Capítulo 12

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⚠️️ Capítulo contém gatilhos emocionais ⚠️

Yara Almeida

- Eu nasci em uma cidade pequena no interior de Minas, mas vim muito cedo pro Rio. Meus pais biológicos não queriam filhos. Acredito que minha memória sobre eles tenha sido apagada ou apenas não exista, já que na época que vim embora tinha 8 anos, eu não tenho tantas memórias sobre eles.
Só lembro que eles me largavam com uma vizinha, a Antônia, e ela que cuidava de mim e à medida que eu crescia fui fazendo isso sozinha. Até que um dia não deu mais. - Me movo desconfortável - Eles chegaram bêbados em casa e o meu genitor tentou me tocar, eu lembro de chorar muito e gritar por ajuda e a "minha mãe" - Digo fazendo aspas - Só ria sabe, daí a vizinha que cuidava de mim me ouviu gritar. Eu já tava sem roupa e ele passava a mão pelo meu corpo. Dai o marido da Antônia quebrou a porta e junto dela e me tirou de lá. Foi horrível - Digo tentando controlar o choro e sinto Gabriel me apertar.

- Você não merecia isso, sinto muito. - Diz me abraçando.

- Fiquei umas semanas na casa da vizinha, até que eles conseguissem contato com algum parente próximo. Mas ninguém me queria, eu tinha só 8 anos na época e havia sido rejeitada por todos que deviam me amar, a esposa e o vizinho tiveram que chantagear os dois para conseguir meus documentos e que eles passarem minha guarda, o José não era de uma família muito certo, sabe? - Falo e ele concorda. - Nessa época eu não estudava, o pouco que sabia era porque as crianças com quem eu brincava iam pra escola e sempre me ensinavam e a Antônia também. Quando tudo isso aconteceu veio à tona que nem registrada eu estava, eu não tinha documentos e não eu nunca havia comemorado um aniversário, nem sabia o que era isso. - Digo suspirando fundo. - Lembro que foi uma confusão, mas Antônia e José conseguiram me registrar como filha deles, foi a primeira coisa que li na vida sabia? O nome deles. - Digo sorrindo. - A minha genitora, tinha um documento guardado da maternidade onde nasci, com a data e o horário, assim a Antônia conseguiu me registrar como filha dela, e eu finalmente tinha um nome. Os meus genitores me chamavam apenas de Maria, e quando Mãe Antônia foi me registrar ela colocou meu nome de Yara - Sorri - Yara Almeida, igual eles.

- Temos o mesmo sobrenome - Diz rindo - Tenho Almeida também é bom que quando casarmos nossos nomes ficaram idênticos - Diz sorrindo e eu sinto borboletas no estômago e o abraço.

- Eu vim pro Rio e passamos alguns anos bem, até mais ou menos os meus 12 anos. Morávamos próximo a mãe da Antônia, mas teve um dia que tudo mudou. Meu pai tava cobrando a um cara, algo sobre uma casa que ele tinha vendido, e o cara pediu pra ele esperar até o próximo fim de semana pra pagar, e meu pai disse que não poderia esperar mais e o homem não gostou da resposta, espero que meu pai estivesse só em casa e matou ele, minha mãe tava chegando em casa e viu tudo então ele a matou também. Eu estava na escola a vó foi me buscar e eu lembro de ter estranhado muito, mas eu amava está com ela. Fomos pra casa dela e ela me contou o que tinha acontecido, lembro de ter chorado por horas no colo dela e que na minha cabeça só passava que eu perderia todos que pudessem me amar minimamente. - Choro de soluçar, puxo o ar com força e Gabriel faz um carinho em minhas costas me acalmando. - E eu comecei a me excluir de viver no meu mundinho particular sozinha por conta do medo de perder as pessoas. - Mas não adiantou nada porque a única pessoa que ainda me amava morreu 5 anos depois. - Digo levantando e começando a andar pelo quarto.

- Vem cá amor - Balanço a cabeça negativamente - Vem preta. - Diz esticando o braço até mim seguro sua mão forte. E ele me envolve em um abraço apertado.

- Vó Margarida foi diagnosticada com alzheimer quando eu tinha 15 anos, estava no início do ensino médio, em uma escola de formação de professores, ela precisou parar de trabalhar e começamos a sobreviver de um dinheiro que tive direito pela morte dos meus pais, o seguro de vida deles me pagariam até os 25 anos. Eles eram envolvidos com algo na prefeitura quando estávamos em minas e quando mudamos pra cá começaram a exercer a profissão deles e Antônia era professora de português e José corretor de imóveis. Algo sobre o tempo que prestaram de serviço a prefeitura da nossa cidade, me deu essa segurança. Desde a morte deles minha avó nunca usou o dinheiro pra nada, estava parado em uma conta minha. Mas com ela doente e sem poder trabalhar, a aposentadoria por doença demoraria muito, então comecei a usar o dinheiro pra cuidar dela. - Digo ainda abraçada a ele. - Foi complicado conciliar a doença dela com a escola, mas consegui. Durante o dia, uma moça cuidava dela pra que eu estudasse. - Respiro fundo. - No final do 3 ano, quando eu tinha 17 anos vovó morreu. Ela estava internada porque já vinha mal a alguns dias, eu acordei pela manhã e ela tava gelada estranhei e chamei os médicos mas já era tarde. Ela havia morrido dormindo. - Soluço. - Não tive ninguém comigo na minha formatura, após a cerimônia voltei pra casa vazia da minha avó e virei a madrugada chorando me perguntando o que faria da vida e que mal eu fiz pra merecer tanta dor. No outro dia acordei decidida a ir embora pra bem longe, havia feito Enem naquele ano poderia tentar alguma faculdade em outro estado. Arrumei tudo e fui embora, deixando apenas uma placa de vende-se nas duas casas e o meu contato. Passei as duas primeiras semana em São Paulo, trancada no hotel. Voltei pro rio e fechei a venda das casas e me mudei pra Pernambuco, ficando quando 2 meses em um hotel. Quando o Sisu abriu tentei a faculdade federal de lá e consegui, procurei uma república estudantil e fiquei lá durante os 4 anos da graduação de história. Logo assim que mudei eu decidi que não gastaria dinheiro com besteira, teria mais 7 anos tendo mensalmente uma ajuda dos meus pais e o dinheiro da venda das casas. E assim eu fiz, quando acabou tudo eu voltei pro Rio, fui morar em uma kitnet na cidade de Deus. Foi quando conheci Ana e João que são meus anjos e desde então me tratam como filha. Não mantive amizades, tinha medo de irem embora também, já que todos que cruzam comigo ou me odeiam ou morre. - Digo com pesar

- Ei, você não mereceu nada disso, isso é um fato. Não fala como se fosse culpa sua amor, os fatos infelizmente aconteceram com você, mas não é sua culpa.

- Eu só tenho medo, tive medo naquela noite que ficamos e senti essas mesmas borboletas que estão aqui agora, por isso não te procurei. Não queria me entregar e viver algo e depois te ver indo embora, eu não aguento mais perder pessoas. Dói muito - Digo me afastando dele e sentando na cama, ainda estávamos agarrados.

- Você é forte Ya, um fortaleza. Eu não aguentaria metade do que você aguentou e está aqui de pé. - Diz vindo até mim e dando um beijo na minha testa e sentando ao meu lado.

- Eu senti medo quando soube da Jo, lembro que foi a primeira vez em anos que pedi algo a Deus. Eu pedi que ele não tirasse de mim a única pessoa que eu tinha depois de tantos anos, desde que nasci até os 26 eu só senti em grande parte a dor, foram poucos anos desses 26 que senti amor e nunca havia me sentindo completa, não até o momento em que eu descobri a existência dela. - Respiro fundo - Eu só quero ser feliz Gabriel, eu só quero merecer ser feliz. - Digo olhando nos seus olhos.

- Eu te prometo do fundo do meu coração Yara e por toda a fé que tenho, que vou te fazer feliz. Nós vamos ser feliz com nossa família. Eu, você e nossa pequena. Eu te prometo, que vou ter como meta diariamente fazer você e ela as pessoas mais felizes desse mundo. Eu quero vocês comigo, assim como estamos hoje, sei que é rápido, mas é o que eu sinto. E eu sinto que minha missão de vida é essa, cuidar e amar vocês duas e os próximos que tivermos. - Diz olhando nos meus olhos, vejo algumas lágrimas escorrer por seus olhos. Nunca havia visto tanta sinceridade através dos olhos de alguém. O abraço.

- Nós vamos ficar bem? Promete pra mim Gabriel, eu preciso disso. Preciso saber que você vai estar aqui. - Pergunto a ele, olhando em seu olhos mais uma vez.

- Nós vamos ficar bem Ya, vamos lutar por isso! Eu não vou a lugar nenhum e se for só se vocês vierem junto - Diz me beijando.

ACASO || GABIGOLWhere stories live. Discover now