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- Como assim noivo papai?

- Noivo Carolina. Você está terminando a faculdade e o combinado era você se casar logo que terminasse essa baboseira de graduação.

- Mas...

- Carolina, eu acredito que você deva subir e tomar um banho, ficar apresentável para o jantar. - Papai disse no tom que eu sabia que não podia contrariar. Apenas acenei concordando.

- Com licença. - Dei um sorriso sem graça para o tal Menegati. É vergonhoso ser repreendida na frente de estranhos.

Não é por nada não. O tal Menegati até que é bonitinho, mas casamento arranjado? Pensei que papai iria deixar eu cumprir a tal promessa a ele da forma que eu achasse melhor, ou seja, eu escolhendo o noivo e não o contrário. É horrível.

Subi as escadas o mais rápido possível e também, silenciosamente, como sempre exigia papai. Droga. Quem eu estava enganando? Eu não podia fazer isso. O pior de tudo é que eu sequer podia falar com as meninas. O telefone de casa ficava perto de onde papai estava sentado e eu não tinha celular.

Tomei banho e me troquei em menos de quinze minutos. Estava pouco me importando se o tal capitão me acharia bonita ou não. Eu estava tendo meu pior pesadelo.

Desci do mesmo modo que subi, silenciosamente, e vi quando meu pai e o tal do noivo deram uma gargalhada alta, para qualquer baboseira que eles pudessem estar conversando. Entrei na cozinha onde mamãe estava preparando o tal jantar. Ela ignorou minha presença e isso cortou meu coração.

- Termine de me ajudar a preparar a salada e depois arrume a mesa para mim por favor.

- Mãe... O que está acontecendo?

- Eu estou terminando de fazer o jantar Carolina isso que está acontecendo.

- Mas mãe...

- Carolina, seja obediente por favor e faça o que estou te pedindo.

- Mas mãe, papai quer que eu me case. - disse baixinho.

- Sim Carolina, desculpa filha, mas eu tentei fazer de tudo para seu pai mudar de ideia. Não posso fazer mais nada filha. Você tem que obedecê-lo apenas.

- Mas mãe, eu não quero

- Eu sei filha, mas ele é seu pai. - Ela parou de mexer na panela e suspirou. - Basta obedecê-lo Carolina, você sabe que é assim que funciona.

A dor de ver e ouvir mamãe concordando e aceitando o que papai estava fazendo era massacrante. Foi neste momento que eu vi que não havia outra opção a não ser ir embora. Por mais que machucasse saber que estaria longe dos meus pais e não teria apoio de qualquer um deles, não superaria a possibilidade de me ver livre desse inferno. E o pior, casar com uma cópia de papai e que eu não amo.

Terminei de fazer tudo que mamãe havia pedido no mais absoluto silêncio. Não preciso nem dizer que o jantar foi profundamente massacrante. O tempo todo papai fazendo elogios a mim que eu sequer sabia que existia, mas ele era tão convincente que eu quase acreditei no que ele dizia.

O tal do capitão sorria o tempo todo e quando me olhava era um pouco assustador. Ele não escondia que queria entrar na minha calcinha e o pior de tudo, meus pais faziam vista grossa para isso, como se fosse a coisa mais normal na face da terra. Cadê a bendita autoridade de papai nesta hora?

Havia momentos que parecia que eu estava vivendo naqueles filmes de terror surreais. Não podia ser verdade como as coisas estavam transcorrendo na minha vida. Eu queria poder acordar logo e sair desse pesadelo, mas a gargalhada de mamãe fez com que eu acordasse do devaneio. Aquilo não era um pesadelo. Era a mais pura verdade e eu estava começando a ficar apavorada com aquilo.

Fiquei em silêncio o tempo todo. Primeiro porque eu não conseguia sair do choque que eu estava noiva de um cara que eu nunca tinha visto na minha vida - além dele ser a cópia exata de papai. Segundo porque eu precisava analisar uma saída para aquilo e eu revoltar nesse momento não adiantaria muito.

Estava começando a me sentir um pouco sufocada com toda aquela atenção exagerada ao tal capitão pelos meus pais. Pedi licença e fui para o banheiro para poder respirar um pouco um ar que não estivesse contaminado com toda essa coisa de família feliz e filha perfeita que eles estavam tentando me repassar.

Olhei-me no espelho e vi que estava branca como papel. Abri a torneira e joguei um pouco de água no meu rosto e molhei também um pouco do meu pescoço. Sequei-me devagar evitando ter de voltar para aquele circo de horrores. Respirei fundo para tentar voltar a aparência calma e abri a porta. Quase soltei um grito quando vi o tal capitão com as duas mãos segurando o batente da porta, fechando minha saída e olhando diretamente para mim.

- Oi Carolina. - disse abrindo um sorriso mais assustador do que na mesa do jantar.

- Oi... - Caramba, como eu podia chama-lo? Capitão? Menegueti? O cara é meu noivo e eu nem sei seu nome. Deprimente Carolina. Deprimente.

- Eu estava esperando a noite inteira isso acontecer.

- Mas o que... - sequer consegui terminar de falar quando ele foi logo me empurrando para dentro do banheiro novamente, me prendendo na parede e me beijando. Oh céus, que situação constrangedora essa. O cara me beijando e a única coisa que eu pensava era que estava molhado demais... Será que ele escovou os dentes? Falta muito para terminar? Fiquei divagando enquanto o tal do noivo continuava sua exploração de língua na minha boca.

Eu lia isso nos livros, do cara de prender na parede e fazer você derreter em seus braços, o beijo mais sensacional do universo todo e comigo não aconteceu nada disso. Nadinha. Nem mesmo uma faísca. Eu realmente precisava me livrar dessa situação logo.

Ele finalmente se afastou de mim e sorriu. Quem ele pensa que está enganando? Se isso foi uma tentativa de sedução ele estava muito, mas muito enganado. Acho que nem se eu beijasse um cara aleatório na rua fosse tão ruim quanto foi beijá-lo.

Coitado. Não é culpa dele. Se fosse em outra situação eu poderia até gostar dele, quem sabe. Mas essa história de ficar noiva através de papai não ia funcionar. Pelo menos para mim.

Eu estava cedendo, mesmo que isso me tornaria uma pessoa sozinha futuramente. Eu estava cedendo. Eu pegaria qualquer valor que a Babi pudesse me oferecer, trabalharia se fosse necessário. O que for que desse para eu fazer, mas eu não iria casar com um cara que eu não amo.

Não mesmo.

* * * * * * * * * *

Capitulo de presente para dona Raiane <3 Por agradecimento a tudo que ela sempre faz, me ajudando o tempo todo e ainda.

E ainda, para lhe desejar um feliz aniversário recheado de coisas boas ;)

A data do próximo capítulo se mantêm: 18/09

O segredo de Carolina (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora