Capítulo 20 - Almas aflitas

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Ano 2327

— Germano, estou passada com esta história. — Yara tinha lágrimas nos olhos, o que não era habitual numa menina tão prática, pensou Felipe, enquanto a observava. Ele tinha um sorriso no rosto e a certeza de que estava apaixonado por aquela grande amiga. — Quando você começou sua narrativa, eu não tinha ideia de que chegaríamos numa situação dessas. Pelas Grandes Nebulosas, como deve ter sido enorme teu sofrimento, dividido entre dois amores.

— Foi bem difícil no início quando eu fiquei muito confuso com sentimentos tão intensos e ao mesmo tempo tão diferentes — a imagem em 3D no centro do quarto ficou congelada quando Germano parou de narrar. — Estes sentimentos por Bárbara chegaram de mansinho, mas rapidamente ficaram tão intensos, enraizados, que já nem sabia mais o que eu estava sentindo por ela. E tinha o problema da angústia que me atormentava, sempre coincidindo com os seus períodos de instabilidade emocional. Mas você vai ver nas próximas horas que as coisas vão se encaixar.

Yara levantou-se e rodeou a cena congelada, prestando muita atenção na última imagem narrada por Germano, que o mostrava centenas de anos no passado, olhando com atenção a imagem de Bárbara em seu tablet. Seu rosto mostrava toda a emoção que estava sentindo naquele momento ao ouvir o desabafo daquela mulher da qual ela mesma parecia uma cópia. Impressionava-se com a semelhança entre as duas: a cor da pele e dos olhos, a estatura, o sorriso farto, o corpo escultural, o jeito dela sorrir... Depois, caso a narrativa de Germano não eliminasse todas as suas dúvidas, teria que pedir a Felipe para usar seus conhecimentos tecnológicos, procurando descobrir mais sobre o futuro de Bárbara, e, talvez, sobre seu próprio passado. Em seguida, tornou a sentar no mesmo lugar de antes.

— Germano, eu estou muito intrigada com a semelhança física que tenho com Bárbara...

— Calma, Yara. Cada revelação a seu tempo... se é que há mesmo alguma a fazer...

— Porra, Germano! — praguejou, mas se arrependeu ao olhar para ele e ver seu sorriso demolidor. Precisava controlar sua impulsividade. — Desculpe! É que estou cada vez mais envolvida com esta história, afinal este pingente, ou pen drive, como o Felipe chamou, está com minha família faz tempo. A curiosidade está cada vez mais forte dentro de mim.

— Bem, então é melhor eu voltar à narrativa, ou vocês preferem pausá-la, pois já estamos aqui há horas?

Yara olhou para Felipe inquisitiva. Ele gesticulou com as mãos, demonstrando que concordava. Ela olhou em direção ao pequeno interfone de comunicação que ficava na parede mais próxima.

— Sharon, precisamos de duas barras de ração alimentar aqui na cabine. Situação: Jantar.

— Alguma preferência, doutora Yara? — soou a voz metálica, porém muito sensual, do computador central.

— Risoto de frutos do mar para mim e... — olhou para Felipe, que fez sinal com a mão mostrando três dedos. — Lasanha de frango com espinafre para o "tripulante" Felipe Donzelli — aproveitou para gozar com a cara do amigo, já que Sharon havia se referido a ela agora como doutora e antes já tinha chamado Felipe de tripulante. Ela olhou com um sorriso irônico para o seu amor, que sorriu torto e com a mão demonstrou que ela deveria aguardar pelo troco.

Após dois minutos, a pequena abertura que havia na parede à qual a mesa estava ligada, iluminou-se e duas barras de ração alimentar apareceram. E, em seguida, Sharon disse:

— Pedido atendido. Tenham um bom apetite, tripulantes!

Felipe caiu na risada enquanto pegava sua barra. Era fato que Sharon começava a desenvolver senso de humor. A palavra tripulantes fora proposital para irritar Yara, que fez de conta que não percebeu nada e manteve a linha, mas, no fundo, achara engraçada a tirada do computador.

Amor Infinito  (Degustação: 21 capítulos)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora