— Cordeirinho. – era Lappam. – Saia, vamos brincar. – a voz grave pediu.

     Malya apertou os olhos, tentava se convencer de aquilo era apenas um pesadelo. Um encantamento que o afanador lhe lançou, mas a informação parecia flutuar e se desfazer dos pensamentos dela. A caixa se abriu, a celosiana tinha sete anos outra vez.

     Estava parada no quarto de Lappam, o abrigo no qual vivia fora fechado. Agora era uma escrava, uma serva de um dos mercenários do deserto.

     Lappam folheava um livro, sua tenda estava iluminada por velas, havia caixotes sendo utilizados como estantes. Muitos frascos estranhos ficavam no lugar, coisas que Malya não conseguia identificar e nem queria. Já vivia assustada demais para descobrir qualquer outra coisa.

      — O que faremos hoje? – o mercenário saboreava as palavras. – Hum... Chame nosso amigo.

     A menina chorava, negando com a cabeça. Não queria a sensação de novo.

     — Chame-o! – sacudia os ombros frágeis da criança.

      A sensação crescia dentro dela, as sombras se esgueiravam em sua alma. Sentia as membranas negras cobrirem suas íris, seus músculos não respondiam aos seus chamados e uma névoa densa penetrava seus pensamentos de forma irredutível.

      Eu estou aqui, estarei sempre aqui. – a voz amedrontadora prometia.

     Agora estava na caverna das feiticeiras, o último cenário se dissipou como fumaça. Hayat segurava sua mão, mostrando o lugar que moraria a partir daquele dia. As outras feiticeiras lançavam olhares gentis para jovem que chegava, tinha catorze anos e muita desconfiança.

       — Está tudo bem, ficará segura agora. – Hayat declarou. – Sente-se, Samosh vai fazer algo para você comer. – puxou a cadeira para ela.

     Não pareciam mais pesadelos, mas memórias de sua estada na caverna. Tudo parecia rebobinar das suas lembranças.

      — Mais uma vez. – Safi ordenou.

    Estavam num dos cânions do deserto, segurava duas espadas de madeira e um fantoche se esgueirava contra ela. Era um dos dias de treinamento.

     — Preste atenção Malya, feche a guarda. – a feiticeira rugiu. – Precisa aprender a se proteger.

    O fantoche de feno se impunha contra ela, pressionando-a contra a parede rochosa.  Malya tentava apunhalar os braços da ferramenta de treinamento, mas a criatura caiu sobre ela deixando sua visão escura.

     — Esta é a erva de fanae, muito boa para feitiços de purificação. Anote. – Ramla deu-lhe um tapinha nas costas.
  
     A moça anotou em um bloco de papel, com um lápis escuro. Tão escuro que tomou sua visão.

      — Repita devagar, sinta as palavras. – Nora tocou sua mão.

     Olhavam para uma porta trancada com inúmeros cadeados, a feiticeira empreitava ensinar alguns encantamentos para a menina.

      —  almamaru. – disse sem ambição.

     — Precisa acreditar, Malya. – Hayat surgira na sala. – Precisa acreditar que é capaz de abrir os cadeados.

    — Não sou um Feiticeira, me dou melhor com as espadas. – reclamou frustrada.

     — Deve aprender todos os modos possíveis de se proteger. – a feiticeira tocou no colar que a menina carregava no colo.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioМесто, где живут истории. Откройте их для себя