O Feio

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Nasceu como um monstro
Parido na escuridão da noite
A mãe o renegava
Os outros o davam o açoite
Cresceu
Fascinado pela beleza
Via coisas lindas
Onde ninguém enxergava
Entregava o amor
Que ninguém o dava.

O feio não entendia
Por onde passava
todo mundo ria
Em seu horror
Em sua agonia
Que graça havia?

O feio era um artista
Pintava o bonito
O céu, a rosa, o passarinho
A praia, o mar, o rio
Até uma fina grama
Em sua imensidão de verde
Até um grão de areia
Em seus cristais despercebidos.

As pessoas viam apenas o exterior das coisas
E nada mais
Já para o feio
tudo tinha alma.

Quando a nuvem negra
Cobriu o sol em sua janela
e veio a tempestade
Percebeu que feia mesmo
Era a feiura do mundo
Que o ódio sem sentido
era nossa ranhura
Que destruir o belo
era loucura
Loucura de comum senso
E que louco era
quem loucura não fazia
E que daria tudo para trocar
a noite pelo dia.

Viu que a podridão do morto
Dava vida ao solo
Viu que a imundície do esgoto
Tornava linda a superfície
E que supérflua era a vida
Profano o homem
Eterna a sua idiotice.

Por fim,
decidiu pintar sua última tela
Sangue no mar de rosas
Morreu da morte mais bela...

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