Aquilo era completamente inapropriado, não podia ceder aquela sugestão.

      — O que sugeres, então? – ainda sorria.

     — Isso que carrego dentro de mim se alimenta minha raiva, smaragdino. É por isso que você foi um alvo. Não me provoque. – retaliou.

     — Não me convenceste, ficará na minha tenda. Vá quando todos tiverem se deitado, assim não farão perguntas. Se não fores, falarei para todos. – comunicou, saindo da clareira.

      Malya o xingava dos piores nomes, ofegava com o estresse enfrentado. Ainda assim, estava um pouco aliviada de não ser exposta para todos. No fim das contas, dormir na mesma tenda que o smaragdino não seria tão ruim.

      — Arden, o ardente. – Halina debochou ao ver irmão retornar para acampamento.

     — Saíste da tenda, enfim. – emitiu, vendo a irmã às margens da fogueira.

    — Sim, preciso me concentrar na missão. – ela tomava uma sopa.

    A celosiana cruzou a área, indo diretamente para sua barraca. Já tinha se recuperado do interrogatório, caminhava a passos firmes.

     — Gostas dela, não é? – riu a princesa.

    — Ela bonita. Só isso. – pegou uma tigela de sopa para si.

     — Pobre Kelaya, amarrada a um deturpado como tu. – proferiu.

    — Não aja como se gostasse dela. – devolveu o irmão.

     Skadi estava calado perto da fogueira, seu familiar continuava perto dele sob um acordo taciturno. Ele pensava nas palavras do Mago, tentava compreender o sentido das coisas ditas. Recusava-se a acreditar que aquilo que o fizera ser o mais frágil de toda Ivory seria uma vantagem.

     — Humanidade. – sussurrou para si mesmo. – Sentir. – inconformado.

     — Sopa. Tome sopa. – o palladiano surgiu lhe dando uma tigela, mastigava animado. Aceitara as palavras do Mago com ternura.

    — As coisas ditas pelo mago...

    — Certeiras. – interrompeu, dando uma mordida no pão.

   — Mas elas vão de encontro com o que foi me ensinado. – franziu o cenho.

     — Acha isso ruim? – questionou manso. – Escute, meu amigo. Admiro muito os ivorianos pelos seus saberes técnicos e científicos, mas nós – apontou para o peito do outro. – somos mais que probabilidades. Temos o direito de ser.

     Kale deu sorriso largo, dando palminhas nas costas do ivoriano que ainda refletia. Quando terminaram de comer, Arden organizou as vigílias, só os Lectus eram poupados das rotas noturnas. Os soldados e até mesmo o príncipe tinham que garantir a proteção dos outros, afinal a salvação de Lucem estava nas mãos deles.

     No instante em que o silêncio pairou no acampamento, Malya saiu relutante de sua cabana, carregando apenas a sacola e sua capa. Seus passos eram cautelosos para que ninguém se acordasse, não queria precisar explicar o que estava fazendo.

      — O que está fazendo? – Zaire surgiu assim que a mulher pôs a mão na entrada da tenda.

     — Zaire, eu...

     — Está tendo algo com o smaragdino? – travou o maxilar.

     — Não! — negou estoicamente.

    — Então por que está entrando na tenda dele? – indagou cismado.

    — Zaire, eu não posso dizer. – baixou os olhos.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioDonde viven las historias. Descúbrelo ahora