II - Em busca da serenidade

12 1 0
                                    

Doze anos depois

Despertou, sobressaltada, com a turbulência intensa e com a voz do piloto a anunciar que deveríam manter os cintos de segurança apertados e permanecer sentados. Luzia detestava turbulência. Parou de respirar por segundos e repitiu mentalmente o seu mantra "Vai já passar, vai já passar!". Fazia aquilo sem pensar e quando deu por si estava de mãos ferradas no banco, prensadas debaixo das suas pernas.

Não se lembra de ter adormecido. Só se recorda de estar a ler e uma cena, no livro, a fazer recordar o que viu naquela sala.... da sua professora... de ter saído a correr... de ter procurado a sua árvore. Há anos que não voltara aquele cantinho sereno e... 
Encostou a cabeça na janela, olhou e fixou-me nas luzes que piscavam na asa do avião...

Foi quando reparou que o tal livro, que estava a ler antes de passar pelo sono, tinha caído para a frente do passageiro ao seu lado. Baixou-se para o apanhar, mas com a turbulência acabou por tocar-lhe sem querer. Olhou para o dito, pedindo desculpa com o olhar, e reparou que as sardas que tinha na face lhe recordavam alguém que, por agora, não queria lembrar. Voltou a posicionar-se, depressa, e abriu o livro, pegando na fita azul do marcador. Tentou concentrar-se de novo na leitura e deixar passar a turbulência que parecia materializar o que ia dentro da sua cabeça.

Aterrou em Ponta Delgada ainda o sol estava a nascer. Uma lufada de ar quente veio recebê-la assim que saiu do Airbus que a trouxe até "casa".
E era tão bom estar e sentir-se em casa! Sentir que pertencia a esta terra, apesar da intermitência da sua estadia.
                           ***

Chamo-me Luzia, sou açoriana de corpo e alma e quando me perguntam de onde vem a minha pronúncia, que não insisto em disfarçar, digo com todo o sentimento que sou filha das brumas e da terra em brasa, que me corre nas veias a rocha líquida e quente que formou esta terra.

Contudo, desta vez venho sem grande entusiasmo. Preciso de um abraço da minha moreninha, a minha filhota Madalena, de dez anos (já uma mulher!), o aconchego da minha mãe, a fortaleza do meu pai, os ralhetes entusiasmados das minhas irmãs... de os sentir e de sentir o colo das gentes de casa. Sentir que apesar de tudo o que provoquei, me aceitam, me respeitam e, quem sabe, me compreendem.

Mais do que nunca, anseio sentir a areia grossa desta terra e o mar nem se fala! Preciso com tanta urgência deitar-me e ouvir a sua conversa e sentir os seus salpicos.

O aviso da recolha de bagagem anunciou que a passadeira começa a rolar. Aguardo a minha mala e penso no reboliço onde me meti, desde que, há um ano e meio, atrás, a VIAGENS me incluiu na edição de um roteiro turístico sobre as ilhas que constituem a Macaronésia.  

Avisto a minha pequena grande mala de viagem. Vem cheia de nada e vazia de tudo, quase como eu! Meto a mão ao bolso da frente do meu corta-vento e pego no telemóvel para ligar ao meu pai. Digo-lhe que cheguei e ele responde-me que está à minha espera, lá fora. 

O meu coração acelera como quando era pequena e anunciavam que podíamos abrir os presentes de Natal. Eu tinha saudades dele, deles...   

Tinha tantas saudades!

*********************************************************************************************

Olá a todos! Se chegaram até aqui, eu já fico super contente :) 

Estou a começar este livro por diversão. Escrevi os dois primeiros capítulos e entusiasmei-me. Agora será difícil parar, então, vou partilhando com vocês por aqui. 

Gostava de saber as vossas opiniões, o que sentiram ao ler, o que acham que pode ir acontecendo, que personagem gostariam de conhecer melhor...

Entretanto, caso considerem merecedor, agradecia que colocassem Gosto. 

**Dos Açores (Portugal) para o mundo em plena Quarentena!**

Um Olhar Preso no HorizonteWhere stories live. Discover now