22_ Neve

3.8K 622 172
                                    

• Narrado por Chloe •

Eu não tinha me dado conta de quanto tempo fazia que eu não abraçava ninguém. Talvez a última pessoa tenha sido Jonny, mas não me lembro certamente. Não fazíamos o tipo de namorados muito carinhosos, o que era ruim pra mim, porque sou do tipo que gosta de sentir a pessoa.

Não sei porque abracei Drake. Talvez porque pensei na hora que fosse uma posição confortável de se dançar. Ou porque eu ainda estava me sentindo atraída por ele depois da cena no corredor e queria agarra-lo. Ou porque eu estava só precisando abraçar alguém.

Acho que o motivo não importa. O que importa mesmo é o fato de que ele retribuiu o abraço e nós ficamos ali por vários minutos. Abraçados. Balançando de um lado para o outro, devagar, no ritmo da música lenta.

Drake cheirava bem. Seu abraço era confortável. Era seguro. Protegido. Eu não quis que a música terminasse.

Só que, infelizmente, a música terminou. As pessoas se separaram para aplaudir e, sem escolha, fizemos o mesmo. Não consegui olha-lo de novo. Estava frio, mas meu rosto agora parecia fogo de tão quente.

Aplaudi a banda sem desviar o olhar para Drake em nenhum momento. As pessoas começaram a se afastar do centro da praça para que outras colocassem várias cadeiras viradas na direção do coreto.

ㅡ O que ta acontecendo? ㅡ Me afastei junto com ele para que pudessem colocara as cadeiras espalhadas pela praça.

ㅡ Acho que vai começar as apresentações. ㅡ Ele indicou um grupo de bailarinas babys atrás do coreto. Todas pequenas, fofinhas e vestindo rosa.

Depois que as cadeiras foram colocadas, as pessoas começaram a se sentar e nós pegamos um lugar também. Uma música clássica começou a tocar e a mesma professora que me deu aula, posicionou as meninas no coreto. Elas estavam tão lindas e fofas que arrancavam risadas e " awn " de qualquer pessoa que assistia.

Após elas vieram dois caras fazendo truques de mágica e uma moça cantou snowman no instante em que magicamente começou a nevar. A primeira neve daquele inverno começou a cair num momento extremamente oportuno. A garota ficou radiante e todos apreciaram o momento com admiração.

Senti fome. E eu já tinha comido. Mas acho que foi o cheiro da pipoca salgada.

Drake me viu olhando para a barraca de pipoca e se levantou. Olhei pra ele sem entender e ele abriu aquele sorriso de que já sabia o que eu queria. Era espantoso o quão ele parecia me conhecer, mesmo estando convivendo comigo a tão pouco tempo.

Drake era atento a detalhes e eu percebi isso.

Nós fomos até a barraca de pipoca e ele comprou um pacote para mim.

ㅡ Quer? ㅡ Peguei uma e coloquei na frente do rosto dele. Ele olhou pra minha cara com uma careta e balancei a pipoca, pedindo que ele abrisse a boca.

Lhe dei a pipoca quando ele finalmente abriu a boca. Parecia até que eu ia enfiar a pipoca goela a baixo de tão desconfiado que ele ficou.

ㅡ Por que ta agindo como se eu fosse a mafiosa aqui? ㅡ Comecei a andar ao redor da praça, deixando a fraca neve cair sobre meu cabelo e ombros. A única coisa que eu estava protegendo era a pipoca.

ㅡ Não estou agindo assim. ㅡ Ele deu com os ombros.

Fechei os olhos para sentir o cheiro da neve. Na real não tinha cheiro de nada, mas era mágico fingir que tinha.

Abri os olhos no instante em que algo me veio a mente como um estalo.

ㅡ Drake, aqui tem uma fonte ou coisa parecida? ㅡ Olhei para ele. Ele já estava olhando pra mim e isso quase fez o meu rosto corar de novo.

ㅡ Fonte?

ㅡ É. ㅡ Assenti com urgência.

ㅡ Tem um chafariz no fim da praça, serve? ㅡ Concordei com a cabeça e ele indicou a direção com a cabeça. Nós dois caminhamos até o final da praça onde não demorei a enxergar um chafariz grande de pedra e água jorrando.

Não tinha muitas pessoas por ali, a maioria estava perto do coreto.

ㅡ O que fazemos aqui?

ㅡ Eu tenho uma tradição. Apenas uma. ㅡ Parei na frente do chafariz. ㅡ Desde os onze ou doze anos que eu vou até uma fonte, ou chafariz, e faço o mesmo pedido. Sempre no dia em que começa a nevar.

ㅡ Que pedido? ㅡ Ele perguntou e eu o olhei.

ㅡ Peço pra minha vida melhorar. ㅡ Sorri meio sem jeito. ㅡ Não parece estar funcionando, né? ㅡ Ri sozinha e voltei a olhar para a fonte. ㅡ Mas, ainda tenho esperanças. Não quebro essa tradição a anos e... Nunca contei pra ninguém. ㅡ Não olhei para ele de novo.

Um silêncio pairou entre nós dois e eu fechei meus olhos me preparando para fazer o pedido.

Aqui não é o lugar habitual que eu costumo fazer isso, mas esse não é o mais importante. Hoje caiu a primeira neve e eu quero agradecer primeiro. Geralmente eu não consigo pensar em muita coisa pra agradecer, mas parando pra pensar, eu tenho, sim. Eu tenho pernas que me permitem andar, tenho braços que me permitem dançar, tenho olhos que me permitiram enxergar aquelas meninas fofas dançando ballet, tenho energia pra sobreviver e, por mais que minha esteja muito louca no momento, eu estou numa cidade linda, vivendo coisas boas e conheci alguém legal. Eu agradeço por isso. Agora, voltando ao meu pedido... Não é nenhuma novidade. Eu só tenho um: por favor, que minha vida melhore. Eu não faço questão de ser rica, de morar numa mansão ou de ser famosa. Eu quero ter uma vida boa e ser rica do que realmente importa, como ter um lar e uma família. Esse é o meu pedido.

Abri os olhos e olhei para Drake. Ele estava parado ao meu lado, também de olhos fechados, virado para o chafariz.

Passou se poucos segundos e ele abriu os olhos e olhou para mim.

ㅡ Qual foi o seu pedido? ㅡ O encarei curiosa.

ㅡ Que a sua vida melhore. ㅡ Não consegui esconder um sorriso e ele escapou por meus lábios.

ㅡ Desperdiçou um pedido comigo? ㅡ Lembrei da pipoca em minhas mãos e voltei a comer.

ㅡ Não foi desperdício. ㅡ Ele deu com os ombros novamente.

ㅡ Bem... Você já melhorou um pouco a minha vida, tirando a parte louca de tudo isso, minha vida está muito melhor que estava a um mês atrás. ㅡ Falei aquilo por falar, mas pela expressão de Drake, aquilo o atingiu de forma significativa.

Ele ficou quieto por um tempo e desviou o olhar para a água que molhava o chafariz.

ㅡ O que eu puder fazer para melhorar ainda mais... Pode dizer. ㅡ Ele disse aquilo sem olhar pra mim, o que me deu liberdade de sorrir de novo.

ㅡ Você vai me mimar, é isso? ㅡ Arqueei uma sobrancelha ainda sorrindo e e seu rosto virou na minha direção.

ㅡ Você está aqui contra a sua vontade. É o mínimo que eu posso fazer para compensar toda essa confusão que meu pai armou.

ㅡ Mínimo? ㅡ Ri. ㅡ Você tem feito mais do que o mínimo, mas obrigada de qualquer forma. ㅡ Encarei a fonte. ㅡ Drake?

ㅡ O que foi?

ㅡ Preciso que você faça uma coisa para me mimar agora. ㅡ Ele olhou pra mim e eu balancei o pacote vazio. ㅡ Pode me comprar mais pipoca? ㅡ Drake riu. Ele riu e eu acabei rindo junto.

•••
Continua...

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora