Parte 2

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Ando rápido até a porta da cozinha já esperando o pior. Antes de chegar, começo ouvir as conversas sussurradas:
— Miguel — falou Isaac — não é para comer isso agora.
— Mas estou com fome Zac.
— Aguente mais um pouco estamos preparando o café da manhã para as boas vindas do papai.
Ouvir aquilo foi reconfortante, meus amados filhos também estavam sentindo a falta do pai, que a 15 dias precisou viajar a trabalho para Nova York e nós ficamos aqui no Brasil morrendo de saudade.
Lembrar da falta de meu marido, fez com que eu recordasse de todo o percurso do nosso relacionamento. Eu tinha apenas 15 anos quando o vi pela primeira vez, eu estava com muita raiva de minha mãe, por forçar-me a ir a mais um jantar dos empreendedores do papai. Eu sempre fui uma menina muito tímida, que gostava de viver entre meus livros.
Sou filha única e tenho pais que sempre viajavam muito a negócios, e eu sempre ficava aos cuidados das babás. Para suprir a falta da presença dos meus pais eu lia.
Lia bastante, a partir da leitura eu podia viajar, sonhar que tinha pais presentes, que cuidavam de mim, que me colocavam para dormir, que diziam que eu era linda, que me parabenizava por minha conquistas.
Minha imaginação sempre foi muito fértil e a fantasia ajudava a enfrentar meus problemas. A partir daí eu descobri minha grande paixão: escrever.
Eu comecei a escrever o primeiro livro aos doze anos, naquela época eu tinha muita vergonha de mostrar os meus textos. Minha família nem imaginava que eu escrevia, minha mãe teria um ataque apoplético, como quase teve quando descobri que sua filha escrevia fantasia, mas eu já estava casada e o Pablo soube coloca-la em seu lugar.
Nessa época eu conheci uma plataforma de leitura o fanficteiom.net, era uma site de fanfics. No começo eu apenas lia, principalmente baseados em Harry Potter.
O rascunho do meu primeiro ficou por dois anos guardados. Apenas quando já tinha 14 anos foi que lancei o primeiro capitulo na plataforma. Ele foi um grande sucesso e na época que conheci Pablo já estava no segundo livro.
Naquela noite eu só queria ficar em casa escrevendo, eu já estava com um capitulo atrasado e minhas leitoras ficavam cobrando.
Por mais que eu insistisse dona Cristina estava irredutível:
— Samantha eu não quero discussão é uma noite especial para seu pai, ele quer fechar um contrato com aquele espanhol e por favor tente ficar o mais apresentável possível, pois não quero passar vergonha.
Ela saiu do quarto deixando-me apreensiva. Eu não era uma menina bonita, a adolescência não tinha sido generosa comigo. Enquanto meninas da minha idade já tinham corpos esculturais, com seios e quadris largos. Eu ainda parecia uma criança, era muito magra, não tinha seios, para compensar eu usava um sutiã e enchia de algodão para dar uma aparência melhor, fora o meu corpo eu ainda era míope e usava uma armação grande e meu rosto era cheio de espinhas, ou seja, eu não era uma menina que qualquer homem daria uma segunda olhada.
Quando minha mãe saiu, fui até o meu closet e escolhi um vestido. Arrumada olhei no espelho, minha vontade era me enterrar em minha cobertas e não sair daquele quarto, mas pelo que conhecia de minha mãe ela era capaz de vim ao quarto e me arrastar, mesmo que fosse pelos cabelos, ela era uma mulher muito controladora que a vida em sociedade eram mais importante que a própria filha.
Desci as escadas e encontrei meu pai, ele era o contrário de minha mãe. Enquanto seu Henrique era bondoso, carinhoso e que sempre aproveitava o pouco tempo que estava em casa para curtir comigo.
— Oi princesa.
— Oi papai — disse correndo e lhe abraçando, não tinha abraça melhor no mundo, era o que pensava até aquele dia.


Ao chegar a festa eu fiquei a maior partir da noite sentada em uma mesa, eu não conhecia quase ninguém. Ao longo da noite eu não lembro de muita coisa, eu ficava passando em minha cabeça o próximo capitulo que escreveria e não prestava atenção em nada.
Minha mãe em um momento veio ao meu lado apenas para brigar comigo:
— Samantha ajeite-se, seu pai está vindo, com o investidor.
Quando olhei para cima vejo um homem alto bem alto de corpo musculoso, cabelos azeviche, pele morena, olhos azuis turquesa, queixo quadrado com uma barba que preenchia seu rosto, ele era o espanhol que meu pai estava fazendo negócios.
Pablo naquela época tinha 30 anos e eu era apenas uma menina, ele não me olhou com segundas intenções, mas eu estava perdidamente apaixonada, foi amor à primeira vista, naquela eu fui picada pelo bichinho do amor
O segundo encontro com Pablo aconteceu três anos depois. Eu estava ingressando na universidade, minha vontade era fazer jornalismo, mas meu pai queria que eu fizesse administração, para cuidar das empresas.
Nesses três eu sempre lembrava daquele espanhol, que em apenas uma noite arrebatou meu coração. Eu já era uma mulher feita, meus tão sonhados seios deram o ar da graça, eu ganhei um pouco quadril e fiquei apresentável.
Os rapazes perceberam a diferença do meu corpo, mas eu tinha mudado por fora, porem por dentro eu continuava a mesma menina tímida, que sonhava com um belo espanhol.
Um dia eu estava em casa tratando de escrever o ultimo capitulo do meu terceiro livro, quando meu pai entrou no meu quarto e me comunicando que haveria um jantar e minha presença foi solicitada.
Como sempre fui a força dessas reuniões, mas minha noite não foi deveras maçante, fui brindada pela presença ilustre de Pablo.
Ao contrário da outra vez, eu fui notada pelo meu amado, ele passou a noite me encarando, seus olhos me seguiam para onde fosse, por diversas vezes nossos olhares se encontraram, meu coração quase parava e as borboletas no meu estomago davam o ar de sua graça, porque eu também não parava de encará-lo.
No final da noite quando estava em casa suspirando feliz por tê-lo visto mais uma vez, meu celular tocou, era um modelo antigo, as redes sociais ainda não eram muito usadas na época.
Eu olhei o visor e vi que não conhecia o número, atendi o mesmo com medo, mas não me decepcionei.
— Hola! — uma voz forte com um sotaque espanhol carregado soou do outro lado da linha.
— Oi — falei com vergonha. Eu não era capaz de falar mais que isso.
— Como esta Samantha?
Ouvir meu nome completo sendo dito por uma pessoa que não fosse meus pais era bem diferente, vindo dele era prazeroso. 
— Eu vi você essa noite e não consigo lhe tirar da minha mente... Por isso consegui seu número e gostaria de chama-la para sairmos amanhã à noite.
— Clarooo.
— Boa noite! Amanhã mando meu motorista lhe busca.
Sem esperar minha resposta desligou. Eu passei o resto daquela noite acordada sonhado com o meu espanhol e inspirada escrevendo uma linda história de amor que nasceu naquela dia.  
O nosso primeiro encontro foi muito especial, eu fui tratada como uma princesa, Pablo levou-me para jantar em um restaurante três estrelas Michelin, onde ele era investidor.
Pablo foi um perfeito cavalheiro abriu a porta do carro quando fui descer, puxou a cadeira para sentar-me, me ouvia quando eu falava, seus olhos caliente não me abandonaram um minuto e sua mão sempre estava me tocando em algum local do meu corpo, e apenas no final da noite ele me beijou, fazendo eu ter certeza que ele retribuía meus sentimentos.
Nosso namoro foi breve, e logo estávamos casando, no primeiro ano de casada o Isaac nasceu, eu parei a faculdade e quando ele tinha apenas seis meses, eu descobri a gravidez dos gêmeos. Quando Isaac completou um ano eles nasceram.
Ao longo dos anos nosso relacionamento sofreu bastante reviravoltas, brigamos muito, sofri muito, nos separamos, voltamos, aprendi a conviver com suas qualidades e seus defeitos, e agora completamos dez anos juntos. 
Apenas depois de casada e por influência do meu esposo que leu meus rascunhos eu tomei coragem de lançar meus livros ao mundo. Hoje estava sendo rodado o segundo filme baseado em meus livros.

O Presente de NatalWhere stories live. Discover now