15.

617 87 2
                                    

Foi quando assumi para mim mesma que era impossível que senti uma energia boa iluminar meu coração. Era um insight. Felizmente eu aprendera a escutar essa fonte de inspiração e sabedoria toda vez que ela vinha. Lembrei de todos aqueles jovens entusiasmados comigo e com Raul. Todos eles sedentos por saber de mim tudo que tinha acontecido. Tive a ideia de gravar um vídeo contando minha versão da história e no final eu pediria ajuda para encontrar Raul.

Eu virei a câmera para mim e comecei a gravar.

Olá a todos vocês. Sou Pamela Morning Star. Eu sobrevivi. Quero compartilhar minha história com vocês e pedir sua ajuda.

Eu me apaixonei por Raul. Essa parte vocês já sabem. Nós moramos juntos nas terras lalulis. Fomos felizes e também tristes no começo de tudo, mas soubemos apoiar um ao outro. Nem eu e nem ele entendíamos como nosso amor podia causar tanto mal ao mundo. Sempre acreditamos no oposto disso, desde o início, e, no final, descobrimos que estávamos certos. O amor é mesmo transformador. Foi por amor que eu consegui mudar a direção daquele bonde voador. Foi por amor que eu e Raul levitamos pela primeira vez juntos. Mas há ainda mais que amor, sabiam? Acreditar faz toda diferença e é a chave para tudo. Vocês sabem agora, lalulis eram lalulis por que acreditavam que eram; e braites eram braites por que acreditavam que eram. Esse acreditar era perigoso, pois separava o nosso povo. Hoje sabemos que isso era uma mito. Como também é um mito achar que os braites tinham que estar sempre felizes para praticar magia e os lalulis não conseguiam praticá-las por causa de suas dores e tristezas. Nada disso. É claro que todos nós queremos ficar bem, sermos leves e felizes, mas a vida é muito mais profunda que isso, foi o que aprendi com Raul. O sofrimento é parte da vida e não podemos passar a vida toda fugindo dele ou podemos nunca viver de verdade. Não é agradável sofrer, mas foi sofrendo que eu encontrei minha força e me superei. Foi assim que escapei do exílio. Depois, eles sabiam que eu e Raul estávamos fortes demais e foi, por isso, que nos prenderam em celas separadas. São celas com uma magia proibida que eu nunca tinha visto operar. Uma magia do mal que suga toda sua energia. Nessa cela eu me senti sugada e achei que não sobreviveria. Por 5 anos eles retiraram de mim minha magia e minha força interior. Foi horrível. No início eu não conseguia nem para me levantar do chão. Ainda assim, alguma coisa muito poderosa que existia dentro de mim que é esse acreditar que me deu força para eu me manter viva dia após dia. De tanto bater no mesmo canto de uma parede ela se rompeu, pude sentir a magia voltando para dentro de mim e eu escapei.

Nesse instante do vídeo deixei as lágrimas brotarem em meus olhos e chorei.

Mas Raul ainda não conseguiu escapar. Eu preciso da ajuda de todos vocês, por favor. Se souberem de qualquer lugar que pode ser um cela, qualquer lugar estranho ou se sentirem qualquer energia maligna, por favor, me avisem. É tudo o eu peço. Eu acredito que ele está vivo. Acreditem comigo.

No final do vídeo inseri a hashtag #Acredite.

Foi incrível acompanhar as visualizações do vídeo. O crescimento era exponencial e rapidamente viralizou. Recebia diariamente milhares de mensagens de ajuda. Eu lia todas com vontade. Fui em cada um dos lugares que me disseram, mas a cela de Raul continuava secreta de todo o mundo.

Meus pais assistiam à minha luta inglória e tentavam manter a positividade, acho que não queriam que eu perdesse a esperança. Mas eles não precisavam se preocupar, pois era por aquilo que eu acordava dia após dia. Eu tinha que encontrar meu Raul. Tudo só faria sentido se ele estivesse comigo. Foi por ele que tudo começou. Tudo o que eu quis foi poder ficar com ele em um mundo justo e para isso acontecer ele precisa estar aqui.

Eu vivia cheia de esperança, apesar de tudo. Era ainda mais forte que esperança. Eu acreditava que encontraria Raul. Só queria poder encontrá-lo logo.

Dessa vez, Papai foi comigo. Havia recebido uma dica sobre uma região cheia de grutas bem longe das nossas casas. Chegamos lá. Fomos procurando, procurando, sem parar. Existia mesmo uma energia ruim daquele lugar como se o ar não fosse tão fresco e ideias sombrias quisessem grudar em seu cérebro.

Começamos a ingressar na gruta e não havia luz alguma. Fiz as paredes da gruta brilharem tal como havia feito com a ponte de cristal. Fomos andando e estávamos cada vez mais fundos. Um barulho grande de terra. A saída atrás de nós se fechou. Segurei forte na mão do meu pai. Conseguimos nos acalmar. Prosseguimos a cada instante mais profundos. No final, a figura de um homem encolhido. Corri em sua direção e para minha surpresa era o juiz presidente da Cúpula Suprema. Ele estava magro, maltrapilho e notei que não conseguia se levantar.

— O que aconteceu? — perguntei triste.

O velho juiz não conseguia falar. Dei-lhe água. Ele tomou desesperado, depois sorriu agradecido.

Notei que suas pernas e mãos estavam todas machucadas. Ele parecia magro demais para parar em pé.

— Vou te ajudar — falei.

Meu pai segurou o velho juiz de um lado e eu de outro.

— Vamos sair desse lugar — meu pai falou.

— É para já.

Teletransportei todos nós para nossa casa. Minha mãe quando viu o estado daquele homem cuidou de molhar alguns panos e depois passou na pele daquele velho senhor com cuidado. Nós o alimentamos e cuidamos dele como se fosse alguém da família.

— Fez muito bem de trazê-lo para cá — disse minha mãe sorrindo. — Mas foi ele que te condenou. Por que fez isso?

— Ele só fez o que qualquer juiz da Cúpula Suprema faria àquela época se julgasse um caso como o meu. Tenho tristeza no coração por ele. É... talvez eu nunca teria feito as coisas que ele fez, mas ele não merecia definhar naquele lugar horrível. Eu não podia deixá-lo ali. O mundo já mudou. Só espero que ele saiba viver nesse novo mundo.

Escutei um barulho e notei o velho juiz entrando no nossos aposentos.

— Eu não sabia e esse mundo era possível, foi por isso que te condenei. Imaginei que se você fosse solta haveria uma guerra entre braites e lalulis.

— Quem irá saber, talvez existisse essa guerra... talvez não. Eu e Raul nunca quisemos nenhuma guerra.

— Vocês eram jovens, não sabiam de nada.

— Talvez soubéssemos mais do que vocês julgavam. Você precisa dar uma volta nesse novo mundo. Não há mais diferença entre lalulis e braites. Há diferença apenas entre aqueles que acreditam que podem e aqueles que não acreditam. — O velho balançou a cabeça pensativo. — Onde está Raul?

— No mesmo lugar que me achou.

— Como você foi parar lá?

— Eu fugi. Não há nada por lá. Ninguém poderia me matar ali.

— Sabe, eu quis me vingar no começo — confessei. — Depois só pensava em sair daquele lugar horrível. Ele está em uma cela como eu lacrada de magia maligna? — Ele assentiu. — Há celas dessas por lá?

— Construímos duas. Uma para você e outra para o jovem laluli e lacramos as duas salas com uma magia proibida que apenas os velhos juízes braites da Cúpula Suprema conheciam.

— Me leve para lá — pedi.

— Você me salvou. Eu te ajudo — ele respondeu firme.

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora