Capítulo 7

23 1 0
                                    

Com a situação praticamente resolvida, a dor dos ferimentos começou a dominar os dois, tanto que quando foram chamados para os atendimentos quase não conseguiram se levantar e andar. Ambos sentiam como se tivessem sido agredidos naqueles minutos em que ficaram ali. Cada um seguiu uma direção no corredor depois de serem convocados pelos médicos. Um médico que parecia ter a mesma idade que os amigos para atender Felipe e uma profissional não muito mais velha para Annabelle.

No ambulatório, assim que a profissional fechou a porta, a mulher tirou a blusa branca de listras pretas com mangas 3/4 que usava e mostrou o corte perto da alça do sutiã que era seu ferimento mais doloroso no momento. Além da limpeza, alguns pontos foram necessários para evitar infecções. O corte no dedo era menos grave, assim como as outras escoriações, e sem dor de cabeça a médica não achou que a queda com a pancada, como Annabelle contou, merecesse preocupação. A preocupação dela foi com as marcas roxas no pescoço da jovem que precisou garantir algumas vezes que o amigo não a havia agredido.

Já Felipe, ao contar o tempo que havia ficado desacordado e a febre que teve, preocupou o médico que o encaminhou diretamente para a sala de raios-X. O exame descartou qualquer lesão séria e ele pediu apenas para que o homem ficasse atento a qualquer sintoma como tontura ou dores de cabeça nos próximos dias. Caso acontecesse ele deveria voltar imediatamente para a emergência do hospital. Antes de cuidar dos ferimentos o médico pediu para uma enfermeira colher uma amostra de sangue para análise e só depois fez os curativos necessários para poder liberar o paciente.

— Só remédios para dor, — disse Annabelle ao ver o amigo sentado em uma das cadeiras na recepção. — E você?

— Também, — ele ficou em pé. — E uma foto do crânio. — Felipe levantou o envelope que segurava na mão direita.

— E isso aí — a mulher apontou para a dobra do braço dele onde havia um curativo redondo.

— O médico vai mandar para analisar pra descobrir o motivo da febre — esclareceu ele.

— Espero que ele não descubra. — Os dois riram enquanto caminhavam devagar para fora do hospital.

— E o corte nas suas costas? — perguntou Felipe enquanto as portas de vidro deslizavam.

— A médica deu uns pontos, mas não achou sinal de infecção. Igual ao da mão, mas esse não precisou de pontos — Annabelle mostrou a mão enfaixada. — Ela ficou foi preocupada com as marcas no pescoço. Achei que fosse chamar a polícia.

— Acha que fui eu quem agrediu você?

— Infelizmente eles devem receber muitas mulheres nessa condição... — lamentou Annabelle.

— Sim, — concordou Felipe. — Um bando de covardes. Eu jamais faria uma coisa dessas — acrescentou.

— Eu sei — afirmou a mulher com um sorriso.

— Acho que agora eu assumo o volante — disse o homem parando ao lado da porta do motorista.

— Você vai me deixar em casa?

— Se importa se a gente for até o café primeiro? Eu liguei pro meu pai contando o que aconteceu e ele esperando a gente lá, — explicou Felipe apontando para o carro com o polegar direito.

Annabelle olhou para a carroceria do Fiat Strada onde a mercadoria que eles haviam ido buscar, o motivo da viagem, estava armazenada em segurança apesar de todos os acontecimentos. A mulher concordou e apenas sugeriu que passassem em uma farmácia no caminho para poderem comprar os analgésicos receitados aos dois.

Ver a fachada do Art's Café iluminada pelos primeiros raios de sol era como acordar de um pesadelo. Depois de ajudar o pai a descarregar o carro, enquanto Annabelle preparava duas xícaras de café a pedido do patrão, Felipe se sentou ao lado da amiga em uma das mesas com a bebida acompanhada por um pedaço de bolo recém-preparado por Arthur logo que chegou à cafeteria.

EscuridãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora