20. ninguém disse que o País das Maravilhas era real

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Eu iria perder a maldita aposta.

— Por que está com essa cara? — Mamãe sentou no sofá com sua elegância natural e me olhou de sobrancelhas enrugadas. Bárbara vinha logo atrás com uma bandeja cheia de biscoitos e suco.

— As garotas não me atendem — resmunguei, ligando para Moana e Pat novamente. Elas eram as principais nessa aposta com Tom, e ignoraram minhas últimas doze ligações por via chamada de vídeo, chamada normal, mensagem de texto, tudo!

— Quais? — Bárbara sentou no chão e colocou a comida na mesa de centro.

— Moana e Pat.

— Hum. Elas estavam mesmo chateadas.

— Você estava falando com elas? — Encarei minha irmã.

— Óbvio que sim, somos amigas.

— Pode dizer a elas que preciso muito falar com elas. E que envolve uma aposta com Thomas, também. Se ajudar.

Bárbara deu de ombros. — Posso tentar.

— Certo. Voltando ao que importa! — Mamãe entoou, sorrindo enormemente. — Como foi com Sebastian?

Thomas me deixou em casa antes de voltar para ajudar Sebastian a limpar o bar — razão pela qual ele tinha ido lá, em primeiro lugar. Então, minha mãe não teve a chance de matar sua curiosidade sobre como é Sebastian Heartlock em pessoa. Estava reclamando sobre isso desde que cheguei.

— Foi tudo bem. Melhor do que eu esperava — exclamei, dando de ombros.

— Não me poupe dos detalhes.

Suspirei, imaginando que não conseguiria fugir da inquisição de Tereza Hampton. Contei tudo a ela. Sem muito sucesso em minimizar a história por causa de sua enorme capacidade em ver através de mim. Sempre que eu começava a diluir os fatos para torná-los menores e simples, minha saudosa mãe me pedia para ser sincera sobre as minúcias. Então, a conversa durou algum tempo e no fim me senti como a suspeita de um crime numa espécie de interrogatório na delegacia mais acolhedora do país.

— Vou tentar falar com Moana e Pat — disse Bárbara quando terminei meu monólogo, subindo para o quarto em seguida. Fiquei com a parte de limpar a louça do lanchinho. Mamãe me seguiu em direção a cozinha.

— Bem, já que minha missão aqui foi bem-sucedida, acho que devo voltar para Nova York.

— Não precisa correr, sabe disso — exclamei, sem querer pressionar em nenhuma direção. Minha mãe sorriu levemente para mim, eu dei de ombros. Já estava dando o braço a torcer por muito nesse dia, poderia forçar um pouco mais sobre mim.

— Sabe que pode passar algum tempo, sei lá, apenas alguns dias.

— E fazer o quê? Ajudá-las na livraria? — Ela sorriu. Eu mantive meu sorriso. O descaso da minha mãe com minha livraria sempre fora algo óbvio e explícito. Ela sequer considerava o lugar digno ou sei lá. Mas... Isso não impedia seus comentários de ferirem.

— É — murmurei, voltando a limpar os copos. — Você tem razão. Não teria muito para se ver ou fazer por aqui. Nada no nível de Tereza Hampton.

— Olha, Rebecca, aquele lugar...

Aquele lugar é onde eu trabalho, mãe — pontuei firmemente, virando-me para ela. — Pode não ser grande coisa para você, em comparação com as enormes lojas de bolsas de grife e afins que você tanto ama. Ou uma linha enorme de salões de beleza e spa. Pode ser pequeno, medíocre e abranger apenas ⅓ dessa cidade minúscula, mas é minha. Minha e de Bárbara, suas duas filhas ergueram aquele lugar e cuidaram de tudo sobre ele desde então. Escolheram cada mínimo detalhe desde a fundação até a decoração. Aprenderam sobre questões como qual o melhor tipo de alarme de segurança ou qual o melhor tipo de madeira para revestimento, fizemos tudo por aquele lugar sem um centavo do seu dinheiro. E eu sequer peço que considere isso e finja se importar, porque eu não quero mentiras. Mas um pouco de consideração pelo esforço das suas filhas seria bom, porque aquele lugar tem sido nosso sustento por um par de anos.

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