PRÓLOGO

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PRÓLOGO

Maia

Eu tinha vontade de jogar a calculadora contra a parede. Por que sempre que eu precisava fazer os cálculos da loja eu esquecia que ela estava quebrada?

Recolhi os papéis e guardei novamente dentro da pasta, amanhã eu compraria uma calculadora novinha. Odiava usar aquela forma de calcular no computador.

Um clarão apareceu na janela e logo trovejou. Chuva! Eu amava quando chovia. Acho que devido ao fato da chuva estar presente quando tive meus melhores momentos, e agora porque ela me trazia as melhores lembranças.

Chovia quando eu e minha mãe acampamos no alto de uma colina, tomamos banho de chuva e nos sujamos de lama. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Chovia quando ele me olhou de verdade pela primeira vez, quando percebeu que eu existia... Quando me beijou...

Deixei de lado esses pensamentos, porque fazia parte do passado. Saí do escritório e caminhei pelo corredor em busca da razão da minha vida, que estava em seu quarto, todo decorado em tons de rosa, lilás e branco com as imagens das princesas da Disney. Enfeitada com o vestido rosa que amava — um presente da tia Eduarda, que a mimava demais —, ela brincava com sua boneca enquanto esperava a irmã do pai para levá-la ao seu encontro.

Observei Mariana por um tempo.Minha filha, de cinco anos, que conversava algo com sua boneca.Ela virava a cabeça de um lado para o outro em um diálogo mudo e seus cachos ruivos balançavam. Sorri literalmente como uma mãe babona.

Era uma garotinha esperta que herdou a cor dos meus cabelos e os olhos do pai. Uma combinação especial em minha opinião. Como o tempo passava rápido! Ela já era tão independente...

Ouvi o barulho do carro parando em frente à minha casa.

— Mariana! Sua tia chegou — falei descendo as escadas apressadamente. Eu sabia que Duda andava ocupada demais com a organização do show da dupla Victor& Leo, dali a dois dias, e não queria fazê-la esperar.

Escancarei a porta para receber minha amiga e o choque tomou conta de mim. Não era Eduarda que esperava minha filha, mas sim o homem que eu não via há três anos. O homem pelo qual fui apaixonada platonicamente por quase toda minha vida.

O tempo parecia que havia parado, era como voltar ao passado quando olhei para seus olhos azuis. Não consegui segurar um sorriso ao vê-lo, e ele conseguiu mais uma vez me deslumbrar.

— Oi, ruiva — falou com um meio sorriso.

Meu coração se agitou frenético por ouvir a saudação que ele sempre dizia ao me ver. Julguei que, após alguns anos, meu coração seria, pelo menos, um pouco indiferente a ele. Enorme engano.

— Oi, Rodrigo. Quanto tempo!—Fiquei orgulhosa que minha voz não tremeu. — Quer entrar? — indaguei indecisa. — Mariana já está pronta.

— Não sei se é uma boa — disse olhando para dentro como se procurasse por alguém.

— Jonas não está — falei rápido.

Ele me encarou indeciso. Grande burrice, Maia! É melhor que ele fique do lado de fora, afinal só veio pegar a filha e partir, não era como se fosse uma visita social, pensei comigo, mas já era tarde. Aquele homem de mais de 1,90m passou por mim aceitando o convite. O perfume dele ainda era o que eu lembrava mexendo intensamente com meus sentidos.

Fechei a porta rezando para que Mariana não demorasse. Quando me virei, percebi que ele olhava a decoração da casa.

— Bela casa — falou parecendo incerto do que dizer.

IMPERFEITO AMOR (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora