Capitulo 4 - Irmãs

866 1 3
                                    

Capitulo 4 - Irmãs

- Vai tu primeiro Naya. Como eu já disse antes: pernas afastadas, braços na linha dos ombros e...

- Já sei Melina. - respondeu ela enquanto revirava os olhos vinho tinto que herdara de seu criador.

Ergueu sua sub-metralhadora predilecta e sorriu de prazer, enquanto o alvo móvel se desesperava na certeza da morte assassina. Mas o vento insistia em lhe colocar o cabelo chocolate na cara. Parou por um instante para ajeitar os caracóis que quase chegavam a cintura e levantou mais uma vez a Colt Scorpion, decidida a acertar na humana que como um pêndulo não parava por um segundo, até que finalmente caiu sem vida, marcada vinte e cinco vezes pela causa de sua morte.

- Naya! Olha o desperdício! Gastaste mais de metade. Se a Colt Scorpion tem trinta balas de certeza que não é para gastar numa única humana. No máximo dez, se te faz assim tão feliz! De qualquer maneira, bela pontaria filha!

-Como queiras Mamã Melina - responde azeda, irónica e indiferente, uma das criaturas que ainda não tinha sido categorizada. Humana? Vampira? Mais vampira que humana? Isso ficava ao critério de quem se desse ao trabalho.

- Muito bem, agora é a vez da Naren. Naren! - chamou Melina que não se tinha dado conta da sorrateira escapatória da outra gémea.

- A princesa não está alteza - respondeu um dos soldados receoso da habitual mudança de humor da mestre. Esta que nos ensaios exibia a sua marca de nascença. Dois olhos caninamente ferozes na região lombar acentuavam a sua cintura minúscula. Ampulheta canina, como era chamada quando não estava por perto, era de figura estreita cuja aparente fragilidade enganava o inimigo. Tão bela, tão querida, tão frágil e, ainda assim tão mortal. Raposa matreira a espera da oportunidade perfeita. Sim, senso de oportunidade era a sua maior virtude.

- Onde é que a tua irmã se meteu? - gritava Melina que pulsava de raiva, já farta das ausências da gémea nos treinos. Naren muito pouco pelos treinos se interessava pois tinha opiniões fortes quanto a desnecessidade de neutralizar hélinos e principalmente humanos.

-O quê que te faz pensar que eu sei? Ser gémea não é ser sombra!

- Mas alguém sabe de certeza! - Os olhos da mestre, ávidos por culpa, procuravam entre os soldados um sinal que denunciasse qualquer informação. - Tu! Tu sabes...

- Vossa alteza eu não...- pobre soldado de nada sabia, mas seu medo se confundia com a certeza de informações concisas quanto ao paradeiro de Naren.

- Tens certeza que não? - inquiriu a mais jovem do corpo da Ordem. A sua voz gelada, profunda, quase tumular, ecoara pelas altas paredes que acolhiam o Reino de Trévaz.

Incrível. Sem esforço aparente Melina decidiu lembrar seus súbditos o que a faz superior. Franziu a testa estatelada num rosto perfeito e os olhos enormes em forma de amêndoa escureceram, passando de vinho tinto para negro túmulo, como o fundo de um poço onde nem a luz se atreve. Numa anormal fugacidade, o soldado antes inerte em sua formal posição de descanso contorcia-se no chão numa temerosa aflição. Este não conseguia gritar nem mesmo gemer, pois sua garganta bloqueada o impedia de qualquer expressão que não fosse a de terror. E como cinema mudo aquela cena se passava bem a frente dos olhos vampíricos que nada podiam fazer a não ser assistir a tortura real. Todos já sabiam que o máximo que podiam era aceitar o facto de que Kira, Dero e Melina eram os vampiros mais poderosos alguma vez vistos e que eles, como meros morcegos, só tinham duas opções: obedecer ou morrer.

Pura maldade. O vampiro indefeso mais do que engasgava. Ele afogava-se em sua própria saliva. Suco pegajoso que ocultamente se grudou na garganta. Sim, controlar e manipular tudo que é líquido é a soberba anomalia de Melina.

Allesis - Um novo comeco.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora