primeiro elemento, chuva

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de gota em gota, miguel conseguia sentir as pancadas torrenciais da chuva infindável daquele último começo de tarde de dezembro. sozinho, miguel correu para a janela do seu quarto, todo molhado, a ver se conseguia cerrar as vidraças à tempo. com os últimos pássaros que fugiam rapidamente para seus ninhos, conversava lentamente, ao som da chuva. decidiu sair de casa com toda sua roupa, queria sentir-se completamente ensopado. de uma rua sem saída e sem vizinhos, miguel contemplava os raios e relâmpagos de uma certa distância. sozinho, miguel aquietou-se debaixo de um pé de árvore, arriscando-se. o bruto barulho do trovão assustou a sua calmaria, arregalando os olhos adiante. dono de uma beleza indecifrável e sozinho, miguel tira sua blusa, amarrando-a na cintura. as gotas, pesando um total de dez quilos cada uma, escorriam por sua clavícula, deixando traços que não podiam ser apagados com a força do vento. sozinho, miguel confunde-se com o que ora talvez fosse seu choro, ora suas lágrimas, sentindo o olho coçar fortemente. com as pernas afundadas em rios de chuvas, cada passo dele exigia uma força de mil cavalos para se deslocar. ao escutar o som da chuva parar, sozinho, miguel, pôde ouvir o seu soluçar surgindo bem distante, tendo finalmente noção, de que estava chorando há um certo tempo. de maneira abrup- Miguel, miguel! você vai demorar muito aí, cara? vai acabar com a caixa d'água. miguel! ao abrir os olhos, sozinho, miguel fecha a torneira do chuveiro, pegando a toalha mais próxima para se enxugar.

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