___ Eu não duvido disso, Cathy, mas você está de branco e vai se sujar toda e eu já estou quase terminando! — ele recusou a ajuda dela, cavalheiro — E, pelo amor de Deus, não vá achar que eu sou mais um entusiasta da sociedade patriarcalista, mas, uma mulher de vestido é pra ser admirada, não explorada! — enviou-lhe uma piscadela, agarrando mais uma das caixas.

Cathy apenas sorriu, sentindo-se, sim, provocada, ainda que de uma forma tão natural e divertida, que não a permitisse desgostar do olhar, levemente malicioso, que ele lhe enviou com aquela piscadela.

Então, ela apenas esperou, parada próxima a parede, que ele carregasse o carro, como quem parecia não estar fazendo esforço nenhum, pra carregar todo aquele peso.

Os "motivos" da amiga ainda pairavam no seu pensamento, e ela observou, sorrateiramente, os músculos bem definidos dele, aparentes na camiseta regata que ele vestia e que, naquele momento, haviam terminado seu trabalho.

___ Vamos, então?

___ Claro se deixarmos a cerveja esquentar estaremos cometendo o pior dos crimes contra o Cenourão! — ela exclamou, indo entrar na caminhonete mais uma vez.

Retornaram ao prédio pela orla da praia, um CD da Legião Urbana tocando no rádio do carro, um dos últimos shows ao vivo da banda, e eles se sentiam muito animados, comentando sobre como ambos tinham desejado ir aquele show, feito naquela cidade, mas, por motivos diversos, nenhum dos dois tinha conseguido.

___ Então, você só tem vinte e três anos? – Eros perguntou, quando ela disse que ainda era menor de idade quando o tal show tinha acontecido.

___ Quase vinte e quatro, faço aniversário em menos de um mês.

Ele sorriu, sem dizer nada e com isso, despertou a aguçada curiosidade dela.

___ Que houve? Por que você disse "só vinte e três"? Será que eu estou aparentando tanta idade assim?

Eros percebeu que ela estava brincando, então, começou a rir.

___ Não, claro que não! — esclareceu — Mas é que lendo as suas matérias, percebendo sua maturidade profissional, eu julgava que a tal Cathy Batista que derrubou o prefeito de Baía dos Santos fosse um pouco mais velha.

Ela sorriu, sabia que tinha ganhado fama com sua primeira matéria investigativa, publicada há pouco mais de um ano.

___ Se safando de uma gafe com um elogio, que coisa feia! — ela continuou brincando e sentindo-se bastante a vontade, decidiu perguntar — O Martim disse que você é um fotógrafo bastante experiente, mas olhando pra você, não vejo como pode ter assim tantos anos de experiência!

___ Eu comecei a trabalhar bem cedo. — ele esclareceu — Mas como freelancer, claro, emprego mesmo só consegui quando tinha a sua idade. Trabalhei quatro anos com ele na Player, cobrindo eventos esportivos.

Foi a vez de Cathy fazer as contas mentalmente. Ele devia ter uns vinte e nove, trinta anos.

___ Nossa, quatro anos aguentando o Martim, sério? — ela riu — Não, sério agora, acho que nós somos privilegiados, isso sim! Ter o Martim como chefe no primeiro emprego é tudo, não é mesmo? — perguntou, cúmplice dele em mais aquela coincidência.

___ Ele é bastante exigente é verdade, mas com sua extroversão maluca, acaba fazendo a gente se sentir muito a vontade, e sempre consegue nos estimular da forma certa! — ele perguntou, vendo-a encostar a cabeça no banco, os olhos se fechando, como se estivesse refletindo profundamente sobre alguma coisa.

___ É, acho que não há outro editor na cidade que consiga publicar tantos assuntos diversos, sob a mesma ótica inteligente e bem humorada! — ela respondeu, sem abrir os olhos.

Desde o Princípio - Livro 1 - Passado no PresenteWhere stories live. Discover now