Capítulo 8

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Cheguei em casa exausta.

Apesar de não ter sofrido quaisquer consequências de uma ressaca, como foi no caso da Mel, eu já não tinha estrutura física para aguentar uma noite de bebedeira no meio da semana. Meu corpo ficava moído por vários dias até que pudesse me sentir normal novamente.

Depois de um banho relaxante, estava pensando seriamente em pedir alguma comida. Não estava no clima para pensar em cozinhar, muito menos ficar na cozinha por algum tempo. Vantagens e desvantagens de morar sozinha. Cozinhar para si mesma, muitas vezes, não tem o estigma de ser tão bom assim. Tanto trabalho para você mesma todos os dias não é o que eu considero a melhor coisa do mundo. Mesmo gostando de preparar minha comida, mais vezes do que posso imaginar, mas hoje não.

Estava jogada no sofá, fuçando no aplicativo de comida, buscando alguma coisa que me inspirasse para comer, quando a campainha de casa tocou.

Meu coração batia rápido. O porteiro não havia ligado e eu não estava com clima nenhum para socializar com qualquer vizinho que seja. Mas com as luzes de casa acesas, eu não poderia fingir que não tinha ninguém em casa.

Mesmo que a vontade fosse bem grande.

Desanimada, abri a porta para uma surpresa melhor do que eu esperava.

— Miguel! — Meu sorriso se ampliou ao ver meu sobrinho na porta de casa, segurando um bolo bem na sua frente e um sorriso mostrando que um de seus dentes estava faltando. — Será que é meu aniversário e eu esqueci?

Procurei mentalmente a informação de que poderia ser aniversário do Miguel ou até mesmo do Guga, mas não era. Se fosse isso, estava comprovado o quanto eu era uma tia terrível.

— Não tia, papai disse que você gosta de bolo.

— Ah é? E aonde está o seu papai?

— Está trazendo o resto da comida.

— O resto da comida?

— Sim, nós achamos que você estaria com fome depois de trabalhar o dia todo. Ainda não comeu, né?

— Não comi — respondi com um sorriso. — Que tal me entregar esse bolo para que eu possa colocá-lo na mesa?

— Toma — ele quase jogou o bolo nas minhas mãos antes de sair correndo.

Coloquei o bolo na geladeira e assim que eu me virei para procurar os dois, eles entraram pela porta de casa, como se ali pertencessem. A sensação de que aquilo já tinha acontecido em outra época foi tão grande que eu fiquei um pouco confusa.

— Pensei que você pudesse estar com fome. Uma chamada pessoal, talvez? Tem algum problema? — Perguntou ele logo que fechou a porta de casa.

Eu não me importava. Muito pelo contrário. Mas também tinha entendido o esquema dele. No momento que ele trouxe o meu sobrinho, eu nunca poderia expulsá-los da minha casa. Eu tinha um amor por esse garotinho, maior que ele poderia imaginar.

— Sem problemas. Estava procurando algo para comer agora mesmo. O que você trouxe?

— Bem, considerando que eu tenho um filho com gostos peculiares, trouxemos esfirras abertas. Se você não gostar, podemos pedir qualquer outra coisa, não vamos nos ofender.

Acabei sorrindo.

— Esfirra está bem.

— Mesmo?

— Sim, ainda mais quando você trouxe bolo de sobremesa.

Ele sorrio, coçando seu pescoço.

— Pois é, o bolo eu tinha certeza que seria perdoado, caso a comida não agradasse.

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