Família

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O barulho do trem passando pelos trilhos relaxava Adam junto com a paisagem do interior, as árvores e os ocasionais rios que encontrava quando espiava pela janela do veículo. A natureza estava começando a ficar dormente por conta do inverno e maioria das plantas perdia suas folhas e deixavam apenas galhos secos para serem vistos. Era bom poder ter algo para se distrair enquanto não chegava o momento de ver sua família mais uma vez, ainda que soubesse que essa não era a melhor época do ano para ficar espiando pela janela.

Após uma hora de viagem, estava pronto para encarar seu irmão que o esperava na estação. Havia uma apreensão que não sentia há tempo, desde que as ansiedades da adolescência eram algo na sua vida. Lá estava o tão aguardado rosto familiar, ainda mais alto que da última vez, encarando-o de forma séria, com os mesmos olhos castanhos e cabelo escuro. Era estranho ver como Jon parecia adulto, sentiu que perdeu muita coisa nesses anos que passou sem ter contato com ele e sua mãe, porém não era hora de lamentar mais uma vez, e sim fazer o certo.

— Você está maior. — comentou Adam, sem saber puxar assunto de forma eficiente.

— Você continua pequeno como sempre. — O caçula respondeu com o mesmo tom de voz seco, fazendo menção para que o seguisse.

— Ah, engraçado. — reclamou com sarcasmo. — Você bem sabe que minha altura está na média... mas você realmente cresceu e agora tem...

— Vinte anos, sim. Por favor, não aja como um tio distante que veio para passar o natal. — pediu Jon, indo até o carro de sua mãe e abrindo a porta para o irmão mais velho.

— Então... você continua indo para a terapia ou... — perguntou, sem saber como tocar no assunto de forma agradável.

— Eu larguei tem um ano. Mãe chiou, claro. Eu sei que ela quer meu melhor, mas... — Ele ainda respondia de forma seca, tentando ser breve nas explicações, mas não evitou uma hesitação ao lembrar que sua mãe preocupava-se bastante com isso.

— Ei, você não precisa se justificar para mim, certo? Mesmo que eu não estivesse aqui esse tempo, só quero o seu bem. — disse com a voz firme enquanto o irmão dirigia.

— Exato. Você não estava aqui esse tempo. Beatrice está feliz em te ver de volta, mas isso não apaga o que você fez. Ainda mais quando eu precisei de você. — O caçula falava tranquilamente, mas o tom de sua voz denunciava remorso, era ríspido.

— Não tem desculpa para o que eu fiz com você. Mas entenda que eu também tenho uma vida acontecendo. — Adam tentava se justificar de alguma forma, com a voz séria e direta.

— Eu sei. Não estou com raiva de você ter ido embora para a capital e finalmente viver sua vida em paz. O seu problema mesmo é nunca ter mostrado interesse em voltar aqui para ver seu irmão patético que estava depressivo e sua mãe solteira. — Jonathan aumentou o tom de voz e então ficou em silêncio por uns segundos, respirando. — Você sabe que ela deu o sangue pra que você chegasse onde chegou, né?

— Sim, mas... — Tentou falar, com os olhos ardendo para não chorar, mas foi interrompido. Cada palavra da última frase de seu familiar parecia esmagar seu peito, sentia-se como se traísse eles.

— Sem "mas", cala a boca. Eu precisei de você. Você era a merda do meu maior exemplo e de repente some pra trabalhar longe. Nada contra isso, mas você começou a ficar distante. — Jon suspirou, percebendo que estava começando a ser agressivo com ele.

— Me desculpa. — Adam começou a chorar, sentindo-se acuado e, o pior de tudo, culpado, pois sabia que seu irmão estava sendo honesto com o que falava, e não era mentira. O carro parou e foi para o canto da pista, mas eles não haviam chegado. Tudo parecia inexistente do lado de fora, nem mesmo alguns carros ou caminhões que passavam bem ao lado do automóvel que ambos estavam parecia ter algum som naquele momento.

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⏰ Dernière mise à jour : Mar 11, 2020 ⏰

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