Procura-se marido

PRÓLOGO

__ Flight 218 to Brazil, departing at 3 pm at gate B. Check-in must be done two hours before the flight. I repeat: flight 218 to Brazil, departs at 3 pm at gate B. Check-in must be done two hours before the flight. Voo 218 com destino a Brasil, saída às quinze horas no portão B. O check-in deve ser feito duas horas antes do voo. Repito: voo 218 com destino a Brasil, saída às quinze horas no portão B. O check-in deve ser feito duas horas antes do voo.

O anuncio soava no saguão do aeroporto. O Aeroporto Internacional Pierre Elliott Trudeau estava lotado naquela sexta feira 11 de Marco de 2020. Crianças correndo, passageiros puxando malas e bagagens, mascotes sentadas nas suas almofadas no colo dos seus donos, comissários de bordo juntamente com o capitão uniformizados se dirigiam às suas aeronaves, lanchonetes cheias e uma jovem de pele clara cor de âmbar, de cabelos castanhos ondulados e grandes, olhos entre cor de mel e esverdeados observava atentamente o painel da empresa aérea em que viajaria. Vestida com um vestido preto, luvas e sapatos da mesma cor, levava um lenço aos olhos cada vez que uma gota de lagrima surgia em seus olhos. Uma criança que estava sentada ao seu lado na sala de espera olhou para ela e sorriu mostrando os seus brancos dentes e lhe estendeu a mão oferecendo-lhe um caramelo. Celeste sorriu, recebeu o caramelo com tremor nas mãos e agradeceu com um obrigado, apenas movendo a boca sem emitir nenhum som.

Tinha saído recentemente de um velório e a dor ainda era latente. Podia sentir o cheiro das flores de margaridas, típicas dos velórios, o cheiro de velas queimando e derretendo-se e olhou para as mãos ainda sentindo o calor dos apertos de mãos dos que tinham ido dar os pêsames pela perda. A única tia e única irmã que a mãe tinha, não mais fazia parte deste mundo. Podia sentir a dor da solidão ao qual a mãe estaria enfrentando sozinha; sem pai, sem ninguém. Ela era a única família que a mãe possuía. Levantou-se e se dirigiu ao toalete, tinha que lavar o rosto e retocar a maquiagem. O único momento que necessitaria esconder as olheiras, porque antes, nunca precisou de nada daquilo.

Ao sair da toalete e se dirigir a sala de espera colidiu com um homem que passava apressado em direção contrária. O golpe no ombro a fez se bater na parede e ao voltar-se para ver quem era, o sujeito já ia longe.

__ Merda! __ praguejou friccionando o ombro dolorido. Olhando uma vez mais em direção aonde o homem tinha ido __ Estúpido, nem sequer teve a coragem de pedir desculpas.

Voltou para o assento em que estivera antes e ao sentar-se uma recepcionista da empresa aérea em que viajaria se aproximou e pediu para falar em particular. Ela a acompanhou até uma sala vazia e a recepcionista pediu o favor de ceder o lugar para uma senhora que necessitava urgentemente viajar no próximo voo e se ela pudesse ajudar seria muito bom. Celeste desejava tão somente chegar à casa e descansar, o dia tinha sido muito cansativo. Disse à moca que pensaria, mas ela necessitava de uma resposta urgente, assim que cedeu a passagem e a companhia reservou um assento na primeira classe para viajar duas horas depois, o único voo disponível naquele dia, ou teria que esperar o dia seguinte, algo que não estava nos seus planos. Levaram-na até a sala de espera dos passageiros da primeira classe e ao colocar os pés dentro da sala todos os olhares se voltaram para ela. Sentiu-se envergonhada pela roupa simples e ainda por cima de velório, algo que estava na cara que todos ali perceberam. Caminhou até um sofá vazio e sentou-se, pegou a bolsa, retirou alguns documentos e colocou-a em uma mesinha ao lado do sofá, fechou os olhos e esperou. Seria uma longa espera, mas não tinha nada para fazer a não ser esperar, e adormeceu. Dormia profundamente até que uma aeromoça tocou em seu ombro despertando-a.