VI - Flashes

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Em toda a cerimónia, um raio de luz incidiu sobre o altar. Perguntei-me quem teria projetado aquela micro janela exatamente naquele sítio. Parecia mágico, como um holofote sobre um palco, durante algum espetáculo. O barulho dos flashes, dos registos feitos por três fotógrafos, quebrava, de quando em vez, o encanto e trazia-nos à realidade.

Fora o Vicente que os contratara para fazer a cobertura do nosso casamento. Dizia várias vezes, com o seu ar descontraído, que nos proporcionaria uma cobertura fotográfica digna da aristocracia. Seria o presente de casamento que queria oferecer ao irmão, pelo que fomos obrigados a concordar, pois a sua persuasão era apuradíssima.

Quando o Sr. Padre terminou a cerimónia autorizando o Tomé a beijar-me, uma salva de palmas ecoou, de imediato, por todo o espaço e os flashes aumentaram de frequência ao som de "SHE", de Elvis Costello, tema de um dos meus filmes preferidos...
Só podia ser arranjo da Sara, pois! Ela é que orientou as músicas de toda a cerimónia, a partir de uma playlist que me era muito cara. A da minha entrada, por exemplo, foi uma surpresa, pois julguei que iria colocar a tradicional Halleluia... ainda bem que não o fez!

Um dos fotógrafos aproximou-se de nós os dois e pediu que pousassemos para uma foto. Fiquei algo intrigada, pois ele lembrava-me alguém.
Abstraí-me da sua fisionomia e coloquei os meus braços à volta da cintura do Tomé, que em relação a mim, era enorme. Ele baixou a cabeça e sussurrou-me ao ouvido um "Agora, és só minha!" que me arrepiou até às entranhas. Ali estivemos num olha nos olhos, vira para ali, vira para acolá um pouco entediante para mim, que não gostava muito de me expor nem de situações pouco espontâneas. Além do mais, estávamos numa igreja e não queria alongar-me em gestos íntimos, para além daquele beijo que selou o nosso matrimónio. E, por isso, voltei-me para o Tomé e sugeri que, assim que fosse possível, parássemos um pouco.

Quando o tal fotógrafo nos liberou, as nossas famílias enjaularam-nos num reportório de beijos e abraços de felicitação, até o Sr. Padre nos chamar para o registo. E lá fomos assinar o documento que nos unia perante Deus e a sociedade e unia as nossas famílias.

***
Quando chegámos à nossa casa, já a noite ia para lá de meio. Estávamos exaustos, mas mesmo assim o meu marido fez questão de me pegar ao colo, subir as escadas e levar-me até ao nosso quarto.
Seria a nossa primeira noite ali e a primeira de casados e por isso, era motivo do nosso, talvez, décimo brinde.
Então, o Tomé desceu à cozinha e foi buscar o espumante que o Vicente tinha lá deixado, a pedido dele.

Enquanto isso, eu sentei-me na banqueta clara, aos pés da nossa cama enorme, e comecei a longa tarefa de desfazer a minha caracterização para aquele dia tão especial.
Estava a descalçar as sandálias, quando ele entrou com os flutes e a garrafa. A sua camisa já estava desapertada e fora das calças, o que expunha um tronco disciplinarmente torneado. Sorriu para mim, pousou o que trazia na consola branca e dirigindo-se para mim, disse com suavidade:

- Deixa-me ajudar-te!

Apoiou as suas mãos nos meus ombros e elevou-me até ele. Deu-me um beijo nos lábios e fez-me rodar, ficando de costas. Levou a mão aos dois botões minúsculos, junto ao meu pescoço, na parte de trás do meu vestido, e desapertou-os. O vestido aliviou-me um pouco os ombros, caindo sobre eles e soltando os braços.
Tomé contornou-me o tronco com as mãos, arrepiando-me por inteiro. Voltei-me para o beijar, mas ele não permitiu.
Depois, indiquei-lhe o fecho invisível que tinha no fundo das costas. Correu-o. O vestido caiu aos meus pés. Estava completamente exposta! Não é que isso me causasse grande constrangimento, afinal estávamos juntos há tempo suficiente para isso não acontecer, mas era um momento bem diferente, era especial.

Arrisquei voltar-me para ele mais uma vez. Encarei aqueles olhos castanho mel que me encantaram. Passei as mãos pela sua face, contornei as suas orelhas e puxei-o para mim, beijando-o com vontade. Ele acatou e correspondeu de tal forma que me levantou e eu encaixei-me, segura, à forma da sua cintura. Os seus braços, apoiando as minhas costas, pressionavam os meus seios no seu peito. O cansaço não abafaria a vontade de ambos e por isso, sem parar de o beijar, tirei-lhe de vez a camisa branca.
Tomé deitou-me sobre a cama e iniciou uma serie de microbeijos, que me fizeram desesperar, com o caminho que tomavam. Mordiscando ali e acolá e, sem parar, arrastou-se ao meu ventre, decidido.

Seria a minha desgraça, pois quando assim começava, o fim estava longe!

Perdemo-nos, pois, os dois nesse entrelaçar...

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Luzia estava casada e Tomé era o homem perfeito, aos olhos de todos. O que acharam deste capitulo?

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⏰ Last updated: Apr 23, 2020 ⏰

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Um Olhar Preso no HorizonteWhere stories live. Discover now