Highways, Neighborhoods and Lies

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Acordei no dia seguinte com o barulho infernal do meu despertador. Eu realmente deveria mudar aquele toque.

Encarei o teto por alguns segundos e pisquei algumas vezes. Respirei fundo. Parecia não haver ar suficiente no quarto para preencher meus pulmões. Parecia faltar algo ali.

Sentei na cama. Deixei meus pés alcançarem o chão. Geralmente o piso gélido me fazia acordar e ultimamente estava sendo mais útil do que o próprio café.

Estava frio. Meu corpo doía por alguma razão e eu não conseguia enxergar direito. Inspirei fundo soltando o ar lentamente. Por um segundo eu tive a sensação de que a janela estava torta.

É, eu realmente deveria tomar uma boa xícara de café agora.

Abri a porta do meu quarto e encontrei Taylor dormindo no sofá. Um cobertor felpudo enrolava o corpo magro e os cabelos compridos cobriam boa parte do rosto pálido.

“Taylor?” A chamei baixinho. Minha voz estava rouca e minha garganta agora doía.

Ela nem se mexia.

Talvez agora eu entenda o sofrimento que minha mãe passava para nos acordar de manhã no período escolar.

“Tay?” Chamei novamente. Ela se mexeu inquieta e puxou uma almofada para baixo da cabeça.

Não. Ela não iria acordar tão cedo.

Decidi ir até a cozinha. O ritual de sempre: água e pó de café na cafeteira, ligar o botão e esperar. Eu parecia estar esquecendo alguma coisa.

Tinha algo diferente. Aquela sensação que você tem quando está atrasada mas para em frente a porta por 15 segundos tentando lembrar daquilo que você jura estar esquecendo. Esfreguei a ponta dos dedos sobre as pálpebras.

Minutos depois e o cheiro de café já preenchia o apartamento inteiro. Eu amava aquela sensação.

O líquido preto entrou em contato com a porcelana branca da xícara. A fumaça desenhando abstratos no ar. Enganchei os dedos na alça, rumei em direção à sala.

“Hey...” Cutuquei Taylor com o joelho. Depois de duas tentativas era preciso ser um pouco mais rigorosa quando se tratava de acordá-la.

Ela resmungou algo. Apertou os olhos antes de finalmente abri-los. O verde de ontem havia sumido. Hoje as órbitas estavam completamente cinzas e com alguns pontos escuros.

Ela sorriu, se encolheu embaixo da coberta.

“Oi”, ela fala.

“Oi”, respondi erguendo as sobrancelhas. “O que está fazendo aí?”

“Eu não conseguia dormir no quarto”, ela responde.

Fiquei em silêncio.

Eu também não conseguia dormir. Eu só não admitia. Ou pelo menos não gostava de admitir.

“Você podia ter me chamado”, falei assoprando o líquido escuro em minha xícara. Arrisquei um gole segundos depois.

“Eu não queria te acordar... Você já tem muita coisa pra se preocupar.”

Aquilo foi como uma faca rasgando meu peito.

“Eu posso ter uma pessoa que precise de mim dentro de uma clínica psiquiátrica, mas você não deixa de ser minha irmã caçula”, falei ligeiramente irritada. “Quando você não consegue dormir é só me chamar, entendeu?”

Ela assente. Me encara sorrindo.

“Quer café?” Perguntei.

“Quero, mana”, ela ri.

Get Me OutOnde as histórias ganham vida. Descobre agora