Capítulo 1

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Capítulo I

O verão vai indo e eu sinto o outono chegar, respiro fundo ao som de Katy Perry nos meus fones de ouvido indo até o colégio. Lisy anda ao meu lado, ela ainda não acordou, estico meu braço e sinto dor, — Droga! – Digo em pensamento mordendo a parte de dentro do meu lábio, - Que dor! – penso, mas não emito som algum, olho para ela de novo e ela boceja. Eu já havia retirado a minha tipoia depois de 45 dias, havia fraturado meu braço e estava tudo muito bem. Eu achava!

O Katrina havia que passado dentro de mim, destroçou-me, eu sobreviveria, sabia que sobreviveria, eu estava bem. Havia me recuperado por fora, mas por dentro estava arrasada, sufoquei todos os sentimentos e entrei no meu modo piloto automático. Estávamos no último ano do colegial e eu estudava à tarde, mas as cantadas eram frequentes, eu não ouvia, eu as ignorava. Já estávamos no final de abril e eu, apenas estudava, contando os dias para o meu aniversário de 18 anos.

Entro na sala de aula, Carlos vem em minha direção e eu o desvio indo pelo outro lado entre nossas carteiras, guardando meus fones e o celular, mas mesmo assim ele me barra. Seus olhos castanhos, pele morena do sol, cabelos desalinhados bem mais alto que eu, e corpo atlético, sexy. Seus olhos me caçam, conheço aquele olhar, tentando adivinhar meu pensamento, eu apenas olho, não sorrio e nem fecho o rosto. Ele se apoia na carteira ao lado e eu de pé na sua frente, vestindo uma blusinha colada azul, calça jeans skinny e meu famoso tênis all star, segurando meu fichário junto aos meus seios, fazendo com que eles fiquem mais empinados, e de atravessado em meu corpo, descendo sobre meu bumbum, minha bolsa caramelo com uma carinha de sorriso bordada com um chaveiro de uma clave pendurada. Carlos simplesmente desliza seu olhar dos meus olhos e vai descendo, passando por meus seios, cintura, até os pés e depois faz o processo inverso, me sinto como se estivesse a venda, que cômico! Mas sem perceber eu estou vermelha.

Ótimo! - Diz minha intuição, aquela maldita voz na minha cabeça.

— Cada dia mais linda! – é o que Carlos me diz quando seus olhos retornam aos meus, e cruzando os braços ele continua.

— Não sei se é o amor que está te deixando cada dia mais linda ou se é outra coisa. – diz ele, dando dois passos para trás e sentando em cima da minha carteira, eu continuo parada onde estou e não tenho nada como resposta, eu desvio o olhar e solto uma lufada de ar, a sala ferve de burburinhos, ele não dá a mínima atenção, a não ser pra mim.

— É sério? Você não tem nada pra fazer? – não gosto dele. Não vou com a cara dele, que garoto mais idiota.

— Não, meu bem. Você está cada dia mais gostosa, se não entendeu, e está na hora de você derreter o gelo ao redor do seu coraçãozinho! – ele joga charme, mas comigo não cola.

Eu olho para ele de soslaio, que cara mais atrasado!

— Não perde seu tempo. – sem querer reviro os olhos, ter que aguentar conversas tão estúpidas acaba com o meu dia. — Quando eu derreter o gelo ao redor do meu coraçãozinho pode ter certeza que já estarei morta! – olho e passo por ele fechando a cara. Que garoto mais imbecil!

Ainda estou me recuperando do furacão chamado Willian, que me arrasou, mas Carlos está serenamente me olhando, não esboçando nem uma reação com a minha resposta, apenas sorri. Ele calmamente se levanta e vem pra cima de mim, primeiro chega seu cheiro, que por incrível que pareça é uma delícia, vem me encarando firme nos olhos e me diz no pé da orelha:

— Eu quero beijar essa sua boca carnuda e sentir seu calor, mas quando você me deixar. Eu não vou insistir, mas também não vou desistir ok? Basta você me olhar e eu vou entender! – a voz era mais grossa agora enquanto ele falava e plantando em meu ombro um beijo, me causando arrepios e então ele passa por mim e se dirige a sua carteira. Eu sento na terceira carteira na quarta fila. Lisy senta na quarta fileira na terceira carteira, ficando reta a mim. Eu estou pasma e ainda de pé.

Will nunca havia falado comigo dessa forma e eu ainda estava triste, arrasada pelo fim do nosso relacionamento breve e eu realmente gostava dele, não havia escutado nada dessa forma até aquele momento. Eu me sento, minhas pernas estão bambas, aquela maldita dor me corta ao meio, respiro fundo para não entrar em pânico quando lembranças daqueles dias povoam minha mente. Respira. Respira. Respira. Respira Respira. Respira Respira. Respira Respira. Respira Respira. Respira Respira. Respira. – mentalmente continuo recitando esse mantra que há anos venho usando.

— Ju? – é a voz de Elisa me trazendo de volta ao presente. Me viro para trás e passando os olhos para encontrar os de Elisa, lá está Carlos me olhando, do outro lado da sala, nos fundos da sala, eu entendi seu olhar, ele só quer ir para cama comigo. Ele queria, quer e vai continuar querendo.

Torno a me sentar desconfortavelmente. Lisy, que havia chegado ao fim da conversa me olha embasbacada com o que acabou de presenciar, vejo pânico em seus olhos, ela já me conhece, deixa uma garrafa de água gelada na minha mesa, eu bebo, preciso acordar. Eu tenho controle, entendeu Juliana! – penso, preciso me manter lúcida, não posso surtar, não posso entrar em pânico, quando algum homem chegar perto de mim ou flertar, preciso conversar com Joana com urgência. Preciso saber lidar com meu passado, eu sabia que um dia chegaria a ser adulta, sabia que seria flertada, o problema era, saber como lidar com isso sem que eu perdesse o controle, mas, havia algo em Carlos que não havia em Willian, a confiança. Eu não confiei nele e não confiaria, algo em Carlos me mantinha em estado de alerta máximo. — Preciso me controlar, eu consigo. – cada segundo é crucial para mim me acalmar, começo a ouvir a minha respiração e tento normalizá-la como tenho feito ao longo dos anos.

**

— Sério? Ele te disse isso? Mas ele é um "galinha"! Tremendo filho da mãe! – sua voz é de espanto. — Bom, também não me espanta nada, basta você se olhar, e pode ter certeza que na lista das mais bonitas e gostosas do colégio você está! – ela me olha exclamando essas palavras.

— Lisy, eu não quero ele e nem homem algum na minha vida, tenho problemas demais! Eu não me olho direito! Faz semanas que não me arrumo como as outras meninas! Estou com a cara limpa! Não tem rímel e nem sequer um gloss na minha face, e você me diz isso? De onde você tirou? – ela me fala cada coisa em momentos nada apropriados.

— Juliana, em que mundo você vive? Você está diferente depois que o Will te deixou, você emagreceu pelos menos uns cinco quilos, você tá mais bonita e confiante, pelo menos é isso que passa pra mim, se bem que não se cuida muito, mas você tá estudando e, além disso, você tem as melhores notas da classe, o que você esperava? – Gesticulando como uma boa alemã, seus braços não param de se mexer nem por um segundo, ela tenta me impressionar, só que eu já sei como ela é. Seus olhos me fitam, e ela nem sabe do que escondo aqui dentro, não tem ideia do meu segredo e como luto dia e noite para me livrar daquelas lembranças. Eu desvio o olhar e volto atenção onde ele está, sentado no num bando e cercado de meninos de outras salas, enquanto um deles fica de informante, trazendo e levando recadinhos das garotas. Acho isso tão infantil e insuportável, a postura de Carlos ao me olhar vai de superior a orgulhoso e confiante ao mesmo tempo, como se, algum dia, eu estivesse ao lado dele.

— Você não comentou mais nada do William e achei que ele fosse águas passadas, mas você não deu brecha pra ninguém, até que o Carlos percebeu sua defesa baixa e tentou. – eu a olho, quero que aquela maldita sineta toque de uma vez para terminar essa conversa que não nos levará a lugar algum.

— Não quero nada com ele, você sabe, "galinha" não faz meu estilo. Temos ensaio para a festa junina, vamos. – a chamo quando vejo no relógio pendurado na parede do refeitório, que falta menos de um minuto para terminar o intervalo.

— Eu adoro isso! Amo festas juninas! – ela diz em tom sarcástico, não via a hora que chegasse a festa junina.

A sineta toca.

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