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Os últimos dois dias foram horríveis simplesmente preferia retirá-los da
memória, cada segundo parecia demorar um milênio e eu parecia preso dentro de mim, desanimado e cansado; cansado e sem coragem; sem coragem e triste; triste e depressivo; nada e nem ninguém conseguiria me animar tudo parecia sem graça e eu parecia vazio até que ela ligou.
- Vamos sair? – disse ela com uma voz empolgada ao telefone
- Claro! – falei – Aonde quer ir?
- Não sei. – disse – Me pega as sete?
- Tá certo. Ás sete eu estarei aí. – foram poucas as suas palavras, mas o suficiente para me fazerem ficar melhor e até mesmo feliz.

...

Eu a esperei em frente a sua casa tinha colocado uma calça jeans preta e minha camisa polo cinza que ela havia me dado no natal passado pus o gel no cabelo e sai no carro da minha mãe.
Cerca de dez minutos depois que cheguei à porta se abriu e ela saiu completamente linda usando um vestido preto de rendas que se destacava em sua pele. Fiquei ali alguns minutos admirando-a.
- Podemos ir? – perguntou rindo, seu rosto formando uma covinha linda que desde pequena esteve saliente ali provocando qualquer pessoa que fosse atrevida o bastante para lhe ousar arrancar um sorriso.
- Você está linda! – falei ainda olhando-a fixamente.
- Obrigada, John. – falou sem jeito. - Você também está lindo.
Ficamos nos olhando por uns instantes. Foram poucos, quase imperceptíveis, mas para mim pareceu durar uma adorável eternidade. Em minha cabeça um filme se passava imagens desde o dia que nos conhecemos, as mudanças que aconteceram durante todo esse tempo, eram mais de sete anos de amizade e a mulher mais linda do mundo estava ao meu lado, nunca nos afastamos, nunca nem sequer deixamos de dizer o quanto um era importante para o outro. A amizade era a nossa forma de amor mais pura, mais sincera, mais forte e verdadeira.
- Obrigado, Madu!
Abri a porta do passageiro para que ela entrasse, sorrindo ela me agradeceu e eu me dirigi para o lado do motorista. Ela já tinha se acomodado lá dentro quando liguei o motor do carro e saímos, não tínhamos planejado aonde ir sempre foram assim nossos passeios decididos no momento em que partíamos.
- Tem algum lugar em mente?-perguntei enquanto ela procurava alguma música interessante no rádio.
- Não pensei em nada. – falou – Deixo a cargo do meu elegantíssimo melhor amigo!
Ela estava linda, nunca a tinha visto tão perfeita, tão incrível. Sorri para ela, consciente de que suas palavras doces estavam me ferindo, era estranha àquela sensação nova até antes da viagem ela era apenas minha melhor amiga, a nossa relação de frescuras e ciúmes sempre foi normal, mas desta vez tinha algo parecido com atração e suas palavras me alegravam, mas me entristeciam. Eu
sabia que estava entrando em uma fase difícil, complicada - principalmente.
- E eu deixei a cargo da minha lindíssima melhor amiga. – falei rindo, incapaz de demonstrar que algo em mim estava fora do lugar.
- Que tal um filme? – perguntou
- Cinema e jantar?
- Eu escolho o filme e você o jantar?
- Claro! - concordei.
Parei no estacionamento do cinema mais próximo que ficava na cidade
vizinha, compramos os ingressos para um filme que já tínhamos visto a graça não era assistir algo novo era está perto um do outro. Assistimos a uma comédia romântica, algo bem engraçado e envolvente, comemos pipoca e rimos muito em nenhum momento dentro da sala de cinema
trocamos uma palavra não gostávamos de filme comentado só de curtir o momento.
- Gostou do filme? – perguntei ainda rindo.
- Sabe o que é mais legal de ir ao cinema com você? – perguntou enquanto eu segurava a porta do carro aberta para que ela entrasse.
- A minha ilustre presença? -brinquei.
- Não! – disse, deixando a covinha de seu rosto aparecer novamente num
daqueles sorrisos tímidos e atrevidos que só ela sabe dá. – Porque você pode assistir ao filme milhares de vezes e é como se estivesse assistindo pela primeira vez. É diferente!
