Além do Gelo

Capítulo 2

Entrei em casa, sentindo o frio do lado de fora sendo substituído pelo calor acolhedor do cheiro de almoço sendo preparado. Meu pai estava ao fogão, e ao me ver, ele se virou com um sorriso caloroso.

— E aí, campeã, como foi o treino? — perguntou ele, segurando um prato com omelete.

— Foi incrível, pai! Você não vai acreditar quem estava lá !!!!! Coach Andherson! — exclamei, jogando minha bolsa no sofá.

Instantaneamente, o prato que meu pai segurava escapou de suas mãos, estilhaçando-se no chão com um estrondo. Ele virou-se lentamente para me encarar, o rosto pálido.

— Quem... quem.. estava no treino? — ele perguntou, sua voz quase um sussurro.

— Coach Andherson — respondi, confusa com sua reação. — Por quê? Algum problema?

Meu pai engoliu em seco, seus olhos fixos em mim.

— Você....você.. disse o seu sobrenome à ele? — sua voz era quase inaudível.

— Não, eu Por quê? — insisti, mas ele permaneceu em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos.

De repente, tudo se encaixou em minha mente.

Ai meu Deus, Ai meu Deus, Ai meu Deus.

— É ele, não é? O motivo pelo qual você fugiu para Atlanta depois de se aposentar do hóquei? O amigo e companheiro de time por quem você era apaixonado? — Eu não pude evitar uma risada, a situação era tão absurda.

Meu pai me olhou como se eu tivesse enlouquecido.

— Bem, tenho uma péssima notíciaaaa, Ele quer falar com o meu responsávellll — eu cantarolei, entre risadas.

— Lena, do que você está falando? — ele perguntou, confuso.

Ainda rindo, dei de ombros.

Meu pai me olhou assustado pela segunda vez no dia, o almoço esquecido, sua mente provavelmente girando com as possibilidades do que aquela conversa poderia significar.

O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de anos de segredos não ditos e verdades não enfrentadas. Meu pai olhou para o chão, onde os cacos do prato quebrado se misturavam com restos de omelete. Ele suspirou profundamente, como se estivesse se preparando para mergulhar em águas profundas e escuras.

— Lena, sente-se — disse ele, finalmente.

Sentei-me, a risada desaparecendo de meus lábios. Observei enquanto meu pai começava a recolher os pedaços do prato quebrado, cada movimento deliberado e cheio de tensão.

— Quando eu era jovem, o hóquei era minha vida. E Andherson ele era mais do que um companheiro de equipe. Nós éramos inseparáveis, dentro e fora do gelo — ele começou, evitando meu olhar. — Mas então, algo aconteceu. Um erro que custou caro para ambos. Eu fugi para Atlanta para começar de novo, para te proteger de tudo isso.

Ouvia atentamente, cada palavra do meu pai adicionando peças a um quebra-cabeça que eu nem sabia que existia.

— E agora ele está aqui, querendo falar comigo — continuou meu pai. — Embora ele não saiba que você é minha filha, mas.... no momento que ele me ver, ele...

— Mas isso pode ser uma chance para mim, certo? — Interrompi, a esperança brilhando em meus olhos. — Uma chance de jogar profissionalmente.

Meu pai finalmente me encarou, um sorriso triste nos lábios.

— Sim, pode ser. Mas também pode reabrir feridas antigas. Eu só quero que você esteja preparada para o que quer que venha disso.

Assenti, determinada.

— Eu estou pronta, pai.