Capítulo 3 - Perdendo o controle.

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Encarei Louis de cima a baixo. Ele usava uma blusa preta e calças jeans escuras. Observei bem o seu rosto e noite algumas olheiras.

- Você não dorme direito, Louis?- perguntei.

- Não.- murmurou.- É praticamente impossível.

- Por que?

Ele ficou em silêncio, tentando evitar me responder.

- Por que?- repeti.

- Eu escuto vozes.- disse de repente.

- Vozes?- eu queria ter anotado isso em algum lugar, mas não trouxe o meu bloco. Só podia contar com minha memória.- E o que elas dizem?

- Nesse exato momento estão brigando comigo por ter te contado sobre elas.- respondeu.- E também dizem que não devo confiar em você.- ele ficou mais sério.

- Você pode confiar em mim, Louis.- balancei a cabeça.- Por que não confiaria em mim? Estou aqui pra te ajudar.

Louis levou uma das mãos a cabeça e fechou os olhos com força. Ouvi ele murmurar um parem bem baixinho.

- Você está mentindo.- disse.

- Não estou.- repreendi.

- ESTÁ MENTINDO, ELAS DIZEM QUE VOCÊ ESTÁ MENTINDO!- gritou. Será que é um bipolar?

- Acalme-se, Louis, por favor.- fiquei nervosa.

Louis levantou-se da cama e se aproximou de mim, ele estava furioso e ficou cara a cara comigo. Recuei, mas tive que encostar na parede, por conta do quarto ser pequeno. Comecei a tremer. Com o rosto próximo ao meu, encarei bem os seus olhos. Tremi mais ainda ao ver o azul deles sumindo e dando lugar a um preto bem escuro, que foi tomando conta do olho inteiro de Louis. Mas que raios era aquilo?

- NÓS NÃO TE QUEREMOS AQUI.- disse ele.

Em seguida, ouvi um estrondo na porta. Andrew chamou dois seguranças para entrarem no quarto. Eles agarraram Louis e o jogaram pra bem longe de mim. Andrew me puxou pra fora do quarto. Eu chorava por causa do susto. O que era aquilo nos olhos de Louis? Pelo vidro da porta, eu via Louis ameaçando bater neles, enquanto os seguranças gritavam para ele se acalmar. Uns segundos depois, Louis socou a parede e pude ouvir o barulho do lado de fora. Foi um soco bem forte. Após isso, ele já estava calmo de novo e os dois seguranças saíram do quarto.

- Peço desculpas, Doutora Emma.- disse Andrew.- Ele é realmente um jovem muito difícil, e tem esses ataques quase sempre. 

Eu ainda me acalmava do susto. Respirei fundo mais uma vez.

- Tudo bem. -respondi.

- Vou entender perfeitamente se não quiser mais ajudá-lo. 

Pensei um pouco antes de dar minha resposta. 

- Não. Eu vou continuar tentando. Vou ajudar Louis, não posso deixá-lo.

- Mas ele é um pouco... perigoso.

- Andrew, eu estou bem. Acho que posso controlar Louis se isso acontecer de novo. Eu sou uma psicóloga, sei resolver. Só foi a minha primeira vez aqui, vou me acostumar com o jeito dele.

 - Tem certeza?

- Absoluta. E eu quero entrar no quarto mais uma vez.

Andrew arregalou os olhos.

- Isso é sério?

- Claro, eu ainda não terminei com ele.- respondi, decidida.

Andrew perguntou algo aos seguranças, que deram de ombros.

- Hmm, tudo bem. Vamos continuar aqui, caso precise.

- Obrigada.- olhei pelo vidro, e Louis encarava o chão. Senti pena dele ao lembrar que sua vida é isso desde os 16 anos.

- Louis.- o chamei, ele olhou pra mim sério.- Não tente me expulsar outra vez, por favor. Eu só vou embora daqui quando conseguir o que eu quero.

- E o que você quer?- perguntou enquanto eu fechava a porta e fazia um sinal para Andrew com a cabeça.

- Quero saber os seus problemas, a sua história. Sou uma psicóloga e preciso dessas informações.- contei.- Soube que você está aqui desde os 16 anos.- comecei.

- Temos mesmo que falar desses assuntos? Elas não gostam disso. Eu também não.- ele cruzou os braços.

- Elas quem?

- Essas coisas que ficam irritando a minha mente. Graças a elas que estou aqui. As vozes. Elas fazem as pessoas pensarem que sou maluco. Mas eu não sou!- gritou a última parte com raiva.

- Eu acredito em você, Louis.- falei.

Ele olhou pra mim, seus olhos voltaram a ser azuis, o que me aliviou um pouco. 

- Bem.- continuei.- Me conte, desde quando essas vozes estão aí?

- Desde sempre. Elas não me abandonam nunca. Desde criança é esse inferno.

- Continue.- pedi.

- Essas vozes me irritam demais, quando eu era só uma criança, eu não tinha amigo nenhum por causa delas. Eu discutia com elas em voz alta, e às vezes, até perdia o controle. As outras crianças tinham... medo de mim.- ele abaixou a cabeça.

Minha vontade de ajudá-lo só cresceu mais ainda. Simplesmente não posso abandonar Louis, ele não merece essa vida, ele não merece essas vozes.

Voices |L.T|Where stories live. Discover now