- E isso é ruim? – perguntei, sem nenhum vestígio do sorriso que há poucos segundos iluminava o meu rosto.
- Claro que não! – falou – É só diferente, John. – disse me encarando - Especial, raro, exclusivo. Você consegue transformar uma coisa repetida em algo especial, é... Único! E isso é bom!
“Exclusivo”, “raro”, “único”. As palavras dela se repetiam em minha mente como um mantra lindamente trágico.
- Vai ficar com cara de bobo agora? – falou ela entrando no carro e fechando a porta, me impedindo de lhe responder qualquer coisa antes de está no interior do veículo ao lado dela.
- Não! – falei quando entrei no carro.
- Então, vamos jantar porque eu estou com fome!
-Sim, majestade!
Segui para o nosso restaurante preferido, parei o carro em uma vaga não muito longe dali e seguimos a pé, pedimos estrogonofe de frango – nosso prato preferido – e ficamos esperando.
- Você não falou nada sobre a viagem. Foi legal? – perguntei
- Sinceramente? – fiz que sim com a cabeça – Não, foi horrível! -começamos a sorrir.
- Foi tão ruim assim?
- Não, foi pior!
- Por quê?
- Estava sem sinal de internet, sem sinal no celular, sem um livro pra ler e sem você pra conversar. – falou – Entrei em desespero nos primeiros segundos sem poder falar com você, sério, estou acostumada demais com a tua presença é horrível não tê-lo por perto.
- Mesmo?
- Mesmo!
Eu a entendia, também estava acostumado demais com a presença dela a ideia de sua ausência já me machucava. O final de semana foi longo e doloroso, era como se eu estivesse preso em algum daqueles pesadelos que você luta para conseguir acordar, mas não consegue. Assim que ela saiu no carro com os pais minha vida ficou em preto e branco e só voltou a ficar colorida quando ela ligou, era como se o pesadelo tivesse acabado ao ouvir a sua voz e as cores voltaram para a minha vida. Eu estava viciado na minha melhor amiga? E ela em mim?
- Também senti sua falta, Madu!
Nossa comida chegou e nenhuma palavra fora anunciada, a hora sagrada da comida como sempre respeitada, o único momento em que parávamos tudo.
Depois de pagarmos a conta saímos em direção ao estacionamento ainda em silêncio andávamos lado a lado, entramos no carro e ficamos ali parados no estacionamento sentados pensando no que fazer já que nosso cronograma tinha acabado, estava claro que assim como eu tudo o que ela não queria era ir para casa.
Liguei o motor do carro e segui em direção à cidade, não me importei em lhe perguntar se queria ir para onde eu estava indo apenas lhe levei comigo, na maioria das vezes um, silenciosamente, conduziu o outro para onde queria, sem permissões, questionamentos ou brigas. Como ímãs um ia para onde o outro determinasse, como parceiros sempre sem se preocupar, a confiança era algo que nós conservávamos e preservávamos.
Parei o carro num estacionamento de um pequeno barzinho perto da praia que costumávamos frequentar, a mesma que ficava próxima as nossas casas, a mesma que por inúmeras vezes fora palco das nossas crises de choro. Saímos do carro ainda em silêncio, seus olhos questionavam-me e os meus lhe convidavam para entrar nessa história comigo.
- Nunca vim aqui à noite! – disse ela quebrando o silêncio que mantínhamos. – Primeira vez!
- Já vim aqui algumas vezes, é calmo e me faz bem!
- Você está bem? – perguntou
- Sim!
Sentei-me na areia molhada pela água do mar que ia e vinha, ela sentou-se
ao meu lado ignorando completamente seu lindo vestido que sujava.
- Como foi o final de semana? – perguntou ela quebrando o silêncio que se instalava entre nós. – Saiu bastante?
Pensei em lhe dizer que passei os dois dias deitado na cama olhando para
a parede completamente triste e entediado, que toquei um pouco para tentarapagar a tristeza que se instalava em mim, tristeza essa que só passou quando ela me ligou, quando soube que ela estava aqui novamente, mas tudo que falei foi.
- Voltei a tocar!

Vítimas do Amor (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now