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" Olhos suplicantes que partem meu coração
Com tanta saudade de casa que não posso sentir
Mas eu sei que devo interpretar meu papel
E devo esconder as lágrimas
B

irdy - just a game."

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A intensidade da chuva lá fora aumentava a cada momento. Mareane insistia que eles deveriam passar a noite ali, garantindo que Antonnie levaria as crianças para a escola na manhã seguinte. Com poucas alternativas, acabou por ter que concordar.

Agora, Zayyan pulava com Jacob no colchão que colocaram no chão. A menina, por sua vez, não conseguia desviar o olhar do relógio; apenas uma hora para a meia noite, sua mente completamente imersa nesse tormento.

― Martinne? Martinne...? ― alguém a cutucou, tirando-a do transe. Era Erick, fitando-a com expressão preocupada. ― Você está bem?

― Estou sim... ― sorriu para o irmão, bagunçando seu cabelo loiro. ― Acho melhor irmos dormir; amanhã vocês têm aula. ― a garota levantou-se, fazendo Zayyan e Jacob se sentarem cansados.

― Concordo. ― O garoto piscou para a menina, que riu em resposta.

Erick e Jacob se acomodaram no colchão, enquanto ela apagava as luzes, optando por deitar como os irmãos. Quando a sala se encheu apenas com a respiração pesada do irmão mais novo, ela levantou, colocou seu casaco, verificou se estava livre e saiu. O vento da noite gelada bateu contra Austin, fazendo os pelos de seu corpo se arrepiarem.

Ela caminhou pelo terreno molhado, os pingos da chuva fria tocando sua pele já encharcada. Cada passo era um desafio, especialmente com a perna machucada. Os galhos das árvores balançavam ao ritmo da ventania, criando sombras dançantes que aumentavam a sensação de isolamento.

Chegando à bicicleta de Zayyan, Austin lançou um olhar hesitante ao redor, como se estivesse compartilhando um segredo com a noite. Soltou a bicicleta da corda que a prendia, sentindo a textura úmida do guidão em suas mãos. Subiu na bicicleta, pedalando com certa dificuldade através da chuva que continuava a cair incansavelmente.

O vento contra seu rosto, combinado com as gotas geladas, criava uma sensação de liberdade misturada com a crueza da noite. Seu cabelo, agora uma cascata molhada, voava ao ritmo do pedal.

[...]

Ao chegar à cabana, Martinne abandonou a bicicleta em um canto da casa. Assim que atravessou a soleira da cabana, soltou um suspiro de alívio, sentindo-se abrigada da chuva persistente. Seu passo apressado a levou diretamente à lareira posicionada ao lado da televisão.

Num impulso, começou a vasculhar os balcões em busca de algo que pudesse acender. Cada gaveta aberta era uma pequena esperança, enquanto suas roupas encharcadas respingavam água pelo chão da cozinha e da sala. O frio cortante penetrava até os ossos, como se desafiasse a chegada do calor reconfortante.

O coração de Austin quase dançou de alegria ao deparar-se com uma pequena caixa de fósforos. Sem perder tempo, ela correu até lá, suas mãos ágeis abrindo a caixa e, com destreza, acendeu o fogo na lareira. As chamas dançaram, iluminando o ambiente e dissipando a escuridão que antes predominava.

Despiu-se da maioria de suas roupas e dirigiu-se ao quarto em busca de cobertores. O ponteiro do relógio teimava em apontar para as vinte e três e trinta, evidenciando a longa noite. A travessia pelo mato foi particularmente desafiadora, com a ventania derrubando algumas árvores. Martinne estava marcada por arranhões dolorosos, e seu pé latejava incessantemente. Em vários momentos, ela quase perdeu o equilíbrio, pois seu pé parecia querer desistir.

Vermelho: a cor do sangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora