15. dia de revanches

175 39 117
                                    

Os dias seguintes foram bem quietos.
A maioria de nós foi ao cinema na sexta-feira à noite — Derek e Elisa estavam ocupados —, e todos dormiram na minha casa então. Pat e Moana pareciam não estar se falando, Tom e Bárbara muito menos, mas ninguém estragou o dia ou a "festa do pijama", onde fiquei bêbada pela primeira vez na vida. Sebastian me preparou algumas da nova bebida ainda inominada, acrescentando uma dose mais alta de rum sem eu saber, e camuflando o sabor de uma maneira que eu sequer podia começar a imaginar como fora feito. Esse experimento de Heartlock, resultou em Rebecca Landstone completamente bêbada na própria sala de estar rodeada de amigos e a irmã, que nunca tinha visto-a embriagada antes e agora filmava tudo feito uma mãe de primeira viagem vendo a filha andar pela primeira vez.

Eu já tinha esquecido o nome do jogo que estávamos fazendo, que eu estava participando, mas já tinha saído fazia uns dez minutos. Encostada no sofá e sentada no chão, eu observava o resto de meus amigos que ainda jogavam tentarem adivinhar o que dizia na testa de Vanessa. Ou melhor, no papel que Vanessa tinha colado na testa. As pessoas que lhe davam dicas conforme ela mesma efetuava perguntas eram Heartlock, Bárbara, Moana, Letícia e Tom. O resto já tinha saído por errar o nome de seja lá o que for que tinha na testa.

— Eu sou uma pessoa? — Ela perguntou, o cronômetro contando na mão de Heartlock, o único completamente sóbrio de todos nós. Além de mim, a segunda mais bêbada era Moana, os outros estavam bêbados em uma escala menor, até chegar em Pat, a menos bêbada.

— Sim… eu acho que sim — murmurou Moana, começando a rir. Por alguma razão, eu também ri com ela. Sebastian vez ou outra me olhava só para rir da minha cara, e Bárbara ainda filmava-me sempre que tinha a chance.

Tomei outro gole da minha bebida, já nem sentido o sabor realmente. Acho que não fazia mais diferença.

— O que o ganhador vai levar disso tudo mesmo? — Questionei, minha voz meio embaraçada, eu me sentia como uma espécie de robô cuja bateria estava exaurindo-se devagar.

— O que quiser — disse Moana. — Eu não estaria aqui há mais de quarenta minutos por menos, Chica!

Eu ri. — Você estaria aqui por uma latinha da cerveja mais barata do condado, ou até menos, sua vadia!

Ela começou a rir, concordando. Eu também ria, e já tinha deixado de tentar entender porquê o fazia. Tudo parecia engraçado. Tudo parecia tão... sei lá, menos pesado. Eu deveria ficar bêbada mais vezes.

— O tempo está correndo, Vanessa! — Atiçou Sebastian, checando o cronômetro. Para mim era quase óbvio que ele iria ganhar aquilo, ele era bom nessa porcaria de jogo.

— Você já foi presidente! — Disse Tom.

Tomei o resto da minha bebida e depois disso observei mais duas pessoas saírem do jogo antes de recostar no sofá. Vanessa e Tom saíram. Vanessa não adivinhou que tinha Abraham Lincoln grudado na testa e Tom não disse Vance Joy antes do cronômetro apitar seu tempo, que diminuía a cada nova partida. Agora eles tinham apenas 20 segundos para adivinhar.

Era a vez de Bárbara quando cruzei os braços e respirei fundo. Ela tinha Sherlock Watson grudado na testa... Ou era John Holmes... Não sei. Só sei que acabei adormecendo enquanto lia as palavras, conectadas por um “&”... coisinha detestável.

Acordei com Amber Run cantando I Found dentro da minha cabeça na altura mil vezes mais que a esperada; era como se meu crânio fosse as paredes de uma catedral, a acústica amplificando as notas e vocais ao máximo, fazendo-as retumbar contra meu cérebro em seguida, com o dobro da potência.

Grunhi roucamente, virando de bruços e erguendo as mãos para agarrar minha cabeça. Tudo dói.

— Bom dia, raio de sol! — Eu tinha quase certeza de que era Bárbara do lado de fora da catedral, gritando. Cobri a cabeça com o travesseiro, apertando para tentar abafar o barulho exterior e assim calar Amber Run. Mas não adiantou.

Somos Feitos de Estrelas Where stories live. Discover now