Quatro Dias Antes

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Volto a consciência pelo que me parece ser a milésima vez, mas não sei quanto tempo vai durar agora. Eu tenho tido esses flashs de consciência desde que o Guilherme me deu o calmante, ainda no consultório dele. Não sei quanto tempo faz que eu estou dormindo, mas tenho total noção de que não estou mais naquele asilo idiota, que isso é um hospital e que meus pais estão por aqui, se revezando para que eu não fique sozinha.

Consigo sentir que estou um pouco mais alerta desta vez, eles devem diminuir a quantidade de remédios conforme acham que eu melhoro. Pisco algumas vezes e me espanto de ver que quem está na cadeira, dormindo, é o Guilherme. Me lembro de tudo que falei para ele e fecho os olhos novamente, ainda não quero encara-lo.

- Tudo bem, eu sei que você está acordada - Ele fala baixo, testando minha raiva, acho.

- Ah - suspiro, com a voz mais baixa do que eu esperava. Abro os olhos novamente.

- Como você se sente? Fisicamente falando - Ele explica.

- Minha cabeça doi e estou me sentindo mais fraca do que geralmente sou.

- Você teve uma reação alérgica ao calmante - isso explica o hospital - não havia indícios de alergia em nenhuma das suas fichas, sinto muito.

- Por ter me dado o calmante ou pelo efeito?

- Pelo dois - ele suspira e admiro a franqueza dele - Vou chamar o médico responsável para te ver.

Ele não volta junto com o médico e eu não estranho. Meus pais devem estar ocupados, por isso ele estava aqui. Ele deve ter ido avisa-los. O médico checa meus sinais vitais, o tamanho e aspecto da minha língua e me diz que estou bem, embora ainda não possa ir para casa.

- Maravilha - Respondo, seca e irônica.

Ele sai e o Guilherme volta pouco depois.

- Então, quando eles vem? - Pergunto.

- Como você sabe tudo?

- Inteligente eu sempre fui - dou de ombros.

- Eu preciso conversar com você - Ele está com os olhos baixos, evitando me encarar.

- Pode falar.

- Você tinha razão.

- Geralmente eu tenho, mas do que estamos falando?

- Eu sou um mesmo um hipócrita - ok, não esperava essa - eu escondo o que eu sinto e não lido com isso. A real é que eu sou um idiota, mas achei que podia me redimir ajudando os outros. Só que tomei uma rasteira enorme quando conheci um paciente mais esperto do que eu.

Tenho a vaga impressão que ele está falando de mim, mas não tenho como ter certeza.

- Eu sinto muito se te piorei de algum jeito, eu juro que fiz o possível para te ajudar. Dei tudo que eu tinha para melhorar pelo menos um pouquinho da vida de cada paciente que passou por mim.

- Eu sei - suspiro, ele parece transtornado e eu detesto ver isso - mas você só pode ajudar quem quer ser ajudado Gui.

Ele respira fundo, me dá um beijo na testa.

- Você é esperta demais mulher, por isso você está assim.

Eu sei que ele não falou com maldade, por isso dou risada.

- As vezes eu queria ser mais burrinha, mas fui feita assim...

- Eu estou aqui para me despedir de você.

- Despedir? - Sinto meu coração afundar e um turbilhão de sentimentos confusos me invade.

Neste momento a porta se abre e meus pais entram.

Me EsperaWhere stories live. Discover now