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— Eles estão demorando, né?

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— Eles estão demorando, né?

Eu assinto, olhando para a única janela aberta, perto da lareira. Já está começando a escurecer. Mia também parece notar.

Ela olha para o relógio.

— Como pode demorar tanto para pegar alguns pedaços de pau? — Ela joga a cabeça para trás, apoiando no sofá. — Jesus, quanta demora!

Um barulho do lado de fora irrompe.

— O que foi isso? — Mia pergunta, com os olhos arregalados.

Parecia uma pedra batendo contra alguma coisa. Uma pedra de tamanho considerável.

Acontece mais uma vez. O barulho oco chegando a nossos ouvidos de forma mais clara agora.

Mia se move no sofá, claramente assustada.

— Nora. — Sua voz é um sussurro.

Eu encaro a janela, meu coração batendo mais rápido.

Escutamos passos lentos do lado de fora, na varanda. O piso de madeira velho cedendo com o peso do corpo.

Um, dois.

Um, dois.

Há apenas uma passada do lado de fora, e não três. Não há a risada alta de Colton ou os comentários idiotas de Felix.

— Nora — ela diz novamente. Dessa vez a sua voz é mais urgente.

Ela diz como se eu pudesse fazer alguma coisa. Como se eu devesse que fazer alguma coisa. Mas me encontro na mesma situação que ela.

Amelia volta a minha mente. Flashes rápidos de seu corpo sem vida.

Então, quando os passos parecem cada vez mais alto, cada vez mais próximos da porta, eles param.

Mia tem os olhos arregalados. Seu corpo está tenso e ela olha para a porta fixamente.

Vários segundos se passam e não há mais movimento ou barulho algum. Nós nos encaramos, igualmente tensas e confusas.

E então, de repente, a janela mais próxima da gente se abre com violência pelo lado de fora e alguém pula para dentro.

Mia grita.

Por instinto, meu corpo se afasta violentamente, fazendo-me quase cair do sofá.

Felix rola pelo tapete da sala, aos nossos pés. Sua gargalhada ecoando por todo o cômodo. Mia o encara com a respiração forte, ainda parece chocada.

— Não acredito que isso realmente funcionou — ele diz, em meio ao riso.

Mia o chuta. Com força. Mas ele continua rindo.

Meu coração continua batendo violentamente contra meu peito.

Quero matá-lo.

— Vai pro inferno, seu filha da puta...

Mia segue xingando todos os palavrões já inventados na nossa língua enquanto Colton e Kai passam pela porta. Eles param na sala, carregando uma grande quantidade de lenha.

— Dorme de olhos abertos hoje, imbecil — Mia ameaça, sem tirar os olhos de Felix.

— Eu te avisei para não fazer isso, cara. Ela vai te degolar durante o sono — comenta Colton.

Felix não parece nem um pouco abalado.

— Vai ter valido a pena.

Ela sorri, mas o sorriso não alcança seus olhos.

— Espero que sim.


...


A lua está muito brilhante, fazendo com que a noite não esteja tão escura. Dá para ver com facilidade todo o campo de grama baixa que cerca a cabana, mas mais distante, na floresta, é diferente. Há muita escuridão devido às árvores extremamente próximas umas das outras.

Observo as folhas balançando com o vento gelado. Imagino-me adentrado as árvores e me perdendo naquela escuridão. Um calafrio sobe a minha espinha e estou prestes a fechar a janela no instante em que meus olhos se prendem a algo.

Um movimento entre a escuridão das árvores. Uma sombra que não pertence às folhagens ou aos galhos.

Move-se de forma familiar e lenta. Como...

Como uma pessoa caminhando.

— Kai. — O seu nome sai da minha boca de forma desesperada.

Ele está deitado na cama, já de pijama.

— O que foi? — ele indaga. Em poucos segundos, está ao meu lado.

Mas, o que quer que fosse lá fora, já não está mais ali. Eu pisco, tentando encontrar novamente.

Mas se foi.

A sombra desaparece completamente na escuridão.

— O que, Nora? — Sua voz é urgente e confusa.

Eu me viro para ele.

— Tinha alguma coisa na floresta.

Ele franze o cenho.

— Como assim alguma coisa? — ele pergunta, devagar.

— Não consegui ver direito. Só consegui ver algo se movendo entre as árvores.

Ele olha lá para fora novamente e então volta a me encarar.

Kai suspira.

— Provavelmente era um urso ou algo assim. O cheiro da janta pode ter atraído ele.

Não respondo. Ao invés disso, encaro o lugar exato onde tinha visto a coisa.

— Vem, você tá muito tensa. Sei algumas formas de te fazer relaxar.

Seus lábios estão em meu pescoço enquanto ele passa seus braços ao meu redor. Mas meus olhos continuam bem abertos, encarando a mata.

Depois de alguns beijos suaves, Kai me puxa pela mão e me leva até a cama.

Tento tirar aquilo da minha cabeça e não transformar em algo maior do que realmente é. Mas é difícil e minha mente não consegue parar de tentar decifrar o que poderia ser.

Eu não sei o que vi, mas tenho certeza absoluta de que aquilo não era um urso.

Quando Pecadores RezamWhere stories live. Discover now