Capítulo 1

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DUAS SEMANAS DEPOIS

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DUAS SEMANAS DEPOIS.


Duas enfermeiras andavam uma de cada lado da psiquiatra Alva, passando-lhe todo o prontuário dum paciente, que lhe haviam resignado.

—O doutor Griffin disse que não vai poder ficar com este paciente, mas, na verdade, acho que ele tem medo. —Disse a enfermeira Harper.

—Harper, este paciente é mesmo estranho, a maneira que ele olha-me às vezes apavora-me. —Disse a outra enfermeira, Júlia.

—Vocês não passam de duas medrosas, assim como o idiota do doutor Griffin, isso sim! —Alva caçoou das enfermeiras.

—Acredita que ele já esta aqui há uma semana e nunca falou nada? —Disse Júlia ao trocar um olhar com a sua amiga de plantões, Harper, logo continuou. —Ouvi dizer que quando Doutor Griffin entrou no quarto ele estava a sussurrar num idioma estranho.

—Viu só! Ele não é mudo afinal. —Alva ainda se divertia à custa do medo das ingênuas enfermeiras, mas então, ela parou e perguntou a Júlia.- E que idioma era?

—Doutor Griffin disse que ele falava muito rápido, era praticamente um sussurro; o doutor não conseguiu distinguir.

As três chegaram à porta do quarto, e Júlia pegou um mole de chaves no bolso para abrir.

—Temos administrado medicamento pesado nele, pode ser que ele esteja desacordado, mas não confie em se aproximar muito Doutora. —Júlia alertou-a.

—Ele é agressivo? —Alva perguntou um tanto receosa.

—Não mais. —Julia deu de ombros ao levar as chaves a fechadura, no entanto, Harper completou.

—Agora sim, mas quando o encontraram na rua ele estava a alucinar e muito nervoso.

—Fizeram o doping? —Alva perguntou apenas para anotar no prontuário quase vazio do paciente.

—Sim, mas deu negativo para tudo. O sujeito não havia ingerido nem analgésicos. —Harper frisou.

—Abra a porta Júlia — disse Alva ao gesticular para a porta de forma impaciente, visto que Júlia tremia as mãos e parecia temer abrir aquela porta.

A cela toda branca tinha parede e piso acolchoados.

O jovem estava sentado no centro da sala, de pernas cruzadas como se meditasse. Ele estava de cabeça baixa e, de imediato, Alva não pode ver o rosto dele.

Seus cabelos loiros cobriam aos ombros e quase todo seu rosto, que tinha boa parte coberta por uma barba ao que parecia crescida de meses.

—Bom dia. —Alva o saudou, mas ele não respondeu. Continuava de cabeça baixa.

As enfermeiras estavam encostadas na parede próximo à porta de saída como uma forma de escapar a qualquer reação do louco cabeludo. Ainda assim, Alva ignorou a recomendação delas e se aproximou do jovem, agachando à sua frente.

- Meu nome é Alva e eu irei lhe acompanhar no seu tratamento. Qual o seu nome?

O jovem continuava totalmente parado e calado, com o rosto escondido pelos cabelos quase dourados de tão loiros.

Sem medo, Alva passou a mão pelo topo da cabeça do jovem, notando o quanto macio era os fios tão desgrenhados do rapaz. Ela suspirou e ele estava tão travado que parecia uma estatua grega.

'Como um lindo e perfeito Deus grego esculpido em mármore'

—Não irei te fazer mal, só quero conversar com você e te conhecer; você quer me conhecer?

O jovem lentamente levantou o rosto, e Alva vislumbrou um par de olhos tão azuis que ela ficou por segundos hipnotizada. Ela nunca havia visto olhos tão azuis quanto aqueles; um raro tom de azul. Alva sentiu um enorme carinho por aquele jovem, que parecia tão perturbado.

Ele a encarou de cima a baixo, enquanto Alva mantinha um sorriso simpático nos lábios e olhos marejados.

—Você tem olhos lindos, qual o seu nome? Pode me dizer? —Alva disse de forma profissional, usando o 'elogiar e conquistar' para receber informações do paciente.

Mas, apesar de parecer calmo, continuava mudo, então Alva decidiu tomar outra estratégia.

—Quer dar uma volta comigo pelo jardim, esta um lindo dia?

—Doutora, acredito que não seja uma boa ideia. —Harper alertou-a de forma cautelosa.

—Quem é a Doutora, e a enfermeira aqui Harper? —Alva respondeu desafiadora, ríspida.

—E então. Quer dar uma volta? —Alva voltou a perguntar e, para sua surpresa, ele afirmou com a cabeça.

—Vamos então? —Alva levantou-se e caminhou para a porta, sendo seguida por ele, porém, ele parou na saída da porta e encarou os pés descalços.

Alva entendeu imediatamente.

—Harper arrume um par de chinelos para meu mais novo amigo misterioso. —Alva disse, e sorriu para ele.

Harper foi até um armário no corredor e voltou com um par de chinelos.

—Acho que este aqui deve servir, Doutora. —Harper disse ao entregar a Alva os chinelos branco.

—Aqui meu amigo, calce-os e vamos ao nosso passeio. —Alva disse animada e passou os chinelos a ele de forma educada.

Mais uma vez ele assentiu com a cabeça e Alva decidiu que era um sincero 'obrigado'.

Eles saíram do quarto e caminharam pelos corredores até alcançarem o jardim, enquanto Alva usava de seus argumentos de psiquiatra para descobri qualquer coisa sobre aquele paciente anônimo. Ainda assim, ele parecia não prestar atenção ao que ela falava, mas observava todos os seus movimentos.

Alva também o observou, discretamente é claro; o modo como ele caminhava de forma elegante, mantendo suas mãos para trás enquanto parecia estudar a tudo e a todos.

Quando sairão à luz do sol no jardim, Alva ofegou ao ver o brilho e a cor de seus cabelos, que ao sol, eram incrivelmente mais dourados, num tom de loiro surreal. No todo, aquele misterioso jovem parecia um ser mistico.

Ele levantou o rosto e encarou o céu azul, parecia ter uma estranha ligação com o infinito azul, seus olhos eram ainda mais azuis, ele tinha um nariz um tanto grande, mas ele parecia ser todo ele grande. Seus lábios estavam escondidos pela enorme barba, e Alva fantasiou saber como eram os contornos de seus lábios.

—Você gostaria de fazer a barba, quer dizer, se você quiser?

Ele negou com a cabeça.

—Tudo bem, você é quem sabe, mas se mudar de ideia é só dizer. Vamos nos sentar ali. —Alva apontou para um banco de madeira ao lado de um pequeno lago artificial rodeado por bromélias e jasmins.

Eles sentaram-se ali, no entanto, ele continuava em silêncio. Ao passo que Alva continuava a falar sem parar.

—Você sabe a sua idade? Disseram por aí que você não é de falar muito, é uma pena, eu queria muito saber sobre você. —Ela o olhou com ternura e continuou. —Como seu nome, por exemplo.

Ele retribuiu o olhar gentil, mas nada disse em resposta.

—Você mora aqui em NY, tem família? Segundo a sua ficha faz mais de uma semana que está aqui, e não descobriram nada sobre você.

Quase uma hora depois e Alva não conseguira uma só palavra daquele paciente anônimo; às vezes ele encarava-a de forma estranha, no entanto, ela era uma profissional e estava preparada para situações adversas.

Todavia, ela tinha que admitir que ele olhava-a como se pudesse vê-la nua. Apesar disto, ela soube disfarçar o constrangimento e manter a sua postura.

Infelizmente, o horário daquele paciente chegava ao fim, e Alva o acompanhou de volta ao seu quarto acolchoado. Disse 'até amanhã' e seguiu para os demais pacientes.

Ao fim dia de trabalho, Alva não conseguia tirar aquele jovem da mente. Seu silencio estudado, a sua postura elegante, os seus olhos azuis únicos... tudo nele parecia surreal. Ele não parecia ser real... uma espécie de áurea poderosa podia ser sentida por Alva, ainda que ela rejeitasse a ideia de algo assim estar a acontecer.

Mais dias se passaram e, repetidamente, Alva o convidava para irem ao jardim. Onde passavam quarenta minutos trocando olhares atentos e observavam as bromélias e jasmins.

Alva falava e falava e nada se ouvia dos lábios do anônimo.

Às vezes ele cruzava as pernas e a fitava falar por minutos, dum modo que parecia que os papeis ali tinham se invertido.

Ele era o psiquiatra ouvindo o seu paciente.

Até o dia em que ela teve o seu primeiro sonho com ele... o seu paciente anônimo.

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