DOIS | SKADI ANTERIC

Start from the beginning
                                    

      — Ele é apenas um Maur, não tem grandes habilidades. Passou a maior parte da vida desenvolvendo trabalhos vulgares. – o Conselheiro começou. – Não possui um dos braços, seu protetorado foi atacado por um voldsom quando ele ainda era um bebê, mas lhe demos uma prótese. É capaz de usar um arco, com mediocridade, segundo os índices.

     — Tenho certeza de que ela será certeira em sua missão. – a estrela se aproximou do jovem. – Estenda seu braço, meu querido.

     Skadi subiu a manga de seu braço esquerdo, mostrando uma pele ainda mais clara que a de seu rosto. Estava firme, preparava-se para aquele dia desde que se entendia como indivíduo. Ouvira os comentários alheios, diziam que era uma jornada suicida, que Skadi era apenas um mártir para a nova guerra. Às vezes, ele sentia um frenesi estranho dentro de seu peito, suas pernas se tremiam descontroladamente. Medo. Era o que diziam os arquivos, um sentimento abjeto e que há muito fora extinto pelo povo ivoriano. Uma vez que o reino possuía conhecimento dos processos bioquímicos do corpo humano, instrumentalizaram o fim de emoções que poderiam atrapalhar a racionalidade. Mecanizaram os comportamentos, para que assim a conduta social dominasse a natureza humana.  Eliminando as emoções continuamente num processo evolutivo forçado, até que restassem apenas os mais aptos. Eugenia, diziam alguns fora de Ivory, mas não eram ouvidos. Na verdade, eram vistos como tolos ignorantes.

     Ao que parecia, Skadi não tinha passado por esse processo aterrador de emoções. Era uma falha da sociedade ivoriana, alguém inferior aos seus irmãos. Contudo, lutava fervorosamente para ser igual aos outros. Esforçava-se para agir como eles, ainda que isso fosse doloroso. Uma dor que ela ignorava, pois era sintoma de sua inaptidão.

     O toque da estrela de bronze foi suave no começo, entretanto uma força avassaladora brotou entre o contato das peles. Era como se o braço de Skadi tivesse sido colocado dentro das montanhas do Inferno Album, de modo que um gelo pulsante estivesse dentro de suas veias.

      — Estás preparado. – a estrela disse, finalmente se afastando.

     Skadi percebeu que estava de joelhos, levantou-se e curvou o corpo em direção à estrela. Saiu da sala meio atordoado, sentiu seu corpo fragilizado como se parte de sua energia tivesse sido tragada pela experiência. Cambaleou pelos corredores, procurando a saída.

      — Está tudo bem, jovem? – a voz familiar soou mecânica, era Éostre um de seus protetores que falava.

     — Oh, você a encontrou. – Freyja, sua outra protetora disse.

     — Cumpristes teu papel? – dessa vez era Styx, o último membro do protetorado Anteric.

    A reprodução era controlada dentro de Ivory, assim como as famílias eram formadas por uma compatibilidade de habilidade e complementação entre os membros. Tudo era registrado. Nada devia fugir dos estudos e previsões científicas, era uma questão de controle.

     — Estou bem, obrigada por virem até aqui. – Skadi queria manter o medo afastado de seu semblante.

      Sabia que seu protetorado provavelmente estaria do lado de fora da sala para que se despedissem, era a conduta padrão. Recebera ordens expressas, terminado seu encontro com a estrela deveria sair de Ivory e seguir para Smaragdine. Diferente do que os smaragdinos acreditavam, eles não eram os únicos que sabiam da abertura da Fronteira Mortem. Ivory já havia previsto tal evento há muito tempo, inclusive possuíam uma estrutura tática para enfrentar o reino de Tenebris. Formulando mil atitudes diferentes a serem tomadas de acordo com cada cenário possível.

     — Sentiremos sua ausência, aprendiz. – Styx falou, com uma voz contida. Relevando certo apego ao jovem.

    — Será uma sensação curta, creio eu. Skadi logo retornará. Um dos planos de ação inclui essa possibilidade.  – Éostre afirmou, era o mais másculo dos três.

Contos de Lucem - Ressurgir SombrioWhere stories live. Discover now