Antidepressants and Sense of Humor

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“Eu ainda não entendo como é que você encontrou meus pais. Quer dizer, depois desse tempo todo...”

As órbitas castanhas me fitavam com fragilidade. A pulseira dourada deslizava por entre os dedos finos e toda vez que os pingentes se chocavam e tilintavam, um sorriso bobo aparecia nos lábios dela.

“Na verdade não foi eu. Ally fez o trabalho todo”, falei.

“Bom, me lembre de dar um abraço nela por isso.”

Sorri com as palavras.

A brisa congelante de novembro fez meu corpo tremer. Eu realmente não gostava das temperaturas gélidas.

“Posso te fazer uma pergunta?”

Engoli seco. Camila podia ser bem imprevista quando se tratava de perguntas. Assenti esperando ela falar novamente.

“Você acha que... Que se Taylor não tivesse passado por todos aqueles problemas na adolescência e sido consequentemente internada naquela clínica... Você acha que as coisas teriam sido diferentes?”

Me virei para encará-la. O lábio inferior preso entre os dentes revelava um ligeiro nervosismo.

“Tipo... De nós termos nos conhecido e tudo mais”, ela continua divagando enquanto afundava os dedos na grama úmida. “Eu sinceramente não sei nem se eu estaria aqui.”

“Eu acredito em destino”, falei. “Desde pequena. Eu acredito que exista uma força sobrenatural, cósmica ou até mesmo paranormal que trabalhe a favor do destino. Taylor acha essa minha teoria ridícula, mas eu realmente acho que isso exista.”

Camila riu.

“Ok, e se o destino fizesse com que a sua irmã não tivesse que enfrentar uma profunda depressão na adolescência e no início da fase adulta. Se ela não tivesse sido internada. Você realmente acha que nós íamos nos conhecer?”

Pensei por alguns instantes.

Fazia perfeito sentido o que ela estava falando. Camila e eu não tínhamos amigos em comum, não frequentávamos os mesmos lugares e morávamos em locais completamente diferentes. Pra falar a verdade nós éramos a versão humana da palavra oposto. Era difícil pensar em uma outra forma de termos nos aproximado se não fosse por Taylor.

“Eu acho que nós iríamos nos conhecer do mesmo jeito. Não dentro desse contexto todo, mas de uma forma bem diferente. Talvez... Talvez se Taylor não tivesse sofrido isso tudo, você também não iria passar por todas essas coisas. Talvez você teria nascido sem nenhum dom e seus pais não iriam te colocar aqui.”

Ela une as sobrancelhas e inclina a cabeça para o lado.

“Talvez nós teríamos sido colegas de trabalho”, sugeri.

“Eu não consigo imaginar isso. Seria horrível ser a sua chefe.”

A encarei com a boca semiaberta. Ela realmente tinha um senso de humor peculiar.

“Porque acha que seria minha chefe?”

“Eu não sei. Por algum motivo você tem a cara de quem trabalharia atrás de uma pilha de documentos atrasados e um computador velho”, ela fala tentando conter o riso.

“Cristo, Camila...”

“Mas hey, nada me impediria de te promover, sabe? Você poderia ser a funcionária mais relapsa de lá e ainda sim seria a minha preferida.”

Engoli seco.

“Ah é?”

“Aham. E teríamos que comprar uma máquina de xerox nova todos os meses porque você seria a responsável principal por quebrá-las”, a voz angelical abaixando o tom gradativamente.

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