15: Caixa do Tempo

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Eu, Devon e Despertador olhávamos para o sobrado de classe média com calçada de pedra, uma das poucas coisas que o diferenciava das outras casas ao redor, tão iguais.

Era noite de lua cheia, e eu via a energia maligna de Kolshö escorrendo em direção à terra, esverdeada em tom venenoso. Tínhamos apenas até a meia-noite. Aproximadamente uma hora.

Eu e Devon fizemos pedra-papel-tesoura para ver quem tocaria a campainha da casa do meu professor de Geometria. E eu perdi. Droga! Eu devia saber que sempre perco em pedra-papel-tesoura...

Respirei fundo enquanto tocava a campainha, e acho que nunca levei um susto tão grande como quando meu professor abriu o portão menor de repente.

− Stacy? – ele parecia muito surpreso. Olhou para Devon e então para Despertador, que, sem cerimônias, abriu caminho para entrar na garagem, ameaçando Aaron com os espinhos da cauda. Eu aproveitei e entrei atrás da minha Mantícora. E Devon entrou logo depois de mim.

Ele trancou o portão e então olhou para a gente, um tanto assustado talvez.

− Então, professor... Acho que está na hora de explicar algumas coisas... – eu disse, calma, sorrindo um pouco. Ele se acalmou e sorriu também. Talvez percebendo que tínhamos ido apenas para conversar. Sem brigas.

− Sabia que uma hora você ia descobrir... Como? – ele perguntou, estendendo os braços em sinal para que a gente entrasse.

− Uma visão... Fadas as têm às vezes... – eu disse a verdade. Para que mentir? Afinal, assim como gosto que me falem a verdade, também detesto mentir.

Ele sorriu, e antes de falar, pediu que nos acomodássemos no sofá vermelho. Despertador deitou perto da porta, balançando o rabo de um jeito felino e ameaçador. Parecia estar vigiando para que ninguém entrasse e nos atacasse. Eu já tinha percebido que ele tinha esse costume... Vovó disse que é o instinto de proteção.

Aaron puxou uma cadeira da mesa de jantar e sentou de frente para nós.

− Bem... Podem perguntar. – ele abriu os braços, com um tom de voz de quem não tem nada à esconder.

Eu olhei para Devon, insegura. Eu contara o sonho que tivera e tínhamos discutido muito se devíamos ou não vir ver o professor. E, quando decidimos que sim, que viríamos, foi outra briga para decidir o que perguntar. E no final, não tínhamos chegado num consenso de o que perguntar. É, com a gente é sempre assim... Discutimos muito e raramente chegamos num acordo.

Respirei fundo antes de começar.

− Por que me deu esses brincos? – eu perguntei, apontando para os brincos em minhas orelhas.

Meu professor riu.

− Quem disse que eu lhe dei esses brincos? – ele perguntou, colocando as mãos atrás da cabeça e ficando mais relaxado na cadeira, como que querendo comprovar que eu realmente tivera uma visão. Como que me desafiando a prova.

Eu suspirei antes de responder, mas querendo ter deixado aquele assunto pra depois. Sério. Eu tinha ideia de como ele se sentiria se eu mencionasse a menina.

− Na minha visão, uma criança de cabelos claros, olhos vermelho-rubi e orelhas pontudas usava-os. – vi meu professor prender a respiração, os olhos marejados. Mas ele fez força para não deixar aquelas lágrimas caírem. E a sua postura mudou, para algo como se eu já tivesse dado provas suficientes.

− Ana Clara... – ele murmurou, cruzando os braços e deixando a cabeça cair para frente, o cabelo cobrindo seu rosto. Droga! Eu queria deixar isso pro final! Não suporto ver gente chorando! Me sinto compelida a consolar – mau de Fada querer ajudar os outros... Ok, não mau, mas que é um saco dependendo da situação, é... Droga!

Teorias de Conspiração - O Sangue dos Antigos IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora