Capítulo 17

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As palavras de Guga ficavam martelando na minha cabeça como um tic tac de um relógio cuco. Eu queria chorar e estava irritada por isso. Há muito tempo não chorava e isso estava sendo muito frequente ultimamente, o que eu não gostei, nenhum pouco.

— Miguel! — Gritei da cozinha, enquanto me servia uma taça de vinho, esperando o garotinho aparecer.

Esse menino trapaceiro.

— Meu pai foi embora?

— Sim.

— Vocês vão voltar a namorar?

— Eu não sei Miguel, eu não sei.

— Se vocês namorarem, vocês podem se casar depois e você ser minha mãe.

— Você está fixado nisso, não é? Eu sei que você está ansioso e não vai gostar da minha resposta, mas há muita coisa acontecendo agora. As coisas precisam se acalmar para que tudo se resolva.

— E vocês vão se casar?

— Você não deveria ter deixado o seu pai entrar em casa.

— E por que não?

— Eu não queria, seu pai sabe disso, mas vocês aproveitaram que eu estava dormindo. Estou muito chateada com você.

— Me desculpe tia.

— Você está sentindo a desculpas de coração ou está apenas falando da boca para fora?

— De coração.

— Então tudo bem, só não faça isso novamente.

Ele assentiu.

— Agora sente aqui. Está com fome? Quer que eu cozinhe alguma coisa ou quer pedir alguma coisa?

— Não estou com fome não.

— Quer jogar War?

— Não sei jogar isso não.

— Isso é um absurdo garoto! Como não sabe jogar War? — Fui até a dispensa e peguei meu tabuleiro e as peças. Essas crianças não sabem a emoção de um jogo de tabuleiro.

Um absurdo.

Foram algumas horas até ele pegar o jeito, mas depois disso, eu ganhei apenas uma vez. Fazia tempo que não me divertia tanto.

Acabamos pedindo pizza no fim da noite, antes de dormirmos. O tempo que passamos jogando foi tudo que eu precisava para distrair a minha cabeça. Não queria pensar nas palavras de Guga, muito menos analisar tudo o que estava acontecendo. Pelo menos não agora.

Fiquei tantos dias longe do meu sobrinho. Só queria aproveitar o meu tempo com ele e não ficar remoendo os problemas.

Logo que coloquei o Miguel para dormir, passei a mão em seu cabelo e fique o observando enquanto ele, literalmente, desmaiava em poucos segundos. Eu adorava ficar olhando ele dormir quando era bebê. Era o momento em que eu poderia sentir a paz de todo o mundo. E agora, mesmo ele já grande, eu não deixava de ter o mesmo sentimento. Talvez seja por isso que algumas mães não querem nunca que seus filhos cresçam.

Deixei a luminária acesa e apaguei a luz.

Arrumei a bagunça que foi deixada na sala e na cozinha antes de apagar as luzes e ir me deitar, mas ao colocar meus dedos no interruptor da sala, um brilho no sofá me chamou atenção. Ao pegar a aliança dourada. Meu coração batia tão forte que me roubou o fôlego, mesmo assim, arrisquei colocar no meu dedo, sentindo tremor em meu corpo inteiro.

Perder VocêWhere stories live. Discover now