Passado

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  Há pessoas que dizem que a vida é algo para ser positivo, que felicidade é uma questão de apenas ser e não se deixar abalar pelas coisas que as cercam. Existem também aqueles que dizem que ela é uma montanha-russa, cheia de altos e baixos e que no fim ninguém sabe onde vai parar; apenas deixam-se guiar e esperam terminar em algum lugar agradável. George pensava que a vida podia ser programada, até ser surpreendido pela notícia de que sua mãe adoeceu gravemente. Percebeu, então, a verdadeira face da vida, sua forma selvagem e imprevisível.

  Era um agradável dia de outono quando ele estava sentado em sua mesa, organizando seus pertences do trabalho. Com um suspiro desanimado, levou sua mão até a cabeça e apoiou-se em seu braço. A sala escura parecia ainda mais triste devido a notícia que ele recebera naquela tarde. O quadro ainda havia suas anotações sobre a Segunda Guerra Mundial e suas consequências, onde o reflexo da luz que penetrava pelas longas janelas marcava presença.

  Resmungou, levantando da cadeira e indo até a janela. O lado de fora estava escurecendo e parecia que ia cair uma chuva forte em breve. Ele sentia-se tão preocupado com sua mãe que nem consiga demostrar algum sentimento, apenas encarava o céu cinzento da cidade grande.

  — George! — Alguém o chamou do corredor e bateu na porta.

 — Está aberta, entre, por favor. — disse sem se virar.

  — Você sabe que tem nosso total apoio, mas não demore, por favor. O senhor tem um grande valor para nós, os alunos gostam de você e seria bom tê-lo por perto no início do próximo semestre. — Disse a diretora, sentando numa cadeira próxima a ele.

  — Não passarei mais de um mês lá, não quero abusar de sua amizade. — George virou-se finalmente e encarou a mulher, que dava em seu ombro.

  — Vai dar tudo certo, ela vai melhorar. É apenas uma baixa imunológica, você vai ver. Anne ainda tem uns bons anos de vida, com toda certeza.

  — Espero que sim. Vou ter que falar com meu irmão também, faz quanto tempo que não falo com ele? Sete anos, eu acho. — Ele lembrou de sua infância, quando brincava de super-herói com seu irmão mais velho, e não evitou um pequeno sorriso. — Faz anos que ele se mudou e também não me contatou... espero que esteja tudo bem com ele.

  — Tome seu tempo para avisá-lo. É bom estar com a família nesses momentos. — avisou e deu um leve toque em seu braço, demostrando afeto. Bem, preciso ir agora. Até mais. — A diretora despediu-se e saiu da sala, deixando o professor sozinho com seus pensamentos.

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  Uma hora depois, já estava em casa. A primeira coisa que George fez foi lavar o rosto no banheiro e beber um copo de água para tentar relaxar. Tudo isso acontecendo o fazia pensar que a vida é algo tão efêmero e limitado. Um sentimento de frustração invadiu seu interior ao pensar nisso e ele encontrava-se inquieto, sabendo que não podia fazer nada além de esperar o desfecho dessa situação.

  Depois de enrolar por alguns minutos em seu sofá, George pegou o celular e resolveu ligar para seu irmão e dar as más notícias. Suas mãos tremeram por um momento, não estava preparado para falar com um irmão distante depois de anos e contar o que aconteceu com sua mãe.

  — Theo. Desculpa chegar depois de tanto tempo com uma notícia dessa, mas a nossa mãe não está bem. — Contou, não deixando de hesitar durante as últimas palavras.

  — Eu sei que ela ainda pode melhorar, mas é sempre bom se preparar. Você sabe como foi com o pai. Você vai ir até o hospital comigo? — Ao lembrar de seu pai, um nervosismo surgiu dentro dele novamente, do mesmo jeito que ele morreu por câncer, agora era sua mãe que estava naquela situação.

Tudo é CinzaWhere stories live. Discover now