CINCO | A JORNADA

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      Malya puxou as mangas das blusas que usava, vestia várias camadas de roupas para se proteger do Sol escaldante. Arregalou os olhos assustada ao se deparar com tatuagens densamente detalhadas em seus dois antebraços. Os desenhos se apagavam aos poucos.

      — Impossível. – falou em negação.

      — Ah, mais um covarde. – Halina exclamou, saindo da tenda.

      A celosiana se levantou outra vez, ignorou a tontura. Viu sua sacola próximo aos pés da cama, começou a amarrar os sapatos.

      — Aonde vais? – Arden continuava na tenda.

      — Embora. Me dê minhas coisas. – falou.

      O príncipe suspirou cansado, sentou na poltrona que ficava perto da saída. Já tinha a tensão com a irmã para lidar, agora outra dissertora seria mais um empecilho.

       — Estás certa de que é atitude mais inteligente partir? – perguntou, olhando para ela.

      — Estou certa de que não sou uma Lectus. – replicou desinteressada.

     — Sabes que sim. – repreendeu. – Penses direito, celosiana. Não poderei deixá-la partir, sabes disso. E deverias ser grata, conosco está mais segura do que sozinha. Está sendo perseguida por mercenários.

      — Sei me cuidar. – tinha desprezo em sua voz.

      — Não, não sabes. Foi salva pelo aparecimento da fera alada, caso contrário estaria presa ao bando de Lappam. – ele retornou a falar. – Acho que conheces a profecia o suficiente para entender que não podes fugir, o destino sempre a encontrará. Portanto, torne as coisas mais fáceis e fique. Não há escapatória. – concluiu impaciente saindo da tenda, deixando a adága no aparador.

       Mayla refletiu as palavras ditas pelo príncipe, queria discordar do smaragdino, mas ele estava certo. A celosiana avaliava sua condição, perguntava-se o porquê de ser uma Lectus. Por que uma órfão medíocre, a qual passara a maior parte da vida na posição de escrava e ladra, fora escolhida como uma guerreira sagrada. Talvez seja uma possibilidade de redenção, pensou se sentindo boba.

      Desejou retornar para a Caverna, lá suas irmãs feiticeiras saberiam o que fazer. Samosh lhe faria um chá, enquanto Hayat diria o que ela deveria proceder. Não podia fazer isso, com Lappam em seu encalço e com um retorno daquele antigo sentimento, não podia expor sua família.

     Saiu da tenda com o semblante fechado, carregando a sacola nas costas. Arden estava apoiado numa mesa, analisando um mapa junto com um soldado e o ivoriano. Todos voltaram o olhar para a recém chegada, disparando gestos inquisidores. Malya notou que havia um amaranto entre eles, distantes do grupo de smaragdinos, as roupas de algodão cru denunciavam a origem do rapaz, que tinha um hematoma em dos olhos.

      — Você é a celosiana, certo? – Skadi caminhou até ela. – Pode me falar o que estava bloqueando sua presença da bússola de runas? – ele tinha um bloco de papel em suas mãos.

      — Quem é você? – lançou rude.

    — Skadi Anteric, a Lectus de Ivory. – disse, mecanicamente. – Pode responder minha pergunta anterior, por favor? Desde que saímos de Smaragdine, sua presença oscilava nas runas. Isso não é comum, na verdade nunca aconteceu. Ao menos é o que consta nos registros ivorianos, as runas dos magos não falham.

     — Isso é porque nunca tiveram que lidar com as Feiticeiras do Clã das Dunas, os ivorianos não sabem tanto sobre elas. – olhou curiosa para figura na sua frente. – Como quer que eu lhe trate? – lembrou-se de repente da questão de gênero híbrido dos ivorianos, Nora uma vez lhe explicara sobre isso.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now