| Prólogo

4.3K 638 74
                                    

Então, bora começar essa jornada? Vamos ter muitas risadas, raivinhas e é claro muito romance que é o que esse mundão precisa. haha

 haha ♥

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Maya



Bem, era isso. Naquele momento, eu estava ao lado do meu glorioso futuro.

Desanimada, observei a senhorinha com cobertores escuros e puídos nos ombros atirar migalhas para os pássaros perto da escadaria da praça. Ou melhor, para os pombos. Os pombos me fizeram pensar diretamente na minha irmã, Gaby. Por algum estranho motivo, ela nutria certa antipatia pela ave.

"Pombos são como nabos. Ninguém gosta muito", Gaby disse certa vez, quando estávamos na praia de Copacabana e um pombo se aproximou do nosso guarda-sol. Suas penas tinham ganhado um angustiante aspecto molhado e seboso, deixando a cabeça da ave deformada de maneira que a mesma poderia ter saído diretamente de um episódio de The Walking Dead.

  Claro, os pombos de Roma não eram nada The-Walking-Deadianos. Afinal, se tratavam dos pombos da cidade mais artística do mundo. Talvez não pudessem competir com os pombos-modelos da estilosa Milão, mas, francamente, quem poderia competir com modelos de Milão? Pombos ou humanos?

  Deixei o salto do meu escarpam afundar no pequeno espaço do calçamento no chão. Então comecei a comer os biscoitos que deveria transformar em migalhas, enquanto pensava no triste fim da minha curta carreira de Carregadora de Papel Higiênico.

Droga.

Eu nem queria essa carreira. Na verdade, achava que pouca gente gostaria de assumir esse cargo (principalmente depois de sofrer anos a fio nos bancos de uma Universidade) e, provavelmente, um número ainda mais restrito de pessoas viria gastar o dinheiro suado da irmã mais velha para carregar papéis higiênicos do outro lado do Atlântico. Seria muito mais fácil fazer isso no Brasil, onde meus níveis de vitamina D nunca corriam o risco de cair drasticamente e onde não precisaria explicar quase todo o dia que NÃO, minha língua nativa NÃO ERA ESPANHOL.

   Mas o que eu poderia fazer? Estava seguindo o sonho brasileiro. Sim, o sonho brasileiro de ter experiência profissional fora do país apenas para depois voltar para casa coberta de glória e de bons salários. Quantas vezes eu não me enxerguei sorrindo de forma doce para um entrevistador encantado com a minha competência internacional? Eu mesma, vestindo algo legítimo da Calvin Klein, (Não da Calvin Qlein como a etiqueta no suéter pelo qual briguei em um bazar de roupas quase de grife), poliglota, e com o meu cabelo tão hidratado que faria inveja em modelos. Quem sabe até nas de Milão?

   Eu não tinha escolhido Roma por acaso. O fato era que eu realmente acreditei que a cidade poderia me refinar. A Itália era arte em essência. Além disso, desde que assisti Sabrina vai à Roma na sessão da tarde aos nove anos, eu sabia que um dia trocaria o nome por Maya vai à Roma. Então se iniciaria a minha própria aventura.

   Uma pena, minha chefe, Antonella Bernadini, não pensar o mesmo. A única aventura que ela me oferecera em três meses como sua estagiária era cuidar sumariamente do abastecimento de papel higiênico no nosso andar. Claro, havia outras coisas para preencher meu dia. Coisas como buscar a cadela dela no pet shop, trazer café, tirar as ervilhas da salada de ervilhas porque ela só gostava da "remota presença das ervilhas" quando fosse almoçar...

  E tudo ia relativamente bem (para ela, pelo menos) até duas horas atrás, quando Antonella tentou me obrigar a desentupir uma privada.

Ah, não.

Aquilo foi demais.

Foi demais até para o meu suéter da Calvin Qlein que, sem dúvida, seria alvejado de forma irreversível no trabalho. 

E então, em questão de segundos, eu estava vomitando três meses de indignação com uma fúria que jamais fora assistida nem mesmo no Casos de Família. Resultado: demissão do Working Experience que Gaby e eu trabalhamos tanto para conseguir.

Como voltar para casa assim? Como dizer para Gaby que todo o dinheiro que ela economizara à duras penas para custear meus passos na Europa teria sido desperdiçado?

  Não voltaria. Preferia arranjar um cobertor xadrez puído e me unir a senhorinha dos pombos. Nós poderíamos ter dois daqueles carrinhos de supermercado com um monte de coisas aleatórias. Ou será que ela já tinha um?

Ao pensar nisso, voltei o rosto procurando a amiga dos pombos, mas a senhorinha tinha sumido. Vasculhei a praça apinhada de turistas e terminei por encontrá-la bem longe, perto da Fontana di Trevi, a famosa fonte dos desejos de Roma.

  Como ela poderia ter chegado lá tão rápido?

  Assisti quando ela se virou de costas e, por fim, com a mão direita, atirou uma moeda sobre o ombro esquerdo. A moeda ricocheteou pelo ar e caiu na fonte. Provavelmente no mesmo momento em que a angústia do meu desemprego dava lugar a algo inusitado. Uma lembrança. Eu já tinha estado ao redor de Fontana di Trevi muitas vezes desde que chegara a Roma, mas JAMAIS havia atirado uma moeda nela. Sempre estive esperando por uma oportunidade certa que nunca chegara...

  E de repente: Bingo! Essa era a minha solução!

  Cambaleei pelos degraus e comecei a me espremer contra os turistas como se minha vida dependesse disso (o que não era de todo mentira). Os saltos não ajudavam. Alguém pisou no meu dedinho e eu aleijei o pé de uma pessoa no caminho, mas, por fim, estava diante dela. Procurei rapidamente uma moeda na minha bolsa (Cecília Brado), virei de costas e fechei os olhos, concentrando-me com força no meu desejo (ou no meu desespero, não fazia muita diferença naquele momento). Um instante depois... Atirei a moeda.

   Pluft.

  E eu já estava de frente para a fonte novamente.

  Tive um instante de frenesi. À espera de alguma coisa. Se fosse na visão de Stephen King, muito provável, à espera de um milagre. Os turistas ao meu redor falavam em várias línguas e ao mesmo tempo, mas eu sequer conseguia ouvir. Estava concentrada.

   Estava confiante.

   Estava...

   Estava...

   Provavelmente ficando louca.

   A razão me atingiu com uma bem-vinda bofetada no rosto. Meu Deus! O que eu estava imaginando? Que lançar uma moedinha na água faria com que uma solução mágica viesse até mim, voando pelo céu?

   Suspirei, irritada.

   O que o desespero não fazia com uma pessoa relativamente normal?

  Por fim, arrumei minha bolsa nos ombros.

  Certo. Era hora de ir para casa, aproveitar enquanto eu ainda tinha uma.

Quando dei o primeiro passo, algo me atingiu bem na testa e com uma força tão inesperada que me fez perder o equilíbrio. Meus saltos se embaralharam e, antes que eu pudesse evitar, estava sentada no chão, levando graciosamente mais duas mulheres que estavam atrás de mim.

   Muitos palavrões em italiano foram pronunciados, mas eu não liguei. Estava mais preocupada com o que, maldito seja, tinha me atingido.

   Era um jornal. Perfeitamente enrolado. Daqueles que os entregadores atiram pelos ares em filmes americanos. Esfreguei a testa com uma mão e, com a outra, agarrei o jornal.

   É nisso que dá pedir soluções aos céus. No máximo você consegue um galo na test...

   E foi exatamente quando os meus olhos encontraram. Um anúncio polido e simples, mas que parecia bastante apto a salvar a minha pele.

Era uma vez em Roma | Apenas Degustação! Where stories live. Discover now