Yria engoliu em seco e respirou fundo. Não conseguia sequer acreditar que estava mesmo a ouvir aquilo, que tudo aquilo era real. Por vezes parecia tão surreal que pensava que estava a ter um pesadelo, e que umas horas depois iria acordar e estaria tudo bem. Mas não, aquilo era bem real.
Ela observou-o atentamente, reparando no sorriso que lhe iluminava os olhos. Não conseguia perceber como é que ele se sentia tão feliz com tudo o que lhe estava a fazer, com toda aquela dor que lhe provocava.
- Mas isso não vai acontecer, eles não nos vão encontrar nunca. Se bem que tu te portaste muito mal, meu amor. – Ele falava num tom calmo, suave, carinhoso, o que não condizia nada com a sua personalidade.
- O que é que eu fiz?
- Tu foste dizer à tua irmãzinha que o William existia e quase que estragaste tudo. Tive de fazer mais umas coisas que não queria… Mas pronto, já passou não é, amor? – Ela engoliu em seco e mordeu o lábio.
- O que é que tu fizeste, Matt? A Chris está bem? – Perguntou baixinho, levando uma das suas mãos até à mão dele, tocando-lhe ao de leve.
- Sim… Mas eu pensei que tu ias perguntar se eu estou bem. – Yria não sabia mesmo como lidar com aquele homem. Ela sabia que a sua sanidade já não era a mesma, mas não sabia que ele batia tão mal daquela cabeça.
Como é que ela iria dar-lhe a volta?
Como é que ela ia cuidar dele, para que ele não lhe fizesse mal?
Nem a ela nem a ninguém. Ele já tinha feito tanta coisa má, que ela já nem sabia do que ele era mesmo capaz.
De tudo.
- Eu sei que tu estás bem… Estás aqui comigo, não é? – Se havia algo que Yria tinha certeza era que ia ter de jogar o seu jogo. Ia ter de perceber o quão mal estava para descer ao seu nível, para fingir que estava do seu lado, que percebia o seu lado.
- Sim! É isso mesmo! – Ele sorriu de orelha a orelha e elevou calmamente a cabeça dela, beijando-lhe a testa com todo o amor e carinho. E obsessão.
- Então pronto… Mas, Matty, ainda não me respondeste. Como está a Christine?
- Ah, ela… Deve ter só uma ferida na testa ou assim.
- Porquê?
- Porque eu ia atropelá-la, e a querida inspetora apercebeu-se e lá a salvou. Parecia uma cena saída de um filme de ação ou coisa assim. – Ele riu baixinho, olhando para um ponto indefinido enquanto se recordava do que tinha acontecido.
- Tu ias atropelar a minha irmã?! Porquê? – Yria, que quase nunca chorava, estava outra vez com os olhos inundados em lágrimas. Ao aperceber-se da tristeza enorme dela, Matthew arregalou os olhos e baixou o rosto.
Pela primeira vez, dava para ver algum arrependimento da sua parte, o que era muito estranho.
- Porque ela andava a descobrir tudo… - Ao ouvir a sua justificação sem nexo algum, ela levou as mãos à boca, tapando-a enquanto chorava desalmadamente. Aflito e sem saber o que fazer, Matthew ficou a olhar para ela até conseguir reagir, e acabou por abraçá-la desajeitadamente, sem se importar de ficar todo molhado.
- Tu não tinhas o direito de fazer nada disso! – Repreendeu Yria, ainda com ambas as mãos a tapar a sua boca. Ela não lhe ia retribuir o abraço, não agora.
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Echoes Of Silence.
Mystery / ThrillerA vida de jovem adolescente tem as suas vantagens e desvantagens. À medida que vamos crescendo, vamos arrecadando mais responsabilidades, mais experiência, sobretudo experiência na vida. Yria é uma rapariga que, desde muito cedo, se isola e não deix...