Capítulo 4 - Misture tudo com uma dose de esperança

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Virei minha caneca outra vez

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Virei minha caneca outra vez. O café já estava frio e era quase uma aberração para a minha garganta. Mas bebi tudo que ainda sobrava ali, ao mesmo tempo que fazia a pior das caretas. Café era o melhor amigo do escritor, era o que sempre dizia para todos meus amigos que achavam que eu ingeria cafeína demais. Mesmo sem estar com sono, não estava conseguindo me concentrar o suficiente para conseguir escrever. Café naquele momento não era um vício, era uma necessidade.

Voltei meus dedos para o teclado, mirando a tela do computador. A barra piscava no topo da página, esperando que eu começasse a escrever. Capítulo Trinta, isso que já tinha digitado várias vezes. Algumas com o número, outras por extenso. Depois apagava e voltava ao número. Depois dava vários Enter e brigava comigo mesma por fingir que aquilo importava.

E então apagava tudo e pensava de novo em como escrever "Capítulo Trinta". Não que isso importasse, eu tinha quem fazia a diagramação para mim e quase nenhum controle sobre isso.

O lado bom era que nunca tinha me incomodado em dar nomes aos capítulos. Aquilo sim seria a perdição. Não só ter que escrever sabia-se-lá quantas palavras, mas ainda ter que ficar pensando em um título para cada capítulo. Se fosse esse o caso, seria bem mais fácil desistir.

Mas não era. Eu estava no lucro. Entendeu bem, Audrey? Perguntei na minha cabeça. Você está no lucro. Tudo que você precisa fazer é escrever o capítulo!

Passei os dedos pelas teclas, me deixando senti-las. Meu computador ainda era novo, mas já tinha algumas letras desaparecidas e algumas marcas de batalha em volta dele. Mesmo assim, não tinha nada mais delicioso no mundo do que escrever com ele. As teclas batiam rapidamente, quase sem esforço nenhum. E meus dedos já sabiam seu caminho tão bem, que eu nem pensava para digitar.

Isso quando eu tinha algo para falar.

Cheguei minha cabeça mais perto da tela, tentando focá-la o máximo possível. Era isso que ia fazer, parar de pensar. Parar. De. Pensar. Meus dedos escreveriam sozinhos. Marianne não era só uma personagem, eu era ela e estava ali para contar minha história. Sem editoras, sem prazos, sem pensar em livros vendidos em prateleiras de livrarias do mundo. Era só eu, ela e a história.

E uma história boa. Uma história perfeita. Um final digno de todas as viagens que eu tinha feito pelos dois primeiros livros, digno de todas os fãs que escreviam em seus Twitters e postavam fotos em seus Instagrams que estavam esperando ansiosamente o último volume. Precisava ser digno de todas as críticas boas que eu tinha recebido, cada tradução que tinha sido feita para espalhar minha história por mais alguns países. Digna de tudo que eu tinha conquistado. Não queria ser mais uma escritora que tinha criado um universo e um enredo com potencial infinito e acabado ficando com preguiça de desenvolvê-los direito no final. Não queria que duvidassem por um segundo que eu amava aquela história e que me importava com ela. Isso precisava ser visto em todas as linhas. Todas as palavras. E era o que mais me impedia de escrever.

Receita (Infalível) de InspiraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora