11.

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Eu repassava em minha mente pela milésima vez minha despedida, lembrava com saudade dos olhos doces de Raul e mentalizava para que ele tivesse forças para cumprir sua promessa.

Gostava de imaginar Raul feliz na casa dos meus pais, rindo com eles e aproveitando o tempo. Gostava de imaginar que minha ausência não tinha partido tantos corações e causado tanto sofrimento. Queria, no fundo, algo muito simples que todos ficássemos bem e só. Tudo porque não podia suportar a ideia dos meus pais e Raul sofrendo. Esperava que eles conseguissem força para permanecerem firmes e que conseguissem outros que vissem tudo como nós víamos.

Passava os dias sozinha querendo estar com eles. Passei muitos dias chorando e alimentando minha tristeza. Como se acarinhar tanto minha ferida, fosse fazer aquela dor com dentes afiados, que me demorava por dentro, ir embora. Não ia. Depois de dias de tristeza, veio uma raiva intensa demais. E numa noite em que senti uma raiva maior que podia suportar e uma dor profunda demais de saudade resolvi usá-las para falar com Raul e foi assim que vi algo que todos entendiam impossível acontecer: eu tinha conseguido furar o bloqueio mágico do exílio. Chamavam essas coisas impossíveis de acontecer de miracle em homenagem ao maior Mago de todos os tempos: Mister Oracle, que foi quem quebrou diversos tabus e libertou magias importantes.

— Raul? — perguntei vendo sua imagem aparecendo para mim.

— Pam? — ele falou emocionado — Por Oracle, você conseguiu furar o bloqueio de isolamento.

— Como você está?

— Estou bem — ele disse olhando para baixo. — E você? — Ele me olhou com aquele olhar de quem queria muito me abraçar.

— Eu também quero te abraçar — disse sorrindo. — Parece que as saudades me ferem por dentro...

— Eu também — ele sorriu feliz de me ver. Eu sorri, fechei os olhos, imaginei que o beijava e senti como se acontecesse, parecia um sonho.

— Que delícia! — ele desabafou contente.

— Você sentiu? — perguntei admirada.

— Senti — ele respondeu contente. — Você sempre me surpreendendo. Não sabia que braites conseguiam fazer invocações com sensações físicas também.

— Eu também não sabia! Nunca tinha feito antes — falei emocionada. — Raul, me conte tudo! Não aguento mais não saber de nada...

— Você estava certa. Há lalulis querendo mostrar que são mais poderosos que os braites. E os braites não querem perder prestígio e espaço. A situação não é boa — ele falou com os olhos angustiados.

— Os lalulis já estão fazendo magia braite? — perguntei admirada.

— Esse termo "magia braite" nem é mais usado pelos lalulis... Estamos fazendo sim.

— Foi tão rápido assim? — perguntei curiosa.

— Para alguns foi imediato, tão logo souberam... outros tiveram que ver antes outros fazendo para acreditar que também podiam.

— Que bom! — falei feliz.

— É bom e não é... Estou com medo. Muitos não percebem dessa forma.

— Precisamos espalhar a verdade — falei angustiada.

— É só o que eu tenho feito, Pam. Passo todo o tempo na grupo que criei, se chama Somos um. Saio com eles para praças e ruas de grande movimento, explicando como tudo começou. Modéstia à parte, eu levo jeito — ele contou orgulhoso.

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora