41_ Reunião

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Batidas na porta deixaram Drake em alerta. Ele se levantou do sofá já sacando a sua arma e foi até a porta olhar no olho mágico. Após ver quem era, ele abaixou os ombros em alívio e guardou a arma logo antes de abrir a porta.

ㅡ Preciso que venha comigo. ㅡ Michael entrou na casa.

ㅡ Por que? ㅡ Drake perguntou voltando para perto de mim.

ㅡ Só vem, os dois. ㅡ Michael voltou na direção da porta e sumiu do nosso campo de visão. Olhei para Drake esperando sua reação e tudo o que ele fez foi concordar e indicar a porta para mim.

Eu estava chegando a conclusão de que a inimizade deles dois devia ser por pura bobagem de homens, porque sempre que o assunto era sério, eles se ajudavam.

Drake me deu o meu casaco e também me colocou uma touca na cabeça antes de sairmos da casa. Já havia escurecido e o frio estava intenso. Entramos no carro da polícia e depois de poucos minutos estávamos na prefeitura.

Entramos no auditório onde geralmente ocorriam as reuniões em que a cidade se reunia e todos já estavam lá. A cidade era pequena, todos os habitantes cabiam perfeitamente naquele auditório do tamanho de uma igreja média.

Eu já tinha participado de algumas reuniões feitas ali. Eles falavam de melhorias para a cidade, problemas a serem resolvidos e muitas vezes celebravam as conquistas uns dos outros. Todos ali pareciam ser uma grande família.

O prefeito estava atrás do púlpito sobre o palanque. O burburinho cessou quando entramos no local e todos os olhares estavam em nós.

Michael nos fez caminhar até a frente. Enquanto andava pelo meio até o palanque, reconheci a maioria dos rostos. Pessoas da minha faculdade, pessoas do comércio, vizinhos... Todos que eu já estava acostumada a conversar e conviver todos os dias. A preocupação estava pairando pelo ar do lugar.

ㅡ Vocês provavelmente já viram o noticiário de hoje. ㅡ O prefeito voltou a falar quando nos sentamos lá na frente, de frente para as pessoas. Apenas Michael ficou em pé ao nosso lado. ㅡ E sei que todos se lembram do que aconteceu aqui a uns anos atrás. ㅡ Todos pareceram entender, apenas eu fiquei boiando no assunto o que aconteceu a anos atrás. ㅡ Quero que escutem o Drake. Ele trabalha pra máfia, mas é um de nós e no momento precisa da nossa ajuda e descrição.

O prefeito deu lugar para Drake falar e foi a vez dele de tomar o púlpito.

ㅡ Eu... Eu não sei bem por onde começar. ㅡ Drake pigarreou. ㅡ Como vocês sabem, eu tive que me mudar pra Nova York com meu pai e lá eu conheci a Chloe. Muito resumidamente, o meu pai quer mata-la por vingança, por achar que ela é a mulher do Freeman e eu trouxe ela pra cá porque sabia que seria seguro. ㅡ Pelo olhar revoltado das pessoas, todos conheciam bem o Grove e o Freeman. ㅡ Só que agora a polícia está a procura dela porque denunciaram seu desaparecimento e vão começar a procura-la. Eu conheço muito bem cada um de vocês. Sei que são ótimas pessoas e viram o que aconteceu com a minha família. Eu sei que eu nem precisava pedir isso, mas, por favor, se a polícia federal procurar por ela aqui, não digam nada. Meu pai está atento aos noticiários e se a polícia encontra-la, ele vai saber onde ela está e... ㅡ Ele foi interrompido.

ㅡ Não precisa nem falar duas vezes, Drake. Estamos com você! ㅡ Alguém do meio do público falou.

ㅡ Aquele desgraçado do Grove... Ele não cansa de fazer merda.

ㅡ A Chloe já é uma de nós também. E nós nos protegemos.

Todos começaram a concordar e eu senti uma vontade imensa de chorar. Nunca me senti incluída em nada e agora eu estava sendo acolhida por uma cidade inteira.

A reunião se seguiu. Quando terminou, algumas pessoas vieram falar comigo dizendo que eu não precisava me preocupar. Kate também estava lá e me abraçou dizendo que tudo ficaria bem. Aos poucos as pessoas foram indo embora até ficarem só algumas que estavam arrumando o lugar.

ㅡ Como todos podem ser tão unidos assim? ㅡ Pensei alto.

ㅡ Essa cidade já passou por muita coisa. É claro que eles não são sempre tão unidos, até as famílias brigam. ㅡ Drake encarou o palanque. Estávamos sentados na primeira fileira. ㅡ Mas, quando se trata de um bem maior, todos esquecem suas diferenças. ㅡ Ele se ajeitou na poltrona e olhou pra mim. ㅡ Meu pai já era da máfia quando morávamos aqui. E todos sabiam com o que ele trabalhava. Ele aplicou golpes aqui, roubou verbas e, por muito tempo, fazia a bagunça que queria na cidade. Todos o odiavam, mas todos amavam a minha mãe. Ela era uma luz. Ajudava quem podia, recebia visitas todos os dias, estava sempre sorrindo e cumprimentando todo mundo. ㅡ Ele abriu um sorriso de saudade. ㅡ Quando a minha mãe morreu por culpa dele, foi como um ultimato. A cidade se reuniu para expulsa-lo daqui. Todos sentiram a dor da perda dela.

ㅡ E ainda sentimos. ㅡ Michael se aproximou. ㅡ Ela me ensinou a andar de bicicleta quando era criança. ㅡ A rivalidade entre eles não estava ali. ㅡ Hoje todos se unem contra Grove por causa de tudo o que ele fez. Então, não se preocupe, Chloe. Ninguém vai acionar a polícia e dizer que você está aqui. Sei que sou policial, mas a segurança da minha cidade e das pessoas que habitam aqui vem primeiro, e você é uma delas agora.

Talvez eu estivesse mais tranquila agora. Ou não. Tudo estava acontecendo de uma vez. Eu mal tive tempo de sentir a dor de descobrir que a única amiga que tive por anos nem era minha amiga de verdade.

ㅡ É melhor irmos. Aqui não é seguro pra você. ㅡ Drake disse já se levantando. Me coloquei de pé ao lado dele sentindo minhas pálpebras pesarem. Isso era cansativo. Pensar que minha vida estava em perigo, que dois mafiosos perigosos estavam atrás de mim, que minha foto estava passando nos jornais como desaparecida, que tudo podia acabar muito mal e eu podia perder as únicas coisas que já tive na vida.

Passei o resto da noite em silêncio, como nos meus primeiros dias aqui. Só não fiquei trancada no quarto sozinha, mas, sim, com Drake. Ele ficou comigo o tempo e todo e me deixou ficar em seus braços. Eu não conseguia falar nada, só tentar evitar de pensar o pior.

Tive medo de fazer de novo. De entrar pânico e o meu cérebro me enganar e amanhã mesmo eu acordar como se nada tivesse acontecido e achar que tudo está bem. Eu não posso mais fazer isso. Não posso mais ignorar meus sentimentos, meus medos, meus temores. Assim como quero viver a vida e sentir todas as coisas boas, também quero sentir as ruins, não quero me bloquear e esquecer, isso só me fez sofrer mais durante toda a minha vida.

Encarei a janela iluminada pela luz da lua lá fora e, com lágrimas nos olhos, prometi a mim mesma que nunca mais me bloquearia. Se tudo der errado e eu não sobreviver, não vai ser porque me bloqueei. Vou morrer sabendo que vivi a vida de verdade.

•••
Continua...

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora