Terceiro

87 6 0
                                    

Steinfeld High School — Aula de Inglês — 9h53min — 2º Dia de Aula

Era o segundo tempo de aula e os sons de beijo ainda não tinham parado. Tinham se multiplicado, se for possível. A minha vontade era de gritar no rosto de cada um dos que estavam me perturbando com isso. Eu nunca tinha sofrido bullying na escola e sei que isso não está nem perto de ser, mas já odeio.

Desde quando o fato de eu nunca ter beijado na boca era tão importante para as pessoas?

Era apenas a segunda aula de literatura deste semestre, já que ontem neste horário nós já tínhamos voltado do auditório, mas as coisas estavam acontecendo incrivelmente rápidas. Foi só a primeira aula do professor de Saúde, mas ele já tinha deixado uma lista de exercícios para amanhã e essa nem era uma classe avançada.

Eu gostava de literatura e a senhorita Burnan é uma boa professora, por isso eu não desconfiei de que as coisas iriam começar a piorar justo na aula dela. Faltando cinco minutos para o sino tocar, ela parou de explicar a matéria para dar um aviso.

— Bom, alunos, vamos fazer algo diferente nessa aula. Quero que vocês desenvolvam o costume de falar em público, que percam o medo de plateia que muitos têm. Por isso, nos cinco minutos finais de todas as minhas aulas, um de vocês vai ler um texto aqui na frente. Tragam de casa algum que queiram dividir com a turma. Eu sempre terei um e, se ninguém tiver trago, escolherei um aluno aleatoriamente para ler. Até as provas, todos vocês devem ter lido um texto aqui na frente, porque contará como nota.

— Droga — reclamei baixinho. Leigh deixou a frustração sair com sua respiração mais forte. — Tortura na frente da classe.

— Não é o fim do mundo, Dani.

— Você me conhece, Leigh. Alguma coisa bem ruim está prestes a acontecer comigo.

— Eu tenho um texto do Robert Feldman aqui hoje. Deixe-me ver quem o lerá... — Ela olhou na lista de chamada por alguns minutos. — Senhorita Campello. De pé, por favor. Hoje é seu dia de sorte.

Eu não podia acreditar no meu azar. Alguns corajosos jogaram beijos no ar e o meu rosto foi no chão. A professora nada disse, porque beijos podem parecer realmente inocentes. Eu me levantei lentamente, mas queria mesmo entrar debaixo de uma das cadeiras e me esconder. Era humilhante demais.

Como se isso não pudesse piorar, o título do texto me fez segurar o refluxo.

The Liar in Your Life. Em um português bem brasileiro, O Mentiroso na Sua Vida.

Eu queria gritar, queria mesmo, mas cocei a garganta, pronta para ler.

— Não é o texto completo — a professora disse, antes que eu pudesse começar a leitura. — Trouxe apenas um parágrafo, porque é o nosso primeiro dia e estamos apenas dando início. Leia para nós, senhorita Campello.

Respirei fundo uma, duas, três vezes. O nervosismo ainda estava ali comigo, mas não havia como fugir mais. Então comecei:

— O título é The Liar in Your Life.

Comecei a ler, tremendo. Segurando para não chorar.

Se formos traduzir ao pé da letra, fica mais ou menos o seguinte:

"Há um mentiroso em sua vida. Na verdade, há muitos deles. Encontramos mentiras não apenas das reivindicações dos presidentes ('Eu não sou um criminoso' ou, mais recentemente, 'Não tenho relações sexuais com essa mulher') ou vendedores desprezíveis das concessionárias de carros locais ('Este SUV obtém grande quilometragem!'); também ouvimos mentiras das pessoas com quem nos encontramos e interagimos diariamente, incluindo a família, amigos, colegas e estranhos que encontramos no dia a dia."

Beijei!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora