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Eu estava em meu quarto, era noite de sexta-feira, violão nas mãos, já passavam das duas da madrugada era muito tarde e eu estava sem sono. Peguei o instrumento e comecei a tocá-lo estava ciente que o barulho poderia incomodar alguém, mas eu não estava me importando com isso fui invadido pela simples, angustiante e doce vontade de tocar.
- Nunca mais tinha te ouvido tocar! – fui arrastado do meio da música pela voz de Vicente – meu irmão – que estava parado na porta do quarto todo arrumado com sua melhor roupa o que significa que iria para uma daquelas festas que o devolvia bêbado. – Não pare de tocar por minha causa, Jhonatan, por favor.
Vicente é três anos mais velho que eu – o “primogênito” – que ao contrário de mim fora planejado e desejado, sempre fora o mais paparicado. Sempre não – lembro-me - apenas quando era criança.
Assim que começou a crescer o garoto começara a se tornar um menino
problemático, recusou-se em ir para a escola incontáveis vezes, foram inúmeras as suas brigas com os amigos do colégio, reclamações dos professores e diretores e, claro, suspensões, logo o sonho se tornará pesadelo. Depois que terminara o colegial simplesmente não ingressou em nenhuma instituição de ensino superior mesmo com total investimento dos pais para o contrário. Tudo o que Vicente fez foi arrumar um emprego em um boteco qualquer apenas para não lhe chamarem de desocupado.
- Gosto dessa música! – falou assim que terminei, fixei meus olhos nos
seus. – É triste! – disse rindo
- É romântica! – falei destruindo o sorriso que formara em seu rosto.
- Nem tudo é romance, meu caro irmão!
- E nem tudo é cerveja, Vicente.
- Não vamos falar disso. – disse - Temos opiniões opostas e conflitantes! – levantou-se, saindo. Era assim que costumavam terminar as nossas conversas, ele me deixando falando sozinho sempre que eu estava certo.
- Deveria parar de beber! – falei, fazendo-o parar na porta.
- E você deveria dizer a ela o que sente! – falou - Mas não tem coragem.
Cheguei a ouvir um tímido “igual a mim” antes dele sumir, ele simplesmente desapareceu como se nunca estivesse estado ali, tudo que revelava sua passagem era o que tinha restado de mim ali, um garoto confuso, irritado, perdido, sentado na cama com o violão nas mãos, o coração respondendo ao seu último
comentário e a cabeça tentando relacionar tudo. De repente, a porta escancarada do quarto apenas revelava um casulo que eu me tornei, casulo que desconheço.

Vítimas do Amor (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora