Capítulo 1

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4 ANOS ATRAS

Lena 15 anos

PUTA MERDA, PUTA MERDA, PUTA MERDA! Não podia ser verdade. Meus patins deslizaram para uma parada abrupta no meio do treino quando a porta se abriu e ele entrou, Coach Andherson, lado a lado com a treinadora. Eu mal conseguia acreditar no que meus olhos viam.

— Não é possível — sussurrei para mim mesma, tentando processar a visão diante de mim.

Do outro lado da pista, Sofia, que estava praticando tiros ao gol, notou minha distração abrupta e seguiu meu olhar atônito.

— O que foi? Viu um fantasma ou — ela começou, antes de sua voz morrer ao perceber quem havia entrado. — Uau, é o Coach Andherson!

Eu balançava a cabeça, ainda em choque. Mas ele estava lá, de verdade, caminhando em nossa direção com um sorriso que jurava poder derreter o gelo.

— Lena, certo? — ele disse, estendendo a mão para mim. — Eu vi você jogar. Você tem fogo.

Minha mão encontrou a dele num aperto que era mais uma afirmação de minha incredulidade do que qualquer outra coisa. Eu gaguejei, lutando para encontrar as palavras.

— Eu.. eu... — era tudo que conseguia dizer.

Sofia, nunca perdendo uma chance de me provocar, interveio com seu característico sarcasmo.

— Ela está tentando dizer que é uma honra conhecer você, mas tudo que ela consegue pensar é PUTA MERDA.

Coach Andherson soltou uma gargalhada profunda e calorosa.

— Bem, é melhor PUTA MERDA do que "não dou a mínima para você, não é?

A treinadora, até então observando à distância, se aproximou com um olhar reprovador.

— Lena! Linguagem! — ela repreendeu.

— Desculpe, treinadora — murmurei, minhas bochechas pegando fogo de vergonha. — É só que é o Coach Andherson!

— Eu sei quem ele é — ela respondeu, mas um sorriso traía sua fachada severa.

Sofia, sempre pronta para adicionar lenha à fogueira, zombou:

— Ei, Lena, cuidado para não desmaiar no gelo, hein?

— Meninas! — a voz da treinadora cortou através da tensão, clara e autoritária. — Apreciem o momento, mas lembrem-se do porquê estamos aqui. Voltem ao treino, agora!

Troquei um olhar com Sofia e, sem perder mais um momento, voltamos à formação. O aceno de aprovação de Coach Andherson para a treinadora reforçou a mensagem clara: a importância de manter o foco.

Com o treino de volta ao curso, sentia o peso adicional da presença de Coach Andherson, tornando o ar gelado da pista ainda mais denso com expectativa. Eu estava lá, no meio de tudo, meus movimentos agora sob o escrutínio não só da minha treinadora e companheiras de equipe, mas também dos olhos experientes de uma lenda do hóquei.

— Então, Lena — Coach Andherson começou, me puxando para mais um exercício. — Ouvi dizer que você está na mira de vários olheiros. Isso deve ser emocionante.

Eu acenei, meu foco dividido entre a conversa e a pista à minha frente.

— É, eu acho — respondi, permitindo-me um sorriso travesso antes de adicionar. — Mas, honestamente, estou mais animada com a possibilidade de conhecer garotas bonitas nos jogos profissionais.

A gargalhada que se seguiu de Coach Andherson preencheu o espaço, um som que trazia tanto surpresa quanto admiração.

— Bem, isso é certamente um incentivo — ele disse, claramente divertido. — Mas lembre-se, o hóquei vem primeiro.

— Claro, claro — eu retorqui, piscando, a insinuação clara. — Mas quem disse que não posso fazer os dois?

A treinadora, até então uma ouvinte silenciosa, finalmente interveio, ainda que com um sorriso lutando para se manter sério.

— Lena, foco! — ela chamou.

— Sim, treinadora — eu respondi, mas não sem compartilhar um olhar cúmplice com Coach Andherson, sinalizando um entendimento mútuo que ia além das palavras.

O suor ainda escorria pelo meu rosto enquanto eu abandonava o gelo, o eco dos patins no rinque se misturando com os batimentos acelerados do meu coração. O treino havia sido exaustivo, mas cada músculo do meu corpo vibrava com a adrenalina da prática intensa.

— Lena, um momento — a voz firme do Coach Anderson me alcançou antes que eu pudesse sair do rinque.

Eu me virei, surpresa. O treinador me encarava com uma expressão séria, os olhos cravados em mim como se tentassem ler minha alma.

— Sim, Coach? — minha voz saiu um pouco trêmula devido à ansiedade.

— Eu estive observando você nas últimas semanas — ele começou, cruzando os braços.

— Semana? – perguntei confusa — Mais hoje não é sua primeira vez aqui?

— Acho que você deve saber que os treinos são gravados, e a treinadora vem falando de você a meses, então fiquei curioso — continuou ele.

Meu coração deu um salto. Era a oportunidade que eu sonhava desde que segurei um taco de hóquei pela primeira vez.

— Sério? — mal conseguia conter a emoção em minha voz.

— Sim, mas precisamos conversar com seu responsável sobre isso. Podemos marcar um encontro?

Assenti freneticamente, a promessa de um futuro brilhante brilhando em meus olhos.

— Claro, Coach. Meu pai ficará empolgado com a notícia.

Com um aceno de cabeça, Coach Anderson se afastou, deixando-me com meus pensamentos e um sorriso que não cabia em meu rosto.

Além do GeloWhere stories live. Discover now