Capítulo 8 - Acrescente beijos a gosto

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"Você não me conhece muito bem, mas eu simplesmente detesto acordar cedo

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"Você não me conhece muito bem, mas eu simplesmente detesto acordar cedo."

A reação de Johann foi rir tão alto e livremente, que a mão que puxava a minha ameaçou a soltar.

"É sério," insisti. Mal consegui abrir os olhos o suficiente para não tropeçar e não tinha ideia do que ele poderia estar tramando. Tudo que tinha me dito era que a sua próxima ideia para acabar com meu bloqueio não poderia esperar.

"Não dá para esperar nem mais duas horas?" Eu tinha perguntado ainda na cama, puxando o travesseiro dele para mim para abraçá-lo e sentir seu cheiro já que ele tinha me deixado ali sozinha. "O sol nem nasceu ainda. Que tipo de coisa é possível fazer nessa cidade fantasma tão cedo assim?"

Ele disse que eu veria e foi preparar a única coisa que me faria levantar: café.

Menos de uma hora depois e eu estava sendo arrastada rua dele.

"Quantos dias acordando do seu lado você acha que precisa para eu perceber que você odeia acordar cedo?" Ele perguntou, deixando bem claro por que tinha achado engraçado. "Aliás, odeia acordar qualquer hora que seja."

"Então, por quê?" Minha vontade era perguntar, Se você me conhece tão bem assim, então por que criar logo uma proposta que me obriga a acordar à essa hora?, mas seria impossível conseguir formar essa quantidade de palavras na minha cabeça, quanto mais passá-la para minha boca.

Preferi ficar só com o por quê? e bater o pé como uma adolescente no chão quando ele parou na primeira curva que sua rua em S fazia, bem do lado da placa.

"Não tem na..." Terminar a frase foi impossível, porque o que antes era só grama de terreno não utilizado tinha sido tomado por um amontoado enorme de tecido colorido.

Meus olhos foram seguindo as costuras que consegui encontrar no tecido até acabarem em um cara, de pé ao lado de uma cesta enorme. Até meu cérebro atrasado de sono pôde entender o que estava se passando pelo de Johann.

"Eu espero que você não ache que eu vou entrar naquilo ali."

Quando me virei para ele, percebi que observava minha reação com o maior sorriso que já tinha visto tomar seu rosto. Parecia deliciosamente doloroso e, mesmo que ainda me recusasse a entrar no balão, não pude evitar sorrir também.

"Vou voltar para a cama," falei, me virando e dando um único passo na direção da sua casa antes de ele entrar na minha frente.

"Eu te conheço," falou, agora lutando contra o sorriso para me fazer levá-lo a sério. "Talvez não tanto a Kendra ou seus pais," a menção dos três como se fossem pessoas do mesmo universo que ele foi inesperadamente agradável, como se eu pudesse juntar todos em volta da mesma mesa, "mas ainda te conheço. E sei que te colocar nesse balão vai ser a maior conquista da minha vida provavelmente, porque você não quer sair da sua zona de conforto. Você gosta de ver a vida como uma cena, dar um passo atrás e a analisar, só molhar os pés e considerar uma experiência vivida. Mas, adivinha, você só vai poder voltar para Nova York dizendo que sabe o que é estar a 300 metros do chão e sentir o vento no seu rosto se você subir naquele balão. Não existem meias experiências aqui."

"Eu poderia subir uns dez metros e abaixar de novo," rebati, cruzando os braços, ainda que não fosse aceitar nem esse pouco.

O sorriso de Johann estremeceu agora, mesmo que as rugas que ele criara ainda permanecessem.

"Não, na verdade, eles precisam deixar o combustível acabar," falou. "Audrey," ele se esforçou para ficar mais sério ao pegar em minhas mãos, descruzar meus braços e me olhar fundo. Por um segundo, meu coração acelerou, em meio a esperança infundada e deslocada. "Não posso te garantir que vai ficar tudo bem, por mais que tenha lido o site deles inteiro, porque eu também nunca voei de balão. Vou entender se você não quiser, não tem problema. Só estou falando que é o tipo de experiência que você deveria ter e é do tipo que eu quero ter com você."

"Não é que eu tenha medo de altura, realmente," comecei, levantando um ombro só. "Eu adoro voar de avião. É só que balão é tão aberto, sabe?"

Ele concordou com a cabeça, e eu senti suas mãos afrouxarem nas minhas. "Se isso te ajuda, eu perguntei e eles nunca tiveram ninguém caindo do balão no meio do voo."

"Ótimo, eu adoro bater recordes," respondi de brincadeira. O único recorde que eu poderia já ter batido na minha vida era de ler o maior número de páginas no mesmo dia.

"Pode deixar, vou me certificar de que eles façam uma placa linda para você na estação de trem. A primeira pessoa que caiu de um balão em Amboise," Johann só parou com a brincadeira porque eu lhe dei um tapa no ombro e reagiu me pegando pelo rosto e beijando minha bochecha. "Entra pelo menos. E depois continua dentro enquanto a gente levanta voo."

Senti minhas pernas amolecerem na hora.

"Eu tenho uma ótima imaginação, Johann, é sério," falei, mas deixei que ele me fizesse andar de volta até o balão. Para piorar meu medo, o cara já tinha terminado de enchê-lo. "Juro que consigo imaginar as coisas sem ter que passar pelas mesmas experiências."

"Ainda bem, né," ele disse, me segurando pelos ombros. "A alternativa é que você é secretamente uma vampira e sabe lutar com espadas. E, desculpas, mas esses braços aqui provavelmente não conseguem nem levantar uma espada senão a de esgrima." Ele ainda apertou meus braços para ilustrar seu ponto, enquanto apoiava a cabeça nos meus ombros.

Senti suas mãos enrolaram em volta de mim, e as minhas foram instintivamente atrás delas, enquanto seus lábios encontravam minha nuca. Ele definitivamente não estava brincando com suas táticas para me convencer, mas eu mantive meus olhos no balão.

Minha imaginação era excelente, eu não tinha mentido, e era mais do que só para imaginar como seria sentir o pulso de alguém no ritmo que seu sangue sairia pelos buracos criados por vampiros. Eu conseguia montar cenas na minha cabeça, alterar detalhes, girar para ângulos diferentes. Sabia que não precisava entrar naquele balão para escrever uma cena em que Marianne ou qualquer outro personagem voasse.

O que me fez finalmente sentir meus pés afundarem na grama molhada da manhã que tinha acabado de começar foi o que eu não sabia ainda. Nunca tinha cruzado aquela linha entre o que eu podia controlar e o que não queria arriscar, porque nunca achei que precisava. E não precisava agora. Mas só a possibilidade de ter alguma coisa do outro lado, de ter um segredo enorme me esperando depois de pousar, um segredo que pudesse me transformar em uma escritora melhor, em uma pessoa melhor, eu queria conhecê-lo.

Não contei para Johann, que estava todo animado ao meu lado e andava mais rápido que eu mesmo se esforçando para não me apressar, nem admiti para mim mesma, mas tê-lo ao meu lado fazia aquele território fora da zona de conforto não ser tão desconfortável assim. Qualquer companhia seria bem-vinda, mas eu já planejava me agarrar a ele quando me arrependesse daquela decisão.

Quando. Não se, porque era certeza que aconteceria, só dependia mesmo de quando seria.

Receita (Infalível) de InspiraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora