Capítulo 2: ERIC, A NOITE E A BALCONISTA DO CINEMA

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Degustação de original pela autora Gabriela Flumignan

Obra "Quatro Elementos a Traição"

DIREITOS AUTORAIS PRESERVADOS

Reprodução, cópia ou distribuição não autorizada

31.531.068/0001-20

2. ERIC, A NOITE E A BALCONISTA DO CINEMA

Me lembro que, quando eu abri os meus olhos, estava meio tonta. Eu sabia que havia perdido algo em minha memória, e devia ser isso mesmo. Tinha tido algum sonho peculiar, mas não conseguia me lembrar qual.

Já passava das sete da noite. Cochilara por alguns minutos. Meu estômago parecia um trovão quando roncava de fome. Devia ter algo na geladeira que fosse de comer.

Desfiz o laço de meus braços em Isabela, desembrulhando-a. Peguei suas folhas e as coloquei na escrivaninha, virando-me para fitar minha irmã mais uma vez. Não sabia como alguém tão pequeno e indefeso podia ser tão... Talentoso, corajoso e esperto. Os cachos ondulados estavam cobrindo seu rosto como cortinas. Ela respirava fundo, encolhida, envolvendo os braços em si mesma. Seu rosto quase sumia em seus cachos. A noite negra e a iluminação dos postes de luz no lado externo justificavam o fato de o quarto estar meio azulado. Peguei sua manta predileta no nosso armário, tomando cuidado para não fazer um ruído, mas é claro que o guarda-roupa não gostava de mim: o barulho foi de uma gralha arrotando. Isabela não se mexeu.

Bom, hora de preparar o jantar.

Para vocês aí que estão lendo, camaradas: se algum dia sua casa virar um campo de batalha, verifique a brecha debaixo da porta e veja se os inimigos estão em casa. Nunca devem se render. Me joguei no chão para revistar o assoalho.

Eles já tinham saído e deixado o apartamento em ordem. Abri a porta em silêncio, pronta para assaltar a geladeira. Parecia que Zeus estava em meu estômago, iniciando uma nova batalha.

Estava acostumada a me alimentar, basicamente todos os dias, com carboidratos ou proteína. Meu metabolismo me salvava, mas Isabela precisava de mais nutrientes do que isso. De vez em quanto conseguia escapar com Isabela e levá-la para a sorveteria, desfrutar do açúcar o qual sinto falta, deixando a diversão fluir em si.

Naquela noite, consegui cozinhar macarrão e legumes. Fiquei na cozinha de braços cruzados, esperando, até servir o macarrão, temperá-lo e misturar com queijo. Não consegui me conter e devorei um prato em dez minutos, mas foi preciso muito sacrifício para engolir legumes. Separei os restos em grandes vasilhas e fechei. Lavei a louça e deixei escorrendo.

Depois... Bom, peguei-me olhando o relógio de ponteiro da parede. Eles deviam ter saído há uma hora, e não voltariam tão cedo.

Sabe, não devia ser uma hora ruim para tentar me esquivar dali e dar uma volta. Era só eu retornar antes das quatro da manhã e nem seria descoberta...

Mas... E quanto a Isabela?

– Pode ir. – Asseverou ela.

Percebi que eu estava babando feito uma tapada para a porta. Virei minha cabeça.

Minha irmã estava no corredor. Seu cabelo parecia ter sido atacado por uma galinha. Seus olhos estavam com a pupila pouco dilatada, misturando-se com a sombra de sua palma.

– Devia estar na cama. – Adverti. – Quer jantar?

– Eu já vi essa sua cara muitas vezes. Pode ir. Vou ficar bem.

– Está maluca que vou deixar você sozinha em casa – disse, agachando-me para salvar seu cabelo castanho que parecia gritar por socorro.

Ela franziu a testa.

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⏰ Last updated: Jan 12, 2020 ⏰

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Degustação original "Quatro Elementos a Traição"Where stories live. Discover now