Arrependimento

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A cidade estava relativamente tranquila para uma noite de dia útil. Mal havia carros na rua enquanto os dois vizinhos estavam em seu caminho para o cinema; ao menos não nas pistas que eles usavam. Era uma noite um pouco fria, porém agradável pois não ventava muito.

— É ótimo entrar no seu carro sem estar encharcado. — Adam tentou quebrar o gelo, já que o seu acompanhante estava dirigindo em silêncio.

— Ah, sim. Meus bancos também agradecem. — respondeu com um tom irônico para demostrar que não era algo incômodo. — Aliás, os documentos estão bem?

— Estão; apenas a pasta ficou molhada. Mais uma vez, obrigado mesmo! — respondeu, colocando brevemente a mão no ombro do outro, tentando criar algum contato.

— Então, — George falou um pouco alto, tentando quebrar a investida do outro — com o quê você trabalha?

— Nada muito interessante ou legal. Cursei administração e trabalho como assistente em um escritório. — contou sem vontade de continuar com o assunto.

— Você ainda é jovem. Não fale com essa falta de entusiasmo. Se você gosta da sua profissão, então ela é interessante pra você.

— "Você ainda é jovem". Fala como se a gente tivesse em gerações diferentes ou algo assim. — Adam riu. — Quantos anos você tem?

— 32. E trabalho como professor de História. — disse de forma direta.

— Isso é legal. Deve ser bom trabalhar com gente, eu acho. Aliás, eu tenho 25 anos.

— Terminou a faculdade cedo, pelo visto.

— É, terminei, sim. Porém não sei se foi positivo porque... — Adam parou de falar e olhou pela janela, arrependido por sequer ter começado esse assunto. — Chegamos. — anunciou após alguns segundos em silêncio. George respeitou o óbvio desconforto do outro ao falar do assunto e não questionou.

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A sala do cinema estava mais gelada que o normal para Adam e ele arrependeu-se por não ter levado uma jaqueta para evitar esse possível desconforto. O filme blockbuster de ação passava na tela enquanto os dois assistiam em silêncio e o mais novo evitava tremer, sem êxito.

— Você tá com frio, né? — George perguntou com a voz baixa, percebendo que o outro estava com os braços cruzados e rentes ao corpo. — Toma minha jaqueta. — Despiu a peça e entregou na mão dele, sorrindo gentilmente.

— Nossa, eu sumo aqui dentro. — falou enquanto colocava a roupa que cabia dois dele e se aconchegava novamente na cadeira.

— Sim, sou gordo e maior que você, né? — George riu e voltou a focar no filme, tirando o olhar do seu vizinho.

— Sim. E eu gosto disso. — disse de maneira descompromissada e apertou a roupa mais rente ao seu corpo. O outro não conseguiu evitar uma leve pontada de vergonha que sentiu com essa afirmação. Ainda bem que a sala estava escura e ninguém podia ver sua expressão sem jeito.

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Quando o filme acabou, os dois resolveram ficar um pouco mais no local e caminhar um pouco durante a noite. O ambiente mudava bastante quando ficava realmente tarde e o silêncio imperava, não havia nem carros passando na rua. As luzes dos postes pareciam ser a única coisa que ainda transpassava um pouco de segurança na madrugada para ambos.

— A gente devia ir embora logo. — George sugeriu, olhando o horário em seu celular.

— Tem razão. — O outro concordou brevemente e foi em direção ao carro.

Tudo é CinzaWhere stories live. Discover now