quando lhe conheci já era uma ladrazinha. Apenas maximizei seu potencial. Deveria se sentir honrada por ter sido meu receptáculo. – prosseguiu confiante, divertindo-se com as reações dos outros.

       — Receptáculo para quê? – Skadi não podia conter seu faro de investigador, nem mesmo naquela situação.

       Para mim, a voz ecoou na mente da morena.

       — Isso não importa. – Arden rugiu firme. – Não nos importa o passado de Malya, caminhamos com ela no presente. – olhou firme para o mercenário, desafiando-o.

        Zaire sentiu inveja da atitude do príncipe, queria ter a coragem para falar tão severamente como ele. Defender a celosiana sem titubear, afinal ele sentia algo além de amizade por ela. Evidentemente, a determinação do príncipe revelara que ele não era o único.

        — Vejo que amizade não foi a única coisa que conquistou. Que terna essa sua brincadeira de se fingir de humana. – instigava o bruxo.

       A última frase fez com que os amigos da celosiana relutassem um pouco, o mercenário questionava a natureza humana de Malya. Obviamente, depois de tantos episódios estranhos que a morena protagonizara eles tinham desenvolvido diversas confabulações, mas nunca nada tão radical como o bruxo propunha.

      — No entanto, devo retornar a dúvida da jovem ivoriana. Sua companheira de viagem foi por muito tempo um receptáculo para magi... – ele se deleitava com as palavras, tinha prazer em ver as conexões afetiva de sua antiga criada tremularem em dúvida.

      — Eu disse já chega. – Malya tirou o cajado do manto.

      Se por um lado ela queria a verdade, em outro extremo ela temia as consequências da concretização desse desejo. De modo que para ela, nessas circunstâncias era melhor continuar cega, quanto sua própria natureza.

      — Você avança cada vez mais para as sombras, menina. – ficou satisfeito com a arma que a outra usava. – Onde conseguiu tal arma? Roubou como fez com todas as suas outras coisas...

        Malya segurou na outra mão um de suas espadas, sentia um equilíbrio ao empunhar ambas as armas. Ainda que a primeira não lhe fosse de inteiro domínio.

       — Conquistei-a por direito. Muito em breve, vai conhecer a antiga dona dele. – utilizou toda presunção que possuía para falar aquilo.

       Lappam também retirou um cajado, uma peça conhecida aos olhos da celosiana. Um arrepio percorreu sua espinha.

      — Você tem a presunção de uma heroína, mas não passa de uma assassina impura. – devolveu.

     Assassina impura, repetiu a presença.

    A frase foi um golpe para todos. Não entendiam o que ele estava insinuando integralmente, era claro que ele revelava as verdades aos pedaços. Plantando a discórdia nos corações deles, sabendo as consequências que isso levaria. Malya podia vencê-lo, mas o estrago já estava feito. A confiança conquistada por ela murchou um pouco, dando lugar a cólera e ódio. Devia matar Lappam, precisava disso.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now