Cíntia agora estava sentada em uma sala da delegacia esperando para ser interrogada, com uma câmera apontada em sua direção. No caminho, pensou em uma versão que pudesse ser convincente: contaria que estava esperando um ônibus na rodoviária e foi vítima de um sequestro relâmpago. Depois diria que entrou em conflito com o assaltante e por fim, alegaria legítima defesa.
O investigador responsável entrou na sala e pediu para que ela contasse tudo que aconteceu. Enquanto isso, o delegado e outro investigador assistiam o interrogatório pelo monitor. Foi o investigador quem disse:
-Ela não me é estranha, vou verificar um arquivo.
Em breve voltou com uma pasta e mostrou a foto que comprovava suas suspeitas ao delegado, dizendo:
-Eu sabia que a conhecia de algum lugar. Ela é a amante do traficante Walter da Costa! Aquele que estamos investigando há meses.
-Não pode ser – retrucou o delegado, incrédulo. – Tu tens certeza?
-Absoluta!
-Tiramos a sorte grande, então. Verifique a identidade da vítima, provavelmente ele tem alguma relação com o tráfico, eu vou conversar com ela pessoalmente.
Entrou na sala do interrogatório e começou a questionar Cíntia sobre Walter e seus negócios. Ela, muito nervosa, negou tudo e continuava mantendo a sua versão. Estava apavorada, pois sabia que se contasse a verdade, Walter daria um jeito de matá-la. Ele mais uma vez pressionou-a, dizendo:
-Tem certeza que não quer contar a verdade? Liguei para o hospital e o homem que tu atiraste provavelmente não vai sobreviver – mentiu e reparou na expressão de desespero dela. – Tu foste presa em flagrante. Na sua bolsa havia muitas joias e uma passagem para o Paraguai! É melhor contar porque estava fugindo do país.
-Não tenho mais nada para dizer – respondeu, sem conter as grossas lágrimas que desciam pelo seu rosto.
-Leve a guria para a cela – ordenou o delegado para o investigador. – Tenho certeza que mudará de ideia!
Quando entrou na cela, não pode deixar de notar o aspecto sujo daquele cubículo onde outras seis mulheres estavam presas. Algumas pareciam prostitutas e faziam gracejos sobre as roupas e aparência dela. O deboche só cessou quando todas repararam que ela tinha a blusa manchada de sangue. Simplesmente se deixou cair em um canto da cela e escondeu o rosto nas mãos, em sinal de arrependimento.
Na sala do delegado, o investigador ansioso perguntou:
-Então vamos deixá-la na cela e depois interrogá-la novamente até que amoleça?
-Ela está apavorada, – respondeu o delegado – mas eu sei de alguém que vai convencê-la a contar tudo.