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Último dia.

Hoje é o último dia neste verdadeiro inferno, pois é exatamente isso que a minha casa se tornou.

Não que tenha sido um mar de rosas a minha vida inteira, mas, desde que eu cumprisse todas as regras impostas pelo papai, a vida poderia ser tranquila.

Agora, eu tenho que aguentar a empolgação da mamãe com um casamento que me enjoa só de pensar, um noivo invasivo, que não sabe me respeitar e que demonstra ter atitudes ainda piores do que de papai. Ou seja, se eu casasse com ele, minha vida seria umas mil vezes pior, para dizer o mínimo.

Depois daquele ataque do capitão Meneguetti - vulgo noivo -, no banheiro, tenho evitado qualquer situação em que ele poderia ter a mesma atitude. Ou seja, até mesmo ir ao banheiro eu deixo de ir, pelo menos enquanto ele estava aqui em casa. E não era fácil, já que ele vinha todas as noites com o meu pai, depois deles saírem do quartel.

Eu mal via a hora de chegar o dia da viagem, eu, com certeza, colocaria tudo a perder, já que papai nunca me perdoaria por fazer o que estou prestes a fazer, mas não havia outra opção.

E eu não casaria com o homem tosco que ele escolheu para mim.

Meu estômago amanheceu se retorcendo de tanto nervoso. O medo de todo o plano que tracei com as meninas não dar certo era pior que o medo dele dar. Afinal, ele dando certo, eu sabia que estava apenas por mim e que nunca mais poderia contar com meus pais. Agora, se o plano não desse certo e eu não conseguisse embarcar para Lisboa hoje, eu teria que casar com o tal do capitão e provavelmente papai faria isso o mais rápido possível, apenas para me punir e, então, não haveria mais nada que eu pudesse fazer.

Claro que eu não estava muito empolgada na possibilidade de me ver, praticamente, sozinha no mundo, era assustador. Isso nunca esteve nos meus planos enquanto crescia. Mesmo meu pai sendo como ele é, pensei que poderia contar com a minha família, até eu não tê-los mais. O problema é que nem sempre as coisas vem como nós planejamos.

E agora eu estava a poucas horas de tudo isso acontecer.

O plano para poder viajar era simples: eu sairia de casa para ir para universidade, mas não voltaria mais. Depois de pegar as últimas orientações em relação ao curso, iria para casa da Babi com ela e a Jacke e de lá, iríamos para o aeroporto. Do aeroporto para Lisboa.

E adeus pai autoritário e casamento arranjado.

Para que meus pais não percebessem e eu não tivesse mais uma dificuldade para sair de casa, todos os dias, quando ia para a faculdade, eu levava algumas roupas ou pertences para a Jacke. Colocava alguns pertences dentro da minha mochila, uma quantidade suficiente para que meus pais não suspeitassem do volume, e deixava tudo para Jacke, que colocaria dentro de uma mala.

Estava fazendo isso desde o dia em que decidi viajar para Lisboa. Claro que foi ideia das minhas amigas que eu fizesse isso e hoje eu agradeço mentalmente por elas serem bem mais espertas que eu. Porque com o nervoso que eu estou, descer as escadas com uma bolsa e uma mala e ainda não fazer barulho para não acordar meus pais, seria uma missão impossível.

Apesar de toda agitação em meu estômago, fiz de tudo para agir como todos os dias em casa. Não poderia despertar nenhuma desconfiança. Para mamãe, contei que não estava muito bem de estômago, assim, justificaria o motivo por eu não comer tanto nesta manhã. Claro que tive que prometer que me alimentaria melhor durante o almoço enquanto estava na universidade.

Olhei para mamãe enquanto ela mexia com a louça do café da manhã. Apesar de saber que ela não concorda em muitas coisas com que papai faça, eu sei que perderei ela também. Ela nunca ficaria ao meu lado quando o meu lado seria ficar contra papai. Talvez fosse a última vez que eu pudesse olhar para ela.

O segredo de Carolina (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